Durante quase dois anos, forças ocultas e frondosos laranjais agiram nas sombras para evitar que o Paraná ganhasse novos terminais portuários a serem construídos e explorados pela iniciativa privada. Pelo menos sete ações na Justiça tentaram impedir que novos investidores viessem a competir com o único porto privado que opera, desde o governo Lerner, no transporte de veículos e cargas de contêineres.
Nem pajelanças foram dispensadas: tribos indígenas foram recrutadas para ingressar com medidas protelatórias, assim como, paradoxalmente, a Associação Comercial e Industrial de Paranaguá – entidade de defesa da atividade privada –agiu contra a abertura de áreas para novos investimentos.
Um decreto assinado pela presidente Dilma Roussef na última quinta-feira (11), porém, deu fim à brincadeira. Após reunião com o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Dividino Neto, o deputado Ricardo Barros (PP) e dois senadores de oposição ao governo paranaense (Roberto Requião e Gleisi Hoffmann), o ministro dos Portos, Helder Barbalho, bateu o martelo. Acatou o plano da Appa que mudava a poligonal, concluído há três anos, e abriu milhões de metros do Litoral onde investidores poderão instalar novos terminais.
Calcula-se em R$ 4 bilhões os investimentos esperados para os próximos anos. Pelo menos duas iniciativas estão em fase avançada de projetos. O mais antigo é o Pontal do Poço, na entrada da Baía de Paranaguá, capaz de receber navios do tamanho dos modernos “panamax”, que chegam a carregar 11 mil contêineres. Outro empreendimento fica na área do Embocuí, que também se especializará em cargas conteinerizadas. Ainda assim sobram outras áreas para novos eventuais interessados.
Embora com atraso em relação a Santa Catarina, Santos (SP), Pará e Maranhão, enfim o Paraná inaugura sua participação na nova Lei dos Portos, sancionada em 2013. Para quem só recebe notícias ruins, essa é uma boa para os paranaenses.
Tomou o destino esperado o Inquérito Policial Militar instaurado para apurar responsabilidades pela tragédia de 29 de abril no Centro Cívico: o arquivo morto, sem direito a epitáfio. Durante cinco meses, milhares de horas de imagens gravadas e quase meio milhar de depoimentos, os investigadores não conseguiram identificar cenas, situações, comandantes ou soldados rasos que aparentassem (ou terem sido responsáveis) fazer uso excessivo de força contra os manifestantes.
Logicamente, os 213 civis feridos na batalha pelas bombas, cassetetes e balas de borracha não concordam com a recomendação pelo arquivamento do inquérito. Ou, depois disso, passaram a acreditar que tudo foi obra do sobrenatural – só pode ser. O único personagem bem identificado foi o cachorro que tirou lascas de carne da perna de um cinegrafista e do pulso de um deputado. Mas como cães são inimputáveis, o protagonista das mordidas não será levado a julgamento.
A semana deve começar quente na Assembleia Legislativa: pelo menos 11 deputados de oposição já se comprometeram a assinar requerimento para instaurar a CPI do Quadro Negro – para acompanhar e aprofundar a operação que descobriu que a construtora Valor recebia adiantado do governo para não construir escolas. Faltam oito assinaturas para completar o mínimo necessário para a tramitação do requerimento. A bancada governista já tem discurso pronto contra a CPI: a Secretaria da Educação instituiu comissão processante, a Polícia Civil investigou e o Gaeco também. Então, por que a Assembleia tem de se meter neste vespeiro? Ou, em outras palavras, por que a Assembleia deve cumprir sua obrigação constitucional de fiscalizar o Executivo?