Se a eleição fosse hoje, o prefeito Gustavo Fruet deixaria de ser prefeito. Ponto. Acontece que pesquisa dois anos antes de uma eleição não merece ponto, merece reticências, tais são as variáveis políticas que surgirão no intervalo entre o agora e o dia dois de outubro de 2016. Não significa que tais variáveis venham a favorecer a reeleição de Fruet, mas também pode acontecer que, até lá, seus adversários atuais já nem sejam os mesmos ou já não estejam tão fortes quanto parecem neste momento.
Nada cinzento 1
Se alguém duvidava do pragmatismo de Ágide Meneguete, não precisa duvidar mais. Presidente há 20 anos da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e líder do agronegócio paranaense, ele foi taxativo ao tomar posse no seu quinto mandato, na terça-feira, ao desafiar o governo estadual a encontrar solução rápida para baixar as tarifas de pedágio e duplicar o Anel de Integração.
Nada cinzento 2
O pragmatismo está expresso nesta frase textual: “Não importa que seja necessário ampliar o prazo de concessão por 10 ou 20 anos; pouco importa quem é a concessionária, desde que cumpra o contrato e seja rigorosamente fiscalizada pela Agência Reguladora do Paraná, a Agepar”. O discurso contraria todas as teses que unanimemente, de A a Z, embarcaram (em 50 tons de cinza) na ideia central do “baixa ou acaba”.
É certo que, passados dois anos de mandato, Fruet corroeu grande parte do seu patrimônio político. Por mais justificativas que apresente – e uma delas é a babilônica dívida que herdou do antecessor –, sua administração não vem sendo percebida como eficiente pela população. Não se trata apenas de um problema de marketing. Outros fizeram menos ou fizeram pior, mas o marketing deu um jeito de maquiar a incompetência e garantir reeleições de quem não merecia.
Vamos aos números aferidos pela Paraná Pesquisas publicados terça e quarta-feira por esta Gazeta. Na terça, a sondagem mostrou que em dezembro de 2014 Gustavo era desaprovado por 50% da população e que em menos de três meses a desaprovação saltou para 65%. Na quarta-feira, quando a Paraná Pesquisas mediu a intenção de voto, o prefeito apareceu com uma taxa de preferência de apenas 12,7% dos eleitores, cinco pontos a menos do que em dezembro do ano passado, sem chance de reeleição.
Nas duas pesquisas eleitorais mais recentes, seu maior adversário permaneceu na primeira posição do ranking: Ratinho Jr. (PSC) apareceu na pesquisa desta semana com 26% – isto é, mais que o dobro do que o obtido pelo prefeito. Entretanto, em dezembro, Ratinho detinha impressionantes 38% – porcentual quase idêntico aos votos que conquistou como candidato a prefeito em 2012.
Mas, então, observem como as reticências funcionam: a queda de Ratinho no período foi proporcionalmente maior do que a sofrida por Fruet. Enquanto o prefeito perdeu um quarto do eleitorado, Ratinho perdeu um terço. Com um detalhe: a gordura eleitoral perdida por Ratinho, deputado de 300 mil votos e atual secretário do governo Richa, migrou para virtuais candidatos oposicionistas, dentre os quais o deputado Requião Filho (PMDB), que cravou 11%, terceiro lugar, mas colado a Fruet.
Se a queda de Fruet se deve em parte à frustração das expectativas em relação à sua administração, deve-se também a alguns fatores recentes que mexeram muito com o cotidiano do povo: greve de ônibus, aumento da passagem e desintegração do transporte metropolitano. O prefeito tem pouco tempo para se recuperar, mas sua tarefa pode ser mais fácil de ser enfrentada do que os percalços a serem vencidos por Ratinho. Ele caiu em razão de forças inerciais e vencê-las não depende só dele.
Aliado e participante da gestão Richa, seu prestígio acabou puxado para o mesmo precipício em que o governo estadual se jogou, porém com um adendo: presidente do PSC, maior bancada na Assembleia, ele orientou seus 12 deputados a votar “com a consciência” quando colocado em pauta o pacotaço de maldades que provocou a desgastante greve do professorado. Por isso, dez dos 12 parlamentares de Ratinho tiveram de embarcar no vergonhoso camburão para fugir dos manifestantes.
Despegar-se dessa marca exigirá de Ratinho força de Hércules nestes dois anos que faltam para a eleição. Mas ele não é a única vítima da derrocada do governo Richa: outros aliados citados como prováveis candidatos, como o ex-prefeito Luciano Ducci, também experimentaram queda expressiva. Já os de oposição, como Requião Filho, cresceram.
Embora importantes retratos do momento, as pesquisas desta semana definitivamente não servem como fotografia do futuro – mesmo destino que tomaram as sondagens de dezembro passado: não passavam de reticências.
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