Quando o assunto é o esgoto interno, a Sanepar se esmera. Agora sobe pelo bueiro o cheiro de uma acusação de assédio sexual dentro da empresa. O odor já foi sentido no 3.º andar do Palácio Iguaçu e se espalha por outras salas poderosas do governo. O caso rendeu uma sindicância instaurada pela Casa Civil e também foi parar na Justiça, onde uma interpelação intima o ouvidor-geral do estado, Luiz Carlos Delazari, e seu filho Luiz Fernando Delazari, secretário subjudice de Segurança, para que provem a acusação de assédio que fizeram contra o diretor jurídico da Sanepar, Rogério Distéfano. Diz-se vítima do suposto assédio a advogada Flávia Mazur, ex-subordinada de Distéfano e amiga da família Delazari.
Tudo teria começado segundo descrevem documentos cuja autenticidade foi conferida pela coluna quando o diretor jurídico pediu, no ano passado, que a advogada fosse demitida dos quadros da companhia por ter feito acordos judiciais que, supostamente, causaram prejuízos à Sanepar. Afastada provisoriamente das funções enquanto se procediam averiguações internas, o ouvidor-geral e o secretário pediram à diretoria da empresa para que Flávia Mazur fosse colocada à disposição da Ouvidoria ou da secretaria de Segurança. Entre outros argumentos, teriam alegado que a advogada era afilhada de um e amiga de infância de outro. O pedido foi negado, por ilegal, pelo diretor jurídico, mas o presidente da Sanepar, Stênio Jacob, acabou por ceder ao apelo.
Ao tomar conhecimento da disposição funcional da advogada para outra repartição do governo, o procurador-geral do estado, Sérgio Botto de Lacerda, cobrou explicações de ambos os Delazari (pai e filho), na presença do governador, durante uma reunião da "escolinha de governo", no fim de janeiro. Com os ânimos exaltados e a despeito do constrangimento de Requião diante de uma cena que desandava para o pugilato com Sérgio Botto, o ouvidor Luiz Carlos Delazari deu como causa da proteção que dispensava a Flávia Mazur ser ela vítima de assédio sexual por parte de Rogério Distéfano.
Distéfano protocolou, então, no Tribunal de Justiça, uma interpelação na qual intima o ouvidor a provar sua denúncia. O ouvidor, por sua vez, reagiu pedindo à Casa Civil a instituição de uma sindicância (Resolução 72) para apurar já não o caso de assédio mas "eventuais dissensões" entre Distéfano e Flávia Mazur.
Essa briga ainda vai longe. No meio dela, cabeças vão rolar.
Olho vivo
No furacão 1 O procurador-geral da Justiça, Mílton Riquelme, voltou a ficar no olho do furacão, semana passada, por duas questões polêmicas. Uma, por agir certo: indeferiu o pedido de licença por dois anos do secretário de Segurança, Luiz Fernando Delazari, dos quadros de promotor do Ministério Público Estadual. Outra, por agir errado ao tentar justificar a lentidão do MP em tomar providências contra o nepotismo no âmbito do Executivo estadual.
No furacão 2 No primeiro caso, cumpriu a letra fria da Lei Orgânica do Ministério Público que veda aos promotores o exercício de cargos no Executivo. A Justiça entendeu diferente e concedeu liminarmente a licença pedida por Delazari. Riquelme terá agora de se esforçar para derrubar a liminar do TJ se quiser provar que não fez jogo de cena para, no fundo, ajudar Delazari.
No furacão 3 Errou o procurador de Justiça ao defender o indefensável no caso das acusações de lentidão no combate ao nepotismo no governo estadual que pesam sobre o órgão que dirige. Entrou numa polêmica com o presidente do PPS paranaense, Rubens Bueno, em que só tem a perder.
Ligação perigosa 1 O prefeito Beto Richa tem até amanhã a oportunidade de provar que não está mais alinhado ao ex-deputado Hermas Brandão na disputa pela liderança do PSDB estadual. Beto estava disposto a nomear secretário municipal o 1.º suplente de deputado Rui Hara. Com isso, garantiria a volta à Assembléia do tucano de "bico vermelho" Miltinho Puppio, 2.º suplente, amigo de Hermas.
Ligação perigosa 2 A manobra não é do agrado do grupo tucano que quer alijar do partido os membros que preferem gravitar em torno do Palácio Iguaçu. Desde a radicalização de sua briga com Requião, Beto se aproximou mais do grupo de oposição e pode provar isso não nomeando Rui Hara seu secretário.
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