Olho vivo
Testemunhas da reunião entre Fruet e Lula relataram à coluna os detalhes que faltaram às notícias publicadas desde quinta-feira. Segundo contaram:
Lula orientou Gustavo e Paulo Bernardo a construírem um programa de governo alinhado com os programas federais visando a garantir previamente investimentos da União em Curitiba.
Sugeriu que o programa de governo apresente soluções para a questão da mobilidade, da segurança e do combate às drogas e de caminhos que aumentem o acolhimento, a qualidade na relação entre os profissionais de saúde e o público, melhorando as condições de trabalho desses profissionais.
Lula aposta que a aliança em Curitiba permitirá não só crescimento do PT na capital, mas a construção de um bloco de aliados em todo o Paraná com vistas a 2014.
Disse que estará presente na campanha, seja fisicamente ou por meio da tevê. Orientou os presentes a pensarem na melhor forma de sua participação.
Perguntou sobre como está o debate sobre o vice e foi informado sobre a recusa do deputado Angelo Vanhoni de assumir a posição. O vice, disse Paulo Bernardo a Lula, será escolhido após debate interno no PT.
Entre as amenidades da conversa, uma confissão do ex-presidente: ainda não sabe se deixará a barba sua marca registrada crescer novamente. Devido ao tratamento, a barba está nascendo diferente e, se for assim, prefere ficar sem ela.
Conseguir a qualidade de "descer redondo", decantada no slogan de uma marca de cerveja, foi a tarefa a que dedicaram nos últimos meses o pedetista Gustavo Fruet e o ministro Paulo Bernardo, o articulador que levou o PT a adotá-lo como seu candidato a prefeito de Curitiba.
Superada a resistência de boa parte da militância petista, que desejava lançar candidato próprio, a outra tarefa destinada a "arredondar" a aliança foi cumprida na última quinta-feira, quando Fruet se reuniu em São Paulo com Lula. A casual presença de Pelé, o rei da bola, em parte do encontro, serviu simbolicamente para mostrar que, política e eleitoralmente, foram arredondadas as arestas que diziam existir entre o ex-presidente e o ex-deputado tucano Gustavo Fruet, crítico feroz no Congresso ao governo petista.
Os que apostavam que Lula, dominado ainda por insuperável mágoa, nem sequer aceitaria conversar com Fruet, se obrigam agora a rever a antiga opinião. O encontro tratou de sepultar a dúvida: o ex-presidente não só abençoou o apoio do PT ao ex-adversário Fruet como informou que participará ativamente da campanha ao vivo se a saúde lhe permitir ou, no mínimo, em aparições na tevê. E bola pra frente, disse ele.
As consequências do apoio agora explícito não são pequenas. A primeira delas é que se deu mais um passo para o apaziguamento das tensões internas do PT. Outra, mais importante, é a de tornar ainda mais clara a distância que separa os dois principais grupos políticos que disputam a eleição curitibana o do situacionismo liderado pelo governador Beto Richa, e o da oposição, representado pelos que se alinham à esfera PT/PDT e que tem, entre seus líderes mais proeminentes, além de Osmar Dias e Gustavo Fruet pelo PDT, os ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann pelo PT.
É um jogo que se projeta no tempo a eleição que ocorrerá daqui a dois anos para a Presidência e para o governo estadual, quando, outra vez, esses dois grupos deverão se confrontar. Quem conquistar a prefeitura de Curitiba em 2012 estará colocando a bola na linha do pênalti para marcar gol em 2014. Vem daí o esforço de Beto Richa, candidato à reeleição, para garantir que o aliado Luciano Ducci permaneça no comando do principal colégio eleitoral paranaense, detentor de decisivos 30% do total de votantes.
E vem daí também o esforço do PT para ter na prefeitura um aliado para facilitar o projeto petista de reeleger Dilma Rousseff (ou Lula de novo?) e de assumir o Palácio Iguaçu tendo como postulante a ministra Gleisi Hoffmann (ou Paulo Bernardo?).
Trazer o prestígio de Lula para o embate curitibano e paranaense serve a tais propósitos. E o encontro de Gustavo Fruet com o ex-presidente fez parte de tal estratégia.
Depois de desanuviado o suposto clima de mal-estar com Lula, Fruet precisa dar ainda um outro passo: convencer seu tradicional eleitorado de classe média, arredio ao PT, a não lhe negar voto em razão da aliança que fez. Ele já dispõe de dados que o tranquilizam em relação a isso, mas sabe que será neste ponto que as campanhas adversárias concentrarão crítica perigosa. Se for convincente nas explicações, terá atingido a qualidade decantada pela cerveja.
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