Em casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão. É mais ou menos assim que está transcorrendo a polêmica em torno do destino a ser dado aos moradores de rua de Curitiba.
De um lado, os empresários, donos de lojas e bares, que reclamam da presença (e da sujeira) deles em frente aos estabelecimentos. De outro, a primeira-dama do município e presidente da Fundação de Ação Social (FAS), Marcia Fruet, que se recusa a adotar a política que ela classifica como “higienista” defendida pelos empresários, mas também não apresenta propostas consistentes para o enfrentamento do problema que, antes de tudo, é social.
O mérito dos revoltados empresários que pedem providências ao poder público, sugerindo até o uso da força para tirar os mendigos da rua, foi o de levantar e colocar em debate um tema candente. Erraram ao servir-se de argumentos politicamente incorretos, acreditando que pobreza, alcoolismo, drogas e opção por morar nas ruas sejam um problema a ser tratado pela polícia.
Já à sra. Fruet não se deve negar ser possuidora de coragem verbal inversamente proporcional ao esforço de seu marido, Gustavo Fruet, para se reeleger. Ela entrou no debate para dizer que não mudará a atual política de atenção aos moradores de rua nem, muito menos, sucumbirá aos “higienistas”, ainda que isso signifique uma derrota eleitoral. Ela está correta nesta última parte, mas faltou-lhe consistência quanto à primeira – pois a atual política a que ela se refere não tem apresentado resultados satisfatórios.
Marcia diz compreender a angústia dos comerciantes que vêem à frente de suas portas e sob suas marquises grupos que ali dormiram sobre colchões sujos, beberam, defecaram e vomitaram. Além da limpeza diária a que se obrigam a fazer, lojistas e baristas dizem sofrer prejuízos porque a cena espanta fregueses.
Mas que inovações propõe a presidente da FAS? Eis as principais, segundo revelou ao repórter Rogério Galindo, desta Gazeta, no último fim de semana:
• instalar guarda-volumes para que, durante o dia, os moradores de rua possam deixar seus pertences;
• cadastrar mendigos para uso de banheiros públicos da Urbs (por enquanto só existe um, na praça Osório);
• distribuir tickets-refeição para almoço grátis no restaurante popular da praça Rui Barbosa.
É pouco, muito pouco – embora não se deva esquecer que a prefeitura ampliou o número de vagas em albergues, no centro e nos bairros. Mas para os quais, legalmente, não pode levar à força os moradores de rua.
Então, como dizíamos que em casa onde falta pão todo mundo briga e ninguém tem razão, por que não ambos os lados pensarem em parcerias? Se nem a prefeitura nem os reclamantes podem fazer tudo sozinhos, seriam também bem-vindas as igrejas e entidades do terceiro setor para estudar e aplicar políticas não para “limpar” as ruas, mas para resgatar o mínimo de dignidade humana dos que a afogaram no álcool e nas drogas.
Não é de hoje que o promotor Misael Duarte Pimenta expõe seu ideário político nas peças processuais que lhe caem às mãos. Ele atua já há bastante tempo na Auditoria Militar e costuma opinar sobre os grupos com os quais, eventualmente, a Polícia Militar entra em confronto. Em 2000, por exemplo, quando num embate na BR-277 o tiro de um soldado matou um dos sem-terra que marchavam para Curitiba, definiu o MST como “uma milícia à margem da lei, da moral e da razão”.
Agora, ao pedir o arquivamento do inquérito que apurou a “Batalha do Centro Cívico”, de 29 de abril de 2015, o promotor definiu os eventos como “coisas genuinamente próprias de facções radicais e regimes político-ideológico sectários e corruptos”. Isentar os soldados de culpa porque cumpriam ordens superiores é uma coisa; externar juízos pessoais subjetivos, de natureza política, é ir além das questões jurídicas.
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