Uma carta
A coluna reproduz trechos de carta enviada pelo leitor Gilberto Lara, de Londrina, com sua visão peculiar sobre as eleições deste ano no Paraná:
"É triste ver que um cofre aberto e uma hipotética bala de prata ganharam mais importância que a melhor proposta para governar o Paraná. Há quanto tempo não temos um governador com o cacoete de estadista. (...) Ninguém fala que o estado não tem um plano aeroviário, ninguém diz como potencializar o Porto de Pontal, ninguém diz o que vai fazer com a indigente Ferroeste, e ninguém diz coisa com coisa quando o assunto é pedágio. Isso na infraestrutura. Imagine na educação, segurança, no fundamental setor de planejamento, e nas outras áreas que formam um governo. (...) Que saudades dos showmícios. A gente podia não gostar dos candidatos, mas tinha artista para ver."
A quarta pesquisa Datafolha/RPCTV*, divulgada na sexta-feira, veio apenas para confirmar a calmaria em que navegam as candidaturas ao governo do estado. Os três primeiros colocados mantiveram-se absolutamente estáveis em relação às sondagens mais recentes. Nem mesmo a margem de erro de três pontos porcentuais foi alcançada: Beto Richa, que marcava o índice de 44% há dez dias, subiu agora para 45%, enquanto que Roberto Requião e Gleisi Hoffmann mantiveram-se nos mesmos patamares de 30% e 10%, respectivamente.
A calmaria é quase semelhante àquela enfrentada pelo navegador português que, nos fins do século 15, encarregado pelo rei de descobrir um novo caminho marítimo para as Índias, ficou dias à deriva na costa africana por falta de ventos que enfunassem as velas de suas precárias naus e as fizesse contornar o Cabo Verde. Os marujos já não suportavam o sol que lhes fritava o coco e temiam pela falta de comida que estava acabando.
Pois é isto: faltam ventos novos e mais fortes na campanha de 2014 para mudar o curso da história já contada por todas as pesquisas eleitorais conhecidas até aqui. Embora à frente de todas, a caravela de Richa mantém-se praticamente no mesmo lugar aparentemente, no entanto, inalcançável pelos companheiros que também tentam contornar as adversidades para conquistar o Palácio Iguaçu.
A eleição será no próximo domingo, mas não há previsões meteorológicas que indiquem a possibilidade de ventanias capazes de modificar a velocidade ou o curso das caravelas eleitorais. O que significa que a decisão final dos paranaenses tende a se dar já no primeiro turno. Somadas as intenções favoráveis a Requião, Gleisi e ao único nanico que pontuou 1% (Ogier Buchi), tem-se um total de 41% uma diferença de quatro pontos porcentuais em relação aos 45% cravados por Beto Richa.
Claro que não se deve desconsiderar a margem de erro admitida pelo Datafolha, de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos, mas seria no mínimo um fato inusitado se ela favorecesse apenas os últimos colocados e, inversamente, reduzisse a taxa somente do primeiro. Só mesmo uma misteriosa intervenção do Sobrenatural de Almeida ente criado por Nelson Rodrigues para explicar resultados futebolísticos inexplicáveis para levar a decisão para o segundo turno.
Outra situação que é preciso deixar claro: pesquisas não são infalíveis. Multiplicam-se os exemplos de que erram, e às vezes por larga distância. O último grande exemplo da falibilidade dos institutos deu-se em Curitiba, em 2012. Na última semana antes da eleição, Gustavo Fruet ainda penava um modesto terceiro lugar frente aos adversários Ratinho Jr., em primeiro, e Luciano Ducci, em segundo. A "boca de urna" também errou ao manter Fruet na rabeira. Todavia, o conteúdo das urnas, influenciadas talvez pelo Sobrenatural de Almeida, mostrou outra realidade: Gustavo tirou Ducci do páreo e, no segundo turno, venceu Ratinho Jr. por 60% a 40%.
Requião, que um dia já se disse disposto a se aliar até com o demônio para ganhar uma eleição, promete encarnar o Sobrenatural nesta segunda-feira. A tal "bala de prata" que diz que vai disparar no programa eleitoral tiraria a campanha da calmaria a ponto de provocar um resultado eleitoral contrário a todas as previsões. Como o senador é mais conhecido pelas bravatas do que pelo apego à verdade, o normal é esperar muito pouco dos seus próprios ventos.
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*Metodologia: A pesquisa, encomendada pela RPC TV e pelo jornal Folha de S.Paulo, entrevistou 1.333 eleitores entre os dias 25 e 26 de setembro, em 51 municípios do Paraná. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número PR-00039/2014 e BR-00782/2014.
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