"Curitiba sou eu"
"LEtat cest moi" "O estado sou eu" dizia Luís XIV, o rei Sol que governou a França de 1643 a 1715. Era o tempo dos reis que se atribuíam o caráter de representantes de Deus na Terra e tinham como se de sua propriedade privada fossem os territórios que governavam com poderes absolutos. Portanto, atacar ou criticar uma nação equivalia a atacar e criticar o próprio rei. E vice-versa.
Guarda certa similitude com esse antigo modo de encarar as coisas a declaração do prefeito Luciano Ducci em ato de campanha, anteontem, em Santa Felicidade, conforme notícia distribuída por sua assessoria. Disse ele: "Nossos adversários querem desqualificar Curitiba e todas as suas conquistas, mas não vão conseguir porque a população não permitirá".
Basicamente, Ducci quis dizer que, quando os adversários criticam a sua administração, por ação ou omissão, na verdade estão cometendo o nefasto gesto de criticar a própria cidade, à qual só se pode dispensar o sentimento de orgulho, extensivo, naturalmente, a quem a governa. Logo, à moda de Luís XVI, estaria Ducci querendo afirmar que "La ville cest moi" a cidade sou eu?
Ducci complementou a frase por outra que insinua o que disse o último dos luíses que reinaram na França antes da Bastilha. Disse o prefeito: "Eu reafirmo com vocês meu compromisso em defesa da cidade, com propostas sérias e fundamentadas em planejamento e muito trabalho". Mais ou menos sugerindo o célebre dito de Luís XVI: "après moi, le déluge" depois de mim, o dilúvio. Isto é, se a cidade não puder mais contar com Ducci para defendê-la e administrá-la, sobrevirá o castigo.
O tom vai mudar. Essa é a promessa dos estrategistas de Gustavo Fruet diante dos números negativos que as últimas pesquisas têm atribuído ao candidato do PDT. Os baixos índices que os grandes institutos de pesquisa lhe dão, dizem eles, não "batem" com as sondagens internas da própria campanha bem mais otimistas , mas também demonstram que os ataques movidos pelos adversários conseguiram corroer boa parte da aceitação popular que o candidato gozava tradicionalmente no eleitorado curitibano.
Essas sondagens internas já teriam identificado que o principal fator do desgaste de Gustavo é o trabalho dos adversários em ligá-lo aos envolvidos no mensalão em razão da aliança que formalizou com o PT. O próprio candidato denuncia a campanha de Luciano Ducci (PSB) como fonte dessas acusações, mas reconhece que até agora sua reação tem se concentrado basicamente no plano jurídico, buscando principalmente cercear a distribuição de panfletos (apócrifos ou até mesmo assinados pela coligação que apoia o prefeito).
"São panfletos mentirosos", diz Gustavo. "Chegaram a imprimir um folheto com uma foto minha ao lado de um aliado deles, o ex-vereador [João Cláudio] Derosso, mas esqueceram de informar que aquela foto foi feita no dia em que fui à Câmara pedir o imediato afastamento de Derosso por corrupção." A técnica é a mesma, acrescenta Gustavo: "Falam em ligação com o mensalão, mas escondem o trabalho que fiz na Câmara para combater essa prática. Quatro deputados foram cassados, acusados pela minha relatoria na CPI do Mensalão. Todos esses ex-deputados cassados pertenciam a partidos que agora apoiam o candidato Luciano Ducci".
Segundo sua assessoria, os programas de televisão de Gustavo que até agora se limitaram a mostrar as propostas do candidato passarão a fazer denúncia pública contra os autores dos panfletos. Não está descartada também a estratégia de contra-ataques para atingir diretamente a administração municipal, mostrando falhas, desperdícios e supostos desvios.
Além disso, informa-se nos bastidores do comitê central de campanha de Fruet que o programa eleitoral passará a privilegiar também a melhoria das condições de vida da população mais carente que se deve mais aos programas sociais do governo federal do que a ações da prefeitura ou do governo do estado. Por isso, no nova linha da campanha, a ideia é vincular com mais vigor o nome de Gustavo ao prestígio da presidente Dilma Rousseff.
Gustavo resume a nova estratégia a uma frase que ouviu numa reunião de campanha: "Se você acha que o Brasil melhorou nos últimos anos e que Curitiba piorou, está na hora de mudar". Essa frase, segundo ele, passará a ser a ideia-força da campanha nas próximas semanas.
Se vai dar resultado, só as próximas pesquisas poderão mostrar.
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