A semana foi cheia de acontecimentos nada edificantes para a política e políticos paranaenses. Como num efeito dominó, peças sobre peças foram caindo na vala comum dos malfeitos que operações conduzidas pela Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal trouxeram a público. O cenário parece de terra arrasada – com o defeito de espalhar odores fétidos que, vindos de tantas origens, acaba por embaçar o foco. O balanço é triste:
• A semana começou com a revelação de que Beto Richa foi citado na Lava Jato. Seu nome constou da segunda lista de Janot, divulgada terça-feira (14), fruto das delações do “fim do mundo” feitas por 77 executivos da Odebrecht. Os motivos não foram revelados, mas ele próprio presume que dizem respeito a doações para caixa 2. Beto está tranquilo: todas as doações foram captadas por pessoas de sua estrita confiança, que são regulares e que se responsabiliza por tudo.
• No terceiro aniversário da Lava Jato, a PF deflagrou na sexta-feira (17) a Operação Carne Fraca, a maior de sua história. Mais de mil agentes cumpriram prisões, conduções coercitivas, buscas e apreensões, trazendo à tona um mega esquema de fraudes, propinas e extorsões praticadas por fiscais agropecuários para beneficiar alguns dos maiores frigoríficos do país em seis estados. Enquanto o povo comia carne podre, fiscais, empresários e políticos se locupletavam. Nem mesmo o ministro da Justiça, o deputado paranaense Osmar Serraglio (PMDB), escapou de uma menção constrangedora: foi grampeado pedindo proteção a um “grande chefe” para um dono de frigorífico.
Campanha 1
A Operação Carne Fraca, que desbaratou um esquema fraudulento na fiscalização sanitária do Ministério da Agricultura em grandes frigoríficos, aconteceu às vésperas da eleição para o Conselho Regional de Medicina Veterinária – instituição que julga o comportamento ético dos profissionais do setor. Três chapas concorrem aos votos de mais de 10 mil veterinários espalhados pelo Paraná, cerca de 30% deles concentrados na região de Curitiba. A eleição será dia 4 de abril.
Campanha 2
O assunto entrou na pauta dos candidatos. O veterinário Nestor Werner, de Pato Branco, candidato à presidência numa das chapas – a única constituída por profissionais do interior do estado – foi o primeiro a se manifestar. Segundo ele, o conselho tem, sobretudo, o compromisso de defender a sociedade e que, se sua chapa for a eleita, agirá com rigor para dar combate aos desvios éticos sempre que denunciados e comprovados.
• Também na sexta (17), o Gaeco denunciou dez pessoas por organização criminosa por fraudar licitações do transporte coletivo em Guarapuava, outras cidades do Paraná, Brasília e vários municípios do país. A maioria dos envolvidos – escritórios de advocacia, empresas de engenharia e agentes públicos – teve participação também na licitação do transporte de Curitiba, de 2010. A Operação Riquixá não chegou (ainda) a desdobrar as investigações sobre o que aconteceu em Curitiba, apesar dos indícios.
• Enquanto isso, prossegue a greve dos ônibus de Curitiba, com todos os seus horrores – desde atos de vandalismo e sequestro de veículos perpetrados pelos grevistas até, o que é ainda pior, graves transtornos à população. Parece ser apenas uma discussão trabalhista entre patrões e empregados, mas é bom lembrar que a administração e a manutenção da normalidade do sistema cabem à prefeitura. E o que se vê de sua parte é a inércia; não há real demonstração de vontade para defender o interesse público, nem se ouviu uma única palavra do prefeito Rafael Greca a respeito – que na campanha prometia resgatar a qualidade do transporte curitibano. A rapidez só foi notada quando do aumento da passagem de R$ 3,70 para R$ 4,25. Sem acordo entre as partes, novas rodadas de negociação foram marcadas para a próxima terça. Não é o fim do mundo?
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