Não se poderia mesmo esperar algo diferente, mas o governador Beto Richa pôs agora com maior clareza sua disposição de entrar valendo na disputa pela prefeitura de Curitiba em favor da reeleição do prefeito Luciano Ducci. Em entrevista à rádio CBN anteontem, Richa foi incisivo ao afirmar que pretende "participar intensamente" da campanha na capital e que, segundo ele, no interior sua participação será mais restrita em razão dos compromissos administrativos que o fazem permanecer mais tempo em Curitiba.
A declaração serviu para marcar o grau de absoluta prioridade que o governador dedicará ao pleito curitibano. Sobram-lhe razões. A primeira delas diz respeito ao fato de saber que é em Curitiba que jogará a maior parte de suas fichas para reprisar em 2014 o sucesso do slogan "Fica, Richa!" que tanto o ajudou a se reeleger prefeito em 2008, com a diferença de que a meta agora será a de se reeleger governador.
Richa precisa dar uma demonstração cabal de que mantém em Curitiba prestígio tão grande quando àquele que demonstrou em 2010 ao conquistar 67% dos votos na eleição que o elegeu governador. Ele tem consciência de que, se depender apenas do prestígio nunca demonstrado diretamente, em eleição majoritária, pelo seu apadrinhado candidato, o prefeito Luciano Ducci, pode não repetir o feito. Ou melhor, corre sério risco de, não elegendo seu candidato, ver-se pessoalmente derrotado. O contrário é ainda mais que verdadeiro: a vitória de Ducci será creditada ao seu velho prestígio.
Isto lhe é vital para aplainar o caminho que o levará ao confronto, em 2014, com outras poderosas forças aquelas que serão representadas provavelmente pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, candidata à sua sucessão, e pela presidente Dilma Rousseff, interessada em buscar a própria reeleição.
Para Beto Richa, omitir-se ou demonstrar pouco empenho na eleição curitibana poderá ter como contrapartida a vitória de Gustavo Fruet o ex-deputado que o PSDB tinha como seu candidato natural a prefeito. Richa, no entanto, preferiu agir nos bastidores para afastar Fruet da disputa e, consequentemente, do próprio partido. Fruet acabou filiando-se ao PDT, legenda pela qual vem viabilizando a frente com o PT e outros partidos da base federal.
Logo, a eventual derrota de Ducci poderá não só revelar o suposto erro político que cometeu ao provocar o afastamento de Fruet do tucanato, como, sobretudo, levar Richa a sofrer os efeitos desse erro quando estiver disputando a reeleição dois anos depois.
Reunindo quase 30% do colégio eleitoral paranaense, Curitiba pode decretar a vitória ou a derrota de qualquer candidato ao governo. Assim, deixar a capital cair nas mãos de um prefeito que não lhe seja alinhado ou, pior ainda, que vá apoiar seus adversários é um risco que Beto Richa não pode correr.
Daí o empenho que dedicará à reeleição de Luciano Ducci. A presença física de Richa na capital durante a campanha é, sim, importante. Não há dúvidas quanto à empatia que desperta especialmente junto ao público feminino e jovem. Mas seguramente não é a presença, provavelmente, que mais pesará.
* * * * *
A presença ou a máquina? O que é mais importante?
Com a máquina e as finanças do governo estadual nas mãos, Richa terá condições de usá-las com eficiência e eficácia para transferir prestígio e popularidade ao seu candidato. Por exemplo: poderá evitar que a passagem do ônibus suba acima daquilo que os usuários considerariam razoável. E é o que, desde já, se informa: o governo estadual estaria disposto a gastar perto de R$ 4 milhões por mês para subsidiar a tarifa.
Esta é a diferença entre o custo real da passagem e o preço que se cobrará dos usuários quando, em poucas semanas, as tarifas forem reajustadas. Sem subsídio, a passagem teria de subir para R$ 2,80 para não dar prejuízo ao sistema; com subsídio, deverá ficar no patamar dos R$ 2,60 isto é, apenas 10 centavos acima do valor atual, uma alta inferior ao índice de inflação já suportada pela população.
Em matéria de represar a tarifa de ônibus e disso tirar proveito político, Beto Richa tem experiência: em 2004, tendo assumido interinamente o cargo de prefeito (era vice de Cassio Taniguchi) decretou a redução que serviu para alavancar sua popularidade.
Já neste primeiro semestre, Ducci fará bom uso de recursos da ordem de R$ 45 milhões que o governador repassou à prefeitura de Curitiba em fins do ano passado. Com essa verba, vai asfaltar 105 quilômetros de ruas. Alguém tem alguma dúvida do efeito eleitoral que pavimentar ruas pode representar?
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura