A terra está em transe pelos lados do Centro Cívico desde os primeiros dias desta semana. Há vários motivos para o treme-treme, mas um deles apareceu com mais força nesta quarta-feira (9): pode acontecer a qualquer momento a oferta de delação premiada do dono da construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, atualmente cumprindo prisão preventiva. Em conluio com agentes públicos, ele teria desviado quase R$ 20 milhões da Secretaria da Educação para construção de escolas que nunca entregou, segundo concluiu o Gaeco, que conduziu a Operação Quadro Negro.
A delação, se acontecer, vai contrariar as recomendações de seu advogado, Roberto Brzezinski, mas atenderá a pressões familiares muito fortes. Pelo menos dois outros membros da família de Eduardo – a irmã e a esposa – estão com preventivas decretadas. A irmã, Viviane Souza, engenheira responsável da Valor, estava foragida há dois meses, mas se apresentou ontem e foi levada à Penitenciária Feminina de Piraquara. À mulher de Eduardo se concedeu o benefício da prisão domiciliar por estar amamentando um filho de poucos meses.
Viviane se entregou após ver fracassado seu pedido de habeas corpus, negado pelo desembargador José Maurício Pinto de Almeida, da 2.ª Câmara Criminal do TJ. O magistrado entendeu que, solta, a engenheira poderá atrapalhar a continuidade das investigações e blindar patrimônio obtido pela família com dinheiro desviado.
Na decisão em que nega o habeas corpus, o desembargador lembrou que foi Viviane a portadora de uma oferta de R$ 700 mil a duas “laranjas” da construtora para que se calassem sobre o esquema.
Eduardo Souza está preparado para a delação, tanto que, antes de ser preso, determinou a uma advogada da empresa que elaborasse documento “com todo o modus operandi, bem como com o nome de cada um dos beneficiados do esquema”, citando pessoas “pertencentes à cúpula do governo do estado, membro do Tribunal de Contas e da Assembleia”.
Este documento, apreendido pelo Gaeco, serviu de base para o prosseguimento de investigações pela Procuradoria Geral de Justiça (leia-se Rodrigo Janot) contra o conselheiro Durval Amaral e o deputado Ademar Traiano, presidente da Assembleia.
Eduardo poderia colaborar muito mais com Janot e com o Gaeco se contar tudo o que sabe: enquanto joga xadrez em sua cela com o ex-deputado André Vargas (condenado pela Lava Jato), pensa muito em tomar logo esta providência para reduzir as penas a que está sujeito se for condenado e também as de membros de sua família (a mulher e duas irmãs). É por isso tudo que a terra entrou em transe.
Confirmado: o secretário de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Jr., deixa hoje o cargo de general do PSC, partido do qual é presidente estadual e detentor da maior bancada da Assembleia, para ser soldado no PSD. O anúncio da mudança será feito hoje na presença do chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra, presidente estadual do PSD.
A convocação para a entrevista à imprensa, porém, diz apenas que eles falarão “sobre assuntos políticos” e de “novos investimentos para o estado”. Pontos obscuros poderão ser esclarecidos nas perguntas dos jornalistas: Ratinho Jr. repensou os planos e pretende se lançar candidato a prefeito? Ou, como se dizia, vai mesmo disputar a sucessão de Beto Richa? Quantos e quais deputados do PSC o seguirão para o novo partido?
Se a articulação foi conduzida pelo chefe da Casa Civil, ele estaria contrariando ou viabilizando um plano do qual Richa também participaria? Se estiver contrariando, Sciarra já se considera próximo do momento de ceder o cargo para o deputado Valdir Rossoni, que há tempos pressiona o governador para assumir a posição?
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