Já alcançou alta temperatura a campanha eleitoral à prefeitura de Curitiba. A reportagem da revista Veja do último fim de semana, que lançou suspeitas a respeito do crescimento patrimonial do prefeito Luciano Ducci, pode ter sido apenas o primeiro lance da briga de foice que vai acontecer daqui em diante e que tenderá a se tornar mais feia a partir da temporada dos programas eleitorais gratuitos na televisão.

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A revista não cita as fontes de que teria se valido para obter as informações. E nem também está obrigada a revelá-las, protegida que está por cláusula da Constituição Federal. Em contrapartida, assume responsabilidade total pelo que escreveu, sujeitando-se, se não conseguir comprovações, à retratação e a processos judiciais pelo dano moral que tenha causado ao prefeito e a sua família.

Entretanto, é indiscutível que a Veja conseguiu tirar o caráter modorrento com que se desenvolvia essa pré-campanha e obrigou um dos candidatos – exatamente o prefeito Luciano Ducci – a ter de explicar à opinião pública a origem e a legitimidade da até então insuspeitada riqueza de que é possuidor, que inclui cinco fazendas espalhadas por três estados e vários imóveis, dentre os quais o apartamento em que mora, de 1.011 metros quadrados, no bairro mais nobre de Curitiba.

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Por mais legítima que seja a origem de tal patrimônio e por mais plausível que seja a explicação que deu – segundo ele fruto de heranças de sua mulher, Marry, filha de rica e tradicional família de agropecuaristas do Noroeste do Paraná –, não deixa de ser um incômodo político para o prefeito-candidato. Primeiro, porque a revelação lhe pôs na defensiva. Segundo, porque precisa vencer todos os resquícios do clima de suspeição que passou a pesar sobre sua até então incólume conduta ética. E, terceiro, porque não é "popular" ser tido como milionário na hora de pedir voto aos pobres.

Improbidade?

Nesse sentido, a reportagem já produziu algum estrago na campanha de Ducci. Mas não é a exibição de sua riqueza patrimonial o fator principal que poderá afetar mais pesadamente seu desempenho eleitoral. Embora de menor repercussão, há um outro fato capaz de trazer-lhe aborrecimentos mais graves.

Trata-se do caso do capataz de suas fazendas que, durante quatro anos, esteve nomeado (primeiro, pelo então prefeito Beto Richa, em 2009, e, depois, por Ducci, de 2010 a 2012) em cargo de chefia na prefeitura de Curitiba, lotado no gabinete do vice. Na nota oficial que divulgou na noite de sábado, Ducci foi evasivo a esse respeito.

A bancada de oposição na Câmara Municipal parece ter percebido o detalhe. E quer que Ducci comprove a frequência do servidor na repartição; que apresente relatórios das atividades que ele desenvolvia; e revele os nomes dos componentes da equipe que supostamente ele chefiava.

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Traduzindo, isto significa o seguinte: é preciso que o prefeito prove cabalmente que dinheiro do contribuinte curitibano não serviu, durante três anos, para pagar alguém que, de fato, no mesmo período, cuidava das suas fazendas em rincões longínquos do Mato Grosso. Se não conseguir fazer prova disso, a Lei da Improbidade Administrativa poderá cair-lhe sobre a cabeça, obrigando-o a arrastar a acusação pelo resto da campanha.

Investigue-se

Diante da repercussão da matéria da Veja, o prefeito tomou iniciativas rápidas de reação. A revista nem tinha chegado ainda às bancas em Curitiba e ele, já na noite de sábado, tratava de responder às acusações. No domingo, dava entrevista a esta Gazeta. E, ontem, recorria às emissoras de rádio para demonstrar a mesma indignação ao mesmo tempo em que visitava o Ministério Público para entregar suas declarações de bens.

O natural é que o ônus da prova caiba ao acusador – no caso a Veja. Entretanto, quando se trata de pessoa pública e que deve permanentemente contas à população, é necessário que ela tome a dianteira. Foi o que acertadamente Ducci procurou fazer desde o momento em que soube das denúncias.

Ao Ministério Público, diante das mesmas denúncias e da documentação que o próprio prefeito lhe entregou, cabe agora abrir a necessária investigação. Logo, se antes o MP não tinha conhecimento do assunto – ao contrário do que afirmou a revista –, agora os promotores já contam com elementos suficientes para iniciar o devido inquérito.

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Além do caso do capataz, outro ponto em que o MP deverá colocar sua lupa diz respeito à afirmação de Veja de que Ducci e sua mulher transferiam bens imóveis para o nome dos filhos (mesmo quando ainda eram menores) e, em seguida, obtinham o usufruto vitalício dos mesmo imóveis. Seria uma tentativa de esconder o patrimônio ou apenas uma preocupação paternal de prover futuro seguro para os filhos? – dúvida que a coluna ouviu de um jurista experimentado em assuntos da espécie.