Munido de superpoderes semelhantes a quem tem um cheque em branco nas mãos, o ex-presidente Lula praticamente assume a presidência da República no lugar de Dilma Rousseff. Se motivos jurídicos-policiais não atrapalharem sua posse na chefia da Casa Civil, prevista para esta quinta-feira (17), o governo passa a ser dele e não mais da titular de direito.
Lula volta ao poder com planos bem definidos. A prioridade é salvar a própria pele. Ao alcançar foro privilegiado, conta com a lentidão da instância judiciária federal, inversamente proporcional à rapidez com que correm em Curitiba as investigações e processos da Lava Jato. Isto é, reduz-se o risco de Lula ter de embarcar num aviãozinho da Polícia Federal e vir sentar-se diante do juiz Sergio Moro.
A prioridade seguinte de Lula na Casa Civil é salvar Dilma e, indiretamente, a si mesmo outra vez. Caberá a ele garantir o quórum necessário na Câmara presidida por Eduardo Cunha para evitar a aprovação do impeachment. Neste caso, precisa agir rápido, pois o processo de impedimento, agora com rito já definido pelo Supremo, tende a se iniciar nos próximos dias ou semanas.
Em seus mandatos, Lula manteve sólida maioria no Congresso. Servia-se, para tanto, de meios heterodoxos, como o mensalão, que, por sinal, transferiu seu DNA para o petrolão. Com os financiadores condenados e presos em Curitiba ou carregando suas incômodas tornozeleiras, as cornucópias que abasteciam o sistema estão agora esgotadas.
O ex-presidente terá de se valer de outros métodos, dentre os quais sua reconhecida lábia e capacidade para fazer amigos e influenciar pessoas. Se saliva for suficiente não só para mudar o humor de deputados e senadores, mas também reconquistar as massas revoltadas é algo que precisará ainda ser provado muito brevemente.
A terceira prioridade de seu plano de governo é dar meia volta no ajuste fiscal que a presidente Dilma Rousseff tenta (e não consegue) fazer. Lula promete ressuscitar as velhas receitas que deram aparência de milagre aos tempos em que foi presidente, reduzindo a miséria com programas de transferência de renda, controlando a inflação mediante congelamento de preços e tarifas públicas, desonerando de impostos de alguns setores escolhidos etc.
Tais remédios, porém, todos sabem, é que se converteram nos venenos que levaram o país à bancarrota. Dependerá do comportamento de Dilma a este respeito – se se comportará como rainha ou como presidente. Na primeira hipótese, só faltará a ela dizer com sua peculiar linguagem: “eu tenho mesmo cara de quem me resigno”.
Olho Vivo
Ratinho Jr., ao sair do PSC e ingressar no PSD, viu o chão desabar quando seu novo padrinho, o presidente estadual do PSD, Eduardo Sciarra, perdeu a chefia da Casa Civil de Beto Richa. Pensou em abandonar o sonho de concorrer ao governo em 2018 e em se candidatar outra vez a prefeito de Curitiba em 2016.
Voltou atrás da ideia e manteve a intenção de disputar o governo. Nos últimos dias chegou a fazer uma pesquisa em que, num dos itens, o Instituto Radar perguntava aos entrevistados se sua ligação política com o governador lhe seria prejudicial. Não se sabe que resposta recebeu.
Correm rumores de que Richa estaria propenso a não mais se candidatar ao Senado. A desaprovação média de quase 80% já é considerada irreversível, o que colocaria em risco sua eleição.
O presidente do Tribunal de Contas, Ivan Bonilha, ia colocar em votação na sessão plenária de hoje o projeto de redução de 11 para 7 o número de procuradores do Ministério Público de Contas. Não vai mais: ontem à noite o desembargador Luiz Carlos Xavier concedeu liminar para impedir a votação da matéria.
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