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Olho vivo

Enfim? 1

Depois de 45 dias de governo, durante os quais não houve registro de fatos que ultrapassassem os limites da pura rotina administrativa, o governador Beto Richa começa a dar sinais de que está mesmo disposto a deixar no passado os oito anos de estagnação que o Paraná suportou. Nada ainda de muito concreto – mas já começam a aparecer projetos de vulto condizentes com uma nova filosofia de governo, marcada pelo que se poderia chamar de desenvolvimentista.

Enfim? 2

Quase tudo, claro, está ainda no papel, mas as ideias e promessas deixam o terreno das boas intenções para tomar a forma de projetos. Ontem, foi enviada à Assembleia uma penca de projetos de lei que se enquadra no esforço do desenvolvimento. Um deles é a criação de uma agência reguladora de serviços públicos, para dar garantia jurídica a investimentos privados que venham a se fazer no estado. Outro prevê a criação de instrumentos para a atração de empresas.

Enfim? 3

Ontem também, em Brasília, Beto Richa e seu colega de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, iniciaram as gestões para a ferrovia que vai integrar os dois estados. Garantiram, por exemplo, que a Valec – estatal de engenharia vinculada ao Ministério dos Transportes – fará o projeto da ligação de Maracaju (MS) ao Porto de Paranaguá, da qual faz parte o trecho paranaense da Ferroeste. Custo estimado: R$ 5 bilhões.

Estaria o prefeito Luciano Ducci fazendo um calculado movimento em busca de aliados fora do grupo político a que tradicionalmente pertence em Curitiba? Se sim, qual a razão? Estas perguntas passam pela cabeça dos observadores que acompanham a surda, porém já concretamente iniciada, luta pela definição do candidato à prefeitura da capital em 2012.

O primeiro dos motivos que levaram às indagações foi dado ontem, quando Ducci fez questão da companhia da senadora Gleisi Hoffmann, do PT, no périplo que empreendeu por importantes gabinetes federais em Brasília em busca de recursos para projetos municipais.

Na aparência, nada de anormal – pois é normal que executivos regionais procurem as bancadas de seus estados no Congresso para lhes abrirem portas em Brasília. Nós, os paranaenses, é que estávamos desacostumados dessa prática democrática graças aos sete anos do governo Requião em que senadores e deputados federais foram simplesmente ignorados. Ducci, agiu, portanto, de acordo com as normas republicanas.

O prefeito teve sucesso: com as bênçãos de Gleisi, conseguiu garantir recursos federais para a construção de uma trincheira na BR-116, defronte ao Ceasa em Curitiba. E deixou bem encaminhados outros projetos, dentre os quais a inclusão do metrô curitibano no PAC da Mobilidade.

A aproximação que Luciano Ducci promove com o governo com a intermediação de Gleisi está sendo interpretada como um ato político para efeito futuro – uma futura aliança com o PT e outros partidos da base de apoio do governo federal para sustentar sua candidatura à reeleição. Aliás, o partido do prefeito, o PSB, faz parte dessa base de Dilma Rousseff.

Mas por que pensar nisso agora? Porque Luciano Ducci, tido até há pouco como candidato preferencial do governador Beto Richa, já enxerga dificuldades em consolidar tal apoio e de manter a aliança do PSB com o PSDB. São cada vez mais fortes os sinais nesse sentido, como prova a recente decisão do diretório estadual tucano de nomear uma comissão provisória para o diretório municipal, de modo a tirar o comando do partido das mãos do vereador João Cláudio Derosso – um dos principais articuladores da candidatura de Ducci.

Outro sinal foi a ausência de Beto Richa na inauguração da revitalização da Avenida Toal­­­do Túlio, em Santa Felicidade, no último sábado. A presença do governador, anunciada antecipadamente pela assessoria do prefeito, foi cancelada de última hora. Os coordenadores políticos de Luciano Ducci esperavam transformar o evento numa demonstração da união política entre os dois.

O PSDB estadual é que resolveu impor resistência a Luciano Ducci. Leia-se, principalmente, Valdir Rossoni, que, além de presidente estadual do tucanato, reuniu prestígio e força política suficientes desde que assumiu a presidência da Assembleia e impôs drásticas medidas de moralização. Rossoni não esconde: o PSDB terá candidato próprio em Curitiba e dá-lhe nome e sobrenome: Gustavo Fruet. "Só não será candidato se ele não quiser", radicaliza Rossoni, posição, aliás, que já defendeu olhando no olho de Beto Richa.

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