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Olho vivo

Pau que nasce torto...

O prefeito Gustavo Fruet confirmou ontem à coluna: ou fará o metrô quase igual ao projeto que herdou do antecessor ou a prefeitura de Curitiba perderá o R$ 1 bilhão que a União prometeu para este fim. Ele ainda não sabe que decisão tomar: espera respostas da equipe que nomeou para estudar o assunto – e que tem até julho para dá-las – e o resultado de consultas que endereçou à Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU), encarregada de elaborar o projeto final do metrô.

... continua torto

Gustavo não está convencido de que a construção da linha de metrô de 14 quilômetros ligando o Pinheirinho ao Centro seja a melhor solução para o transporte coletivo de Curitiba. Outras propostas poderiam atender melhor ao interesse público. E até já fez tentativas perante o governo federal para dar destinação diferente aos recursos, como a de dividi-los em duas partes: R$ 500 milhões para saúde pública e outros R$ 500 milhões para melhorias no atual sistema de transporte. O Ministério do Planejamento se opôs: se não fizer o metrô, ainda que com mudanças no projeto, Curitiba não terá a verba prometida por Dilma.

Dilema

Se for para construir o metrô no mesmo trajeto, há outro dilema a ser resolvido. O projeto inicial prevê a escavação das canaletas para construir o túnel, gerando, por muitos anos, sérios problemas para a região atingida: o transporte coletivo e o trânsito seriam afetados; o comércio e os moradores seriam prejudicados; e a remoção das milhares de toneladas de terra e lodo seria outro transtorno. Fazer o túnel com "tatuzão", sem interferir na superfície? Ótimo, só que custa muito mais caro e os valores teriam de ser renegociados. A decisão exige pressa e o tempo passa rápido.

Acuado pelas críticas da oposição e pelas dúvidas levantadas na imprensa, o governador Beto Richa tomou ontem sábia decisão: suspendeu por tempo indeterminado a licitação que, no próximo dia 25, escolheria empresa para administrar o "Tudo Aqui Paraná" – nove centrais prestadoras de serviços públicos a serem instaladas em Curitiba e em outras seis cidades-polo do estado.

O governo reconheceu que mereciam explicações os inúmeros pontos obscuros do processo de licitação e que davam razão às desconfianças até mesmo quanto à sua lisura. Por exemplo: por que um decreto assinado por Beto Richa que dava prazo de 30 dias para que inscrição de interessados em elaborar o projeto fosse seguido de outro, publicado 24 horas depois, já dando o nome da empresa que faria o trabalho – no caso, a notória Shopping do Cidadão?

Ponto obscuro era também a definição dos imóveis para instalação de estruturas do "Tudo Aqui", sem consulta prévia aos donos dos bens – caso das três Ruas da Cidadania pertencentes à prefeitura de Curitiba e que estavam arroladas no projeto como futuras dependências do "Tudo Aqui". Nem o ex-prefeito Luciano Ducci nem o atual, Gustavo Fruet, assinaram quaisquer documentos dando anuência à transferência desses imóveis para uso de uma terceirizada da administração estadual.

A decisão de suspender temporariamente a licitação foi anunciada no início da reunião realizada no gabinete do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Valdir Rossoni, ontem pela manhã. O encontro – aberto à imprensa por decisão de Rossoni, ao contrário do que queria o líder governista Ademar Traiano – serviu para que alguns deputados ouvissem o secretário do Planejamento, Cassio Taniguchi (condutor do projeto de criação do "Tudo Aqui"), e o chefe da Casa Civil, Reinhold Stephanes. Nenhum parlamentar da oposição participou da reunião por considerá-la um "teatro". A oposição insistirá no caminho judicial para obter informações.

Claro, espelhando-se no êxito que já teriam comprovado os similares "Poupa Tempo" (São Paulo), UAI (Minas Gerais) e Vapt-Vupt (Ceará), os secretários tentaram convencer os deputados de que o "Tudo Aqui" será tão maravilhoso quanto. Taniguchi foi além: o "Tudo Aqui" gerará para o governo uma economia de exatos R$ 138 milhões. De onde saiu esse número, como ele foi calculado com tanta precisão, ele não disse e nem lhe foi perguntado.

A conversa avançou pouco em relação à solução de vários pontos obscuros – que continuaram obscuros. E não avançou quase nada em relação a questões de fundo – como as levantadas pelo professor Belmiro Valverde, que, do alto do seu PhD em Administração Pública, coloca sérias dúvidas sobre a prioridade de destinar R$ 3 bilhões para terceirizar serviços que são de competência do Estado. Melhor aplicar em infraestrutura ou avançar na direção da tendência mundial e moderna do governo-eletrônico, como escreveu domingo passado em seu artigo semanal para esta Gazeta.

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