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Olho vivo

Guerra e paz 1

O tempo continua quente nas entranhas da Procuradoria-Geral do Estado (PGE). Dois grupos se engalfinham em torno de conceitos, questões administrativas e gastos considerados ilegais. A paz entre eles era para ter sido selada num jantar em restaurante chique do Batel. O jantar aconteceu, a paz não.

Guerra e paz 2

O jantar reuniu, além do autor do convite, o atual procurador-geral do Estado, Júlio Cezar Zem, designado para o cargo em substituição ao agora conselheiro do Tribunal de Contas Ivan Bonilha, os líderes da oposição interna, os procuradores Sérgio Botto de Lacerda e Ubirajara Ga­­­s­­­parim.

Guerra e paz 3

O primeiro ponto de atrito foi um decreto assinado pelo governador, mas escrito pela PGE, que instituiu mudanças na estrutura órgão e extingiu um dos seus principais setores – o que cuidava dos recursos do estado junto aos tribunais superiores, muitos dos quais envolvendo bilhões.

Guerra e paz 4

Outro ponto foi a revelação de que um fundo administrado pela PGE (atualmente de cerca de R$ 25 milhões) está servindo para pagar controvertidas melhorias salariais diretas e indiretas, além de compras de móveis e imóveis.

Guerra e paz 5

O jantar rendeu quatro horas e meia de gravação, durante as quais pipocaram revelações surpreendentes. Quem ouve a fita fica sabendo, por exemplo, que: a) há setores do governo defendendo a troca de tributos por títulos precatórios pelo valor de face destes – ideia que, no entanto, tem encontrado resistência na PGE; b) e-mails internos foram bloqueados ou limitados para cercear a oposição; c) compras teriam sido feitas sem licitação.

Guerra e paz 6

E, por fim, a surpresa: o procurador Júlio Cezar Zem admite a possibilidade de pedir demissão do cargo. A dúvida é: quem seria nomeado em seu lugar? Os convivas responderam: "Esse é um problema do governador, não é seu".

"Sonegar a transmissão do discurso da presidente da República foi um ato de mesquinharia, uma sordidez extraordinária." As palavras são textuais do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao tomar conhecimento de que a Televisão Educativa pôs no ar apenas as falas do governador Beto Richa e do prefeito Luciano Ducci na cobertura da solenidade de liberação de recursos federais para a obra do metrô de Curitiba, na última quinta-feira. O discurso de Dilma Rousseff ficou de fora da cobertura – cortada abruptamente pela apresentação do programa infantil Turma do Cocoricó.

Paulo Bernardo faz uma concessão: ele diz acreditar que o governador Beto Richa não sabia da omissão e que a decisão de suprimir o pronunciamento da presidente "deve ter partido da pequenez de setores subalternos do governo". O que não lhe tira outra convicção: com essa atitude, a Educativa voltou aos tempos do governo Requião, quando a emissora servia apenas aos propósitos políticos do governante. "Ninguém podia esperar isso do atual governo" – ressaltou Bernardo – "principalmente porque não faltou apoio do governo federal e o empenho pessoal da presidente e da ministra Gleisi Hoffmann para viabilizar o metrô curitibano."

A direção da emissora teria cometido apenas uma gafe involuntária? Podem ser alegados motivos técnicos? Foi uma interferência da Radiobrás na programação da Educativa, como explicou sua direção? Tudo isso é possível – coisa, no entanto, que de­­­­verá ser esclarecida nos próximos dias se for acatado o pedido de providências que o diretório municipal do PT encaminhou ao Minis­­­tério das Comunicações na sexta-feira. A primeira manifestação do titular do ministério aponta, no mínimo, para a vontade de investigar.

O episódio talvez tenha dado os primeiros tons com que será pintada a campanha para prefeito de Curitiba no ano que vem. A cordialidade entre as autoridades federais, estaduais e municipais que dividiram o palco na solenidade de quinta-feira pode ter apenas disfarçado a existência, ali, de dois lados já bem definidos na disputa pela prefeitura.

Um dos lados, o do governador Beto Richa (PSDB) e do prefeito Luciano Ducci (PSB), empenhado na reeleição; de outro o PT, cada vez mais simpático à ideia de apoiar o neopedetista Gustavo Fruet. De preferência já desde o primeiro turno. Da mesma simpatia, segundo consta, já compartilha a presidente Dilma Rousseff.

A eleição de prefeito será apenas o primeiro tempo da partida que só terminará em 2014. Mas quem se sair melhor em 2012 terá mais chances de ganhar o jogo dois anos depois – Beto Richa disputando a reeleição versus Gleisi Hoffmann.

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