É vagarosa ou quase paralítica a marcha pré-eleitoral visando ao pleito municipal deste ano em Curitiba. Os partidos e seus pré-candidatos têm encontrado grandes barreiras para definir e colocar em curso os seus projetos – tudo porque os acontecimentos nacionais estão pondo toda a política de ponta-cabeça.
As atenções estão focadas em questões de resultados insondáveis ou imprevisíveis. Ainda não se sabe como será o desfecho do processo de impeachment de Dilma Rousseff nem que novos impactos serão doravante produzidos pela Operação Lava Jato.
Depende muito destes fatores sacolejantes a acomodação das melancias na carroça da política, quer visando à eleição de prefeitos este ano e, conjuntamente, quer visando ao pleito de 2018 para governo do estado e renovação dos mandatos de deputados e senadores.
Impossível, a estas alturas, costurar alianças sólidas, em condições de permanência até outubro e mais além. Este seria o motivo, por exemplo, para justificar a quietude monástica em que se encontra o prefeito Gustavo Fruet (PDT). Permanece ainda enigmático quanto às alianças estratégicas que precisará firmar para concorrer à reeleição.
Sua atitude deixa os demais candidatos em desconfortável indecisão – mesmo porque alguns deles, embora se apresentem com a intenção de disputar contra Fruet, não descartam a possibilidade de ocupar a vice na chapa dele, dentre os quais o deputado Requião Filho (PMDB). As exceções são Rafael Greca (PMN), que não volta atrás no projeto pessoal de voltar a ser prefeito, e, talvez, Ney Leprevost (PSD), animado com o crescimento do seu partido após a adesão de Ratinho Jr. e de alguns vereadores.
O ex-prefeito Luciano Ducci (PSB) é que não tem encontrado muitos motivos para manter a candidatura. Ao contrário, viu suas chances diminuídas principalmente a partir do desastre que abateu a imagem de seu padrinho, o governador Beto Richa.
Por isso, não se esperem decisões municipais antes do fim do debate do impeachment, de outros solavancos da Lava Jato, do progresso das investigações da Quadro Negro e da Publicano, das Olimpíadas e dos estragos da zika e da chikungunya...
Farsa & tragédia 1
O papelão cometido pelo ex-vereador Pastor Valdemir Soares (PRB) de votar no lugar da colega Julieta Reis (DEM) custou-lhe o mandato. Preferiu renunciar antes de sua fatal cassação por quebra do decoro parlamentar. Agiu com rapidez e esperteza: cassado, não poderia se candidatar à reeleição; renunciando, mantém seus direitos políticos.
Farsa & tragédia 2
Soares não foi original – como diria Marx, “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” – ou vice-versa, para tornar a frase mais apropriada ao caso do ex-vereador. O fato é que o “piano” que ele tocou na Câmara de Curitiba é o mesmo que foi usado por outros políticos que tiveram alguma importância no país.
Farsa & tragédia 3
Caso, por exemplo, do falecido senador baiano Antonio Carlos Magalhães – o Toninho Malvadeza – que, como presidente do Senado em 2001, confessou manipular resultados no painel eletrônico. Estava a ponto de ser cassado quando decidiu renunciar ao mandato. Um ano depois, voltou ao Congresso nos “braços do povo” da Bahia, que o reelegeu.
Farsa & tragédia 4
Dois deputados federais paranaenses também foram protagonistas de episódio parecido. Em 1998, José Borba (PTB) tocou o “piano” no lugar do ausente colega Valdomiro Meger (PFL) numa votação de projeto de reforma da Previdência. Descoberta a traquinagem, ambos foram levados à Comissão de Ética por quebra do decoro, mas acabaram salvos da degola por sucessivas protelações do rito de cassação.
Farsa & tragédia 5
A tragédia provocada pelo Pastor Valdemir (Igreja Universal) pode não ficar na sua renúncia, mas se ampliar quando for decidido que suplente terá o direito de substituí-lo – se Zezinho do Sabará ou Edson do Parolin. Pobre Curitiba.