O sol que tem iluminado os ceus de Curitiba e produzido calor atípico neste agosto invernal contrasta com a escuridão política que envolve o futuro da cidade. Falta pouco mais de um ano para a eleição do próximo prefeito – período curto o suficiente para que, em anos passados, os eleitores já tivessem conhecimento mais preciso dos nomes dos potenciais competidores.
A única certeza até agora é de que o prefeito Gustavo Fruet (PDT) concorrerá à reeleição – mas nem ele sabe ao certo que competidores enfrentará. Vários são os citados, mas bem poucos mostram envergadura para disputar com chances reais de vitória o próximo pleito.
Terra em transe 1
Diante das informações que correm de que o ex-procurador Geral do Estado Júlio Zem teria facilitado aval jurídico para que a Refinaria de Manguinhos (recordista em sonegação de impostos) se instalasse no Paraná, dois movimentos preventivos foram ensaiados pelo gabinete do governador. Um deles o de desmentir a informação e isentar o ex-procurador de responsabilidades. Outro, mais apropriado ao caso, o de abrir uma sindicância para apurar os fatos. Até ontem à noite persistia a encruzilhada.
Terra em transe 2
Por conta dessa dúvida, a terra entrou em transe nas proximidades do Palácio Iguaçu. Abalos foram sentidos também em razão do depoimento que o doleiro Alberto Youssef foi levado sob escolta, ontem, a fazer perante juízes do TRE, a pedido do TSE, num processo de investigação de supostos crimes eleitorais. Há quem vê ligação entre um caso e outro.
O vácuo político que acaba por favorecer o atual prefeito decorre das muitas dificuldades que nublaram os céus do Brasil e do Paraná nos últimos tempos. Vejamos:
• O PT, que em 2012 fez aliança com o PDT de Gustavo Fruet e indicou a advogada Miriam Gonçalves para a vice, está em processo de desgarramento do grupo. A crise moral em que o partido naufragou principalmente a partir da Operação Lava Jato é o fator preponderante para que Fruet já não deseje a proximidade de petistas. Logo, deve faltar muito pouco tempo para que a aliança se desfaça por completo.
• Por outro lado, ao PT interessa lançar candidato próprio, no mínimo para puxar votos e eleger alguns vereadores. O nome até agora eleitoralmente mais viável para disputar a prefeitura é o do deputado Tadeu Veneri, mas que, a despeito de sua boa atuação como líder da oposição na Assembleia, carregará o fardo da rejeição ao seu partido e aos seus líderes mais proeminentes, Dilma e Lula.
• Já o PSDB não tem a quem recorrer a não ser ao aliado Luciano Ducci, do PSB. Até meses atrás, o ex-prefeito e agora deputado se apresentava como um respeitável competidor, mas suas ligações com o grupo do governador Beto Richa – também altamente rejeitado – consomem suas vitaminas.
• O mesmo problema se dá com Ratinho Jr. (PSC). Embora tenha perdido para Fruet em 2012, manteve até meses atrás excelente performance: as pesquisas lhe davam 38% das intenções de voto se fosse candidato a prefeito, mas, eleito deputado estadual com votação recorde e nomeado secretário de Richa, em poucos meses teve a preferência carcomida em 40% (baixou para 25% nas pesquisas). A titubeante atuação dos deputados do PSC (a maior e mais decisiva bancada da Assembleia) frente à questão do professorado foi um dos fatores de sua queda.
• Se a crise política de Richa, que atingiu o ápice no massacre do Centro Cívico em 29 de abril, prejudicou Ducci e Ratinho, por outro lado ajudou no crescimento da candidatura de outros potenciais concorrentes. O deputado Maurício Requião Filho, do PMDB, está animado com o empate com Gustavo Fruet apontado nas últimas sondagens, na faixa dos 15%. Ainda não sabe se o sobrenome vai ajudá-lo.
• Outro que cresceu em proporção inversa à rejeição ao grupo de Beto Richa (do qual era aliado) é o deputado Ney Leprevost, já lançado candidato, extraoficialmente, pelo seu partido, o PSD. Rompido com Richa, a exemplo de Requião Filho também conquistou a simpatia do professorado e de outros setores oposicionistas. Seu problema é ter de dividir com Gustavo a mesma faixa do eleitorado, a classe média.
Diante deste balanço, como se vê repleto de incertezas quanto à definição dos nomes e das consequentes alianças partidárias, Fruet ainda (ou apesar de tudo) parece reunir maior viabilidade eleitoral. Mesmo porque ele está no jogo para 2018 – não necessariamente como candidato a governador, mas como “cabo eleitoral” no maior colégio do estado. Neste sentido, pode carrear apoios em 2016 das forças interessadas em desalojar do Palácio Iguaçu a trupe do governador Beto Richa.
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