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Quem viveu a época deve se lembrar: em março de 1983, tão logo assumiu o governo, o governador José Richa tratou de elaborar um "plano de ação". Já de posse de um diagnóstico realista da situação do estado, definiu objetivos, metas e estratégias que pudessem se aproximar o mais possível das promessas que pregou durante a campanha. Claro, verificou logo que nem todas as suas boas intenções poderiam se realizar – mas o plano estabeleceu um norte para o estado.

O homem incumbido de dar forma a esse plano foi seu secretário de Planejamento, Belmiro Valverde, que, em longas discussões com todos os demais secretários, prefeitos, empresariado e representantes dos mais diversos segmentos sociais, chegou a um documento de mais de 200 páginas. Mas isto não bastava ao governador José Richa, já que ele havia definido como princípio fundamental de sua administração a participação popular.

Por isso, multiplicaram-se as reuniões em todas as regiões para não só para dar conhecimento do plano à população como, sobretudo, para agregar a ele reivindicações regionais factíveis não contempladas na versão original. Em junho, isto é, apenas três meses após iniciado o governo, o plano de ação de Richa para o quadriênio estava pronto, acabado, aprovado e aplaudido.

Cada secretaria de estado, cada empresa da administração indireta, cada autarquia sabia exatamente o que fazer. Evi­­dente, nem tudo foi possível: crise econômica, inflação galopante, enchentes, desvios de conduta de alguns secretários e assessores impediram o cumprimento de boa parte do que fora estabelecido para a gestão. Mas, sem dúvida, o Paraná ficou sa­­bendo para onde caminhava. Havia, enfim, um projeto de estado – algo claro que permitia ao governo, entre outras facilidades, definir exatamente o que reivindicar do governo federal, dentro de sua própria escala de prioridades.

Uma janela de oportunidades

Nem todos os seus sucessores seguiram a lição deixada por José Richa. Nos oito anos de Requião, por exemplo, o estado marchou no escuro, apesar do esforço do seu secretário do Planejamento, Enio Verri, de formular diretrizes gerais que não guardavam exatamente semelhança com um plano de governo.

O governador Beto Richa também está devendo o cumprimento da lição deixada pelo pai. Salvo pelas promessas de campanha – algumas mirabolantes –, ele ainda precisa dizer com clareza e realismo o que pretende efetivamente fazer no Paraná durante seus quatro anos de gestão. Não há nem de perto aquilo que se pode chamar de plano de ação até mesmo na sua acepção mais simples.

Há, é verdade, projetos pontuais inacabados uns, parciais outros. Não se tem noção de um conjunto de diretrizes, objetivos e metas quantificáveis e internamente coerentes com um projeto de estado que se alongue por pelo menos uma década. Ao contrário do que seria de se esperar de um governo que se diz empenhado em aplicar o tal "choque de gestão", parece não se levar em conta o planejamento como forma, até, de colocar sob avaliação interna o seu próprio desempenho.

Definições claras do que quer realmente o atual governo mostram-se particularmente urgentes nesse momento: o momento em que se abre uma enorme janela de oportunidades para o Paraná no governo federal.

Sabe-se ser impossível ao estado prover todas as suas necessidades – aliás, em grande parte represadas nos últimos oito anos – se não contar com a parceria financeira do governo federal. Ora, com Gleisi Hoffmann na Casa Civil, Paulo Bernardo nas Comu­­nicações e Gilberto Car­­valho na secretaria-especial da Presidência, nunca antes o Pa­­raná esteve tão próximo do coração do poder da República.

Eles não são "governadores" do Paraná – mas podem ajudar grandemente na tarefa de mover meios e destinar recursos para projetos que consideremos importantes e prioritários. Mas há uma condição mais do que óbvia: é preciso que haja projetos! E que tais projetos sejam apresentados e defendidos com rigor técnico e apelo político condizentes.

Quem sabe se, cumpridas essas premissas simples, enfim não possam sair do papel com maior rapidez projetos de que tanto se fala e nada se faz? Por exemplo: a expansão da malha ferroviária e a superação dos seus gargalos; a modernização dos portos; a terceira pista do Afonso Pena; os novos aeroportos no interior; a estrada Boi­­adeira; a duplicação de trechos estratégicos de algumas rodovias – além de tantas outras obras de infraestrutura e de atendimento a setores socialmente sensíveis, como segurança, educação, saúde, sanidade animal etc., desde que indicadas como prioritárias num plano de governo – infelizmente ainda inexistente (ou desconhecido) em seus termos mais concretos.

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