Olho vivo
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O secretário de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Jr., foi quem assinou a resolução que estendeu às linhas de ônibus metropolitanos a mesma tarifa, de R$ 2,85, decretada pelo prefeito Gustavo Fruet para o transporte urbano de Curitiba. No arrazoado, Ratinho afirmou que compete à Comec, órgão do governo estadual, "o gerenciamento do sistema de transporte coletivo da região metropolitana de Curitiba".
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Em outras palavras, ao citar a legislação pertinente que o fez assinar a resolução, o secretário acabou por reconhecer que não é com Fruet que deve ser travado o debate sobre o subsídio ao transporte coletivo, mas com os prefeitos dos 12 municípios vizinhos que compõem a Rede Integrada de Transportes (RIT) onde vive e vota um eleitorado quase do mesmo tamanho do de Curitiba. Donde se deduz que o subsídio vai mesmo ser pago, caso contrário esses eleitores ficam ameaçados de pagar até R$ 4,00 pela passagem.
À medida que se aproximam as eleições do ano que vem, cresce no mesmo ritmo o que os psiquiatras diagnosticariam como esquizofrenia doença que, segundo os compêndios da área, caracteriza-se, entre outros sintomas, pela mania de perseguição. Na política, a esquizofrenia aparece por vontade própria e nos momentos mais oportunos um jeito de fazer com que os outros vejam como verdadeiras as supostas perseguições e se compadeçam com a vítima. A técnica costuma dar bons resultados, especialmente porque tira o foco de fatos que deveriam estar no centro das discussões.
Acontecem atualmente no Paraná manifestações do gênero esquizofrênico sobre alguns pontos da convivência entre os governos estadual e federal. Ainda na semana passada, o governador Beto Richa disse que o estado, se não vai pra frente, é porque a União lhe suprime tributos e, para piorar, ainda age como agiota na cobrança de dívidas.
Em outra manifestação, seu porta-voz na Assembleia Legislativa fala em "perseguição implacável" e chega a dar nome aos algozes justamente os três ministros paranaenses que ocupam postos-chave no governo Dilma Rousseff. Reclama, por exemplo, da "privatização loura" uma referência à ministra Gleisi Hoffmann que, segundo ele, por meio da Medida Provisória 595, está promovendo a privatização do Porto de Paranaguá, tirando-o da administração pública para entregá-lo à privada.
Também na semana que passou, Beto Richa prestou solidariedade aos trabalhadores de uma dessas centrais que o PSDB sempre combateu e que o foram procurar para reclamar da mesma MP 595 que, de acordo com eles, muda as regras vigentes e causa desemprego maciço no cais.
Têm explicação as reações: a "loura" é a mais provável adversária de Beto Richa na disputa pelo governo em 2014. Logo, é importante carimbá-la desde já no papel de inimiga do Paraná, do porto e dos trabalhadores. Muda-se o foco: o que deveria se restringir a um debate técnico se converte em terreno fértil no qual se plantam e se colhem frutos político-eleitorais.
Não se trata de fazer nenhuma defesa de Gleisi Hoffmann como eventual candidata. Este é assunto que compete à consciência dos eleitores que no ano que vem terão a liberdade de escolher entre reeleger Beto Richa ou preferir outras opções, dentre as quais a que será, possivelmente, representada pela "loura", ou o retorno de "Requião, a missão". O importante, agora, é saber se de fato a MP 595 fará bem ou mal para o Porto e seus trabalhadores.
São questões técnicas que os críticos que só enxergam política pela frente não querem ver com a profundidade e no foco devidos. Discutem, por exemplo, se concessão é o mesmo que privatização; se abrir os portos à iniciativa privada vai torná-los menos ou mais eficientes; se a experiência dos portos administrados exclusivamente pelos governos é boa ou ruim para o país; e, sobretudo, debater se o melhor é deixar tudo como está incluindo um regime trabalhista em que predominam os "avulsos", sem as garantias da carteira assinada e explorados por sindicatos dominados por algumas centrais.
A ministra Gleisi Hoffmann tem certeza que a MP 595 responde bem a essas questões: moderniza a infraestrutura portuária, incentiva os investimentos privados, aumenta a capacidade de movimentação de mercadorias, melhora a competição, barateia os fretes e eleva os padrões trabalhistas. Isso tudo sem que, segundo ela, o poder público deixe de ser o "dono" e controlador do negócio.
O Paraná, sempre tão interessado no seu polêmico mas quase sempre mal administrado porto, não tem visto suas autoridades debatendo estes pontos com a profundidade necessária. O importante é reconhecer que o terminal paranaense, embora esteja melhorando, ainda está longe de deixar de ser um dos maiores "gargalos" logísticos para o desenvolvimento do estado. E se a MP 595 mais ajuda do que atrapalha.
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