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Olho vivo

Em dobro 1

Na Assembleia corre uma CPI que investiga os Leitos do SUS. Está de olho no comportamento dos hospitais e do próprio SUS, que reclamam um do outro. Um, porque hospitais negam leitos e tratamento adequado aos segurados; outro, porque o SUS paga uma miséria pelos procedimentos. Pelo que se sabe, porém, a CPI ainda não chegou a manifestar interesse em investigar outro ponto sensível e pouco ortodoxo entre hospitais envolvendo o SUS e o SAS.

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Denúncias não documentadas que chegaram à coluna – mesmo porque os instrumentos para documentá-las estão nas mãos das autoridades do setor – informam que alguns hospitais praticam dupla cobrança quando o paciente é servidor público estadual. Servidores têm direito a recorrer aos serviços dos 15 hospitais que mantêm convênio com o SAS. O SAS, do governo do estado, lhes transfere recursos fixos todos os meses para que prestem atendimento aos funcionários.

Em dobro 3

Entretanto, dizem as denúncias, os hospitais, que recebem do SAS, faturam o atendimento também contra o SUS – isto é, recebem duas vezes pelo mesmo serviço. A sugestão dos denunciantes é para que a CPI faça um cruzamento de nomes de pacientes com a listagem do funcionalismo. Se um desses nomes estiver nas duas listas e se aparecerem faturas contra SUS – pronto, estará configurada a fraude.

Até três dias atrás, quando o ex-deputado Gustavo Fruet ainda não havia pegado o boné e saído do PSDB, eram favas contadas a vitória do partido na eleição de prefeito da capital em 2012. Seriam favas contadas também as chances de o governador Beto Richa reprisar o mandato por mais quatro anos principalmente por falta de adversários. Agora, o quadro mudou radicalmente – como chegou a reconhecer (e lamentar) até mesmo o presidente nacional tucano, o deputado pernambucano Sérgio Guerra, conforme registramos ontem nesta coluna.

A saída de Gustavo do partido deu o mote que faltava para a oposição ao governo estadual se aglutinar em torno do seu nome para disputar, unida do ponto de vista partidário, a prefeitura da capital. Mais: antecipou também a corrida sucessória de 2014.

Observe-se o seguinte: se Fruet tivesse obtido do PSDB a chancela de que seria o candidato a prefeito, Luciano Ducci (PSB) certamente se obrigaria a renunciar à decisão de disputar a reeleição. Não ficaria na chuva: poderia vir a ocupar algum posto de destaque no governo Beto Richa pelos próximos dois anos e também pelos prováveis quatro que lhe seriam garantidos pela reeleição certa do próprio Richa.

Com Fruet fora do PSDB e concorrendo por outro partido, Ducci se confirma como candidato. Candidato forte, pois ainda prefeito e contando com o apoio de Beto Richa. Não se lhe tira a vantagem inicial que tais atributos lhe conferem. Mas terá como adversário, em confronto direto, o candidato Gustavo Fruet que, de início, apresenta apenas a vantagem de ocupar o primeiro lugar em todas as pesquisas – posição volátil, sujeita a chuvas e trovoadas durante a campanha.

Ocorre que essa boa colocação nas pesquisas e a inexistência de candidatos viáveis em outras legendas funcionam como chamariz – uma espécie de afrodisíaco mais eficaz que o carneiro assado com que Fruet costuma reunir amigos – capaz de atrair os interessados em participar do banquete de conquista do Palácio 29 de Março. Basta-lhe escolher para se filiar um partido da banda contrária ao PSDB – o PDT, por exemplo – que vários outros virão atrás.

Não são poucos esses interessados. Os primeiros da fila são os petistas moderados – os que enxergam 2014. Eles são capitaneados pelo casal ministerial Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Senadora que conquistou o cargo em primeiro lugar na eleição passada e dona hoje de um cargo proeminente na República que lhe dá amplas condições de aumentar seu cacife político – Gleisi é a candidata natural do PT para enfrentar Richa naquele pleito – o mesmo pleito em que o PT concorrerá para manter Dilma Roussef no poder.

Logo, nada mais desejável do que ter um prefeito de Curitiba como aliado. Assim, não demorará muito para que o PT reveja o sonho de ter candidato próprio, sem chance de vitória, para se abraçar a Gustavo Fruet. Oferece-lhe o prestígio federal e cinco minutos de tempo na televisão.

Seguido este raciocínio, verifica-se que o quadro mudou radicalmente de três dias para cá: antes, o PSDB tinha a garantia de que poderia ganhar com facilidade em 2012 e depois em 2014. Agora, já não pode ter a mesma certeza: há adversários ocupando seus assentos.

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