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Que desdobramentos políticos podem ser esperados a partir das denúncias de que teria havido caixa 2 na campanha eleitoral de Beto Richa?

É cedo ainda para achar respostas definitivas. O que se pode dizer nesse momento é que as pretensões do prefeito de candidatar-se ao governo do estado em 2010 sofreram um abalo. Colocado na defensiva, suas energias estão sendo gastas agora para evitar que os estragos sejam maiores – o que o impede de manter a linha ofensiva em prol de seu projeto político, intensificada desde o seminário que o PSDB realizou em Foz do Iguaçu há três semanas.

Richa ainda terá de carregar este caixão durante mais algum tempo, por mais que ponha as mãos no fogo – como o fez ontem ao sair do Ministério Público Federal – ao afirmar que suas contas eleitorais estão perfeitas.

A Polícia Federal foi chamada a entrar no caso; as procuradorias eleitorais estadual e federal, idem; delegacias de polícia também estão envolvidas. Toda essa movimentação será fonte de incômoda manutenção do assunto no noticiário. Com suas devidas repercussões político-eleitorais.

Enquanto isso, o prefeito terá de manter em funcionamento pleno o seu "gabinete da crise" – um grupo de assessores que teve papel importante na campanha e participação (direta ou indireta) no indigesto episódio que redundou no triste registro das imagens de distribuição de dinheiro na sede de um comitê de campanha para, supostamente, comprar o apoio de dissidentes do PRTB.

Desse grupo, o "núcleo duro" de Richa, fazem parte o chefe de gabinete Deonilson Roldo (sempre citado como principal conselheiro político do prefeito), o diretor da Urbs Fernando Ghignone (coordenador financeiro da campanha), o procurador-geral Ivan Bonilha (coordenador jurídico), o ex-chefe de gabinete Ezequias Moreira, o secretário de Comunicação Marcelo Cattani e os deputados estaduais tucanos Valdir Rossoni (presidente do PSDB) e Ademar Traiano. É nesse conselho que se constroem as estratégias de defesa.

Entre mortos e feridos, quase todos se salvam

Se o fardo está pesado para Beto Richa, para quem estaria leve? Por enquanto, está levíssimo para o senador Osmar Dias, até agora poupado dos respingos do ventilador ligado pelos conselheiros logo após o aparecimento das denúncias. Nadam de braçada também nesse mar o governador Roberto Requião, que a tudo assiste com indisfarçável satisfação, e o candidato do PMDB ao governo Orlando Pessuti. Já o senador Alvaro Dias, em direção de quem o ventilador girou mais forte, colocado como suspeito de ser um dos mentores das denúncias, terá muito trabalho para reverter a crescente má vontade dos poderosos locais do PSDB. O que pode atrapalhar seus planos de ser o candidato do partido em 2010.

Se isso serve de consolo, a sorte de Beto Richa é que – seja ele declarado culpado ou inocente ao final da apuração e julgamento – episódios parecidos não costumam ser fatais. Tem sido frequente na história recente da política paranaense a utilização de gravações comprometedoras.

O caso Ferreirinha é o mais emblemático. Farsa montada em 1992 pelo então candidato a governador Roberto Requião, custou a derrota do adversário José Carlos Martinez – mas virou-se contra Requião quando se descobriu ser de sua autoria e/ou responsabilidade. Governador eleito na ocasião, chegou a ser cassado logo depois, mas, por artes de um excelente advogado, safou-se da encrenca. Não só se safou na Justiça como, em seguida, o povo o elegeu senador e duas vezes governador.

Casas de bingo

Foram eleitos também os deputados Caíto Quintana e Luiz Cláudio Romanelli, filmados quando pediam recursos para proprietários de casas de bingo durante a campanha de 2002.

Também é do tempo de Requião prefeito de Curitiba (1986-1989) a filmagem exibida em praça pública de um grupo de políticos municipais que acorria ao sindicato das empresas do transporte coletivo da capital em busca, supostamente, de gratificações pelos bons serviços prestados ao setor. Muitos deles eram vereadores de Curitiba, posteriormente reeleitos; outro, não vereador, ocupa hoje posto de destaque na administração Requião, que de desafeto passou a ser seu protetor. Sinal de que denúncias do tipo dessa que atingiu o prefeito Beto Richa nem sempre deixam sequelas.

Por fim, não dá para esquecer do policial Délcio Rasera, especialista em grampos telefônicos e filmagens que, até ser descoberto em 2006, prestava serviços no gabinete do governador. Até agora é a única vítima: perdeu a proteção do amigo e também a eleição para vereador. Pelo PRTB.

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