Pelo menos publicamente, nunca ninguém ouviu a ministra-chefe da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann, dizer-se candidata ao governo do Paraná em 2014. Ao contrário, até deixa prosperar os boatos de que a presidente Dilma Rousseff não a deixaria sair do posto para embrenhar-se na campanha estadual em projeto pessoal.

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O que se ouve sempre (dos outros) é que sua candidatura é natural e irreversível. Nisto concordam não apenas tanto os notáveis do PT como os adversários ou observadores isentos. Não há quem, seriamente, ponha em dúvida a inevitabilidade de que Gleisi é candidata.

Se não fala do assunto, a ministra, no entanto, se movimenta bem para consolidar a posição: estão ficando cada vez mais frequentes suas viagens ao interior do estado e seus contatos com prefeitos, com os quais cumpre agendas oficiais para anunciar programas ou distribuir tratores e retroescavadeiras. Alguém duvida que isso é campanha? Até se poderia afirmar que sua movimentação não vai além do cumprimento protocolar de seus deveres de Estado, já que ocupa posição de proeminência no governo federal, além de agir representando a presidente.

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Entretanto, há sinais negativos que não podem passar despercebidos. Eles advêm da percepção de que o PT enfrenta resistências no interior do estado. Um sintoma é o fato de não ter eleito um só prefeito de município importante do Paraná. Predominantemente agrícola e fortemente liderado por representantes do agronegócio, o eleitorado do interior costuma identificar no PT a sombra sob a qual atuam, por exemplo, grupos que invadem ou ameaçam invadir propriedades, ou que, no meio urbano, estão infiltrados nas universidades ou nos meios sindicais.

Pois bem: Gleisi parece disposta desde já a se livrar dos efeitos da rejeição ao PT que inevitavelmente se abateria sobre ela. Não que a ministra, ao longo de sua carreira de disputas políticas (foi duas vezes candidata ao Senado e uma à prefeitura de Curitiba) não tenha se mostrado "light" o suficiente para ser bem aceita pela classe média. Tanto que, por larga margem, inclusive no interior, sagrou-se vencedora do pleito para o Senado em 2010, concorrendo contra Gustavo Fruet (então tucano) e Ricardo Barros (PP, fortemente ligado aos ruralistas). Para a segunda vaga, foi eleito Roberto Requião, representante "das esquerdas" e antigo aliado do PT.

Como sabe que terá de enfrentar a rejeição ao PT e aos estigmas que marcam seu partido, Gleisi aproveitou uma situação de potencial conflito para, na semana passada, posicionar-se como protagonista de um gesto de aproximação com o interior rural do Paraná e, preventivamente, aplicou uma espécie de "vacina" contra a rejeição ruralista.

Aos fatos: diante da intenção da Funai de propor a criação de reservas indígenas na produtiva região Oeste do Paraná, com ameaça de despejo de agricultores de suas terras, Gleisi aproveitou a convocação de uma audiência na Câmara Federal para, equilibradamente, colocar-se ao lado dos produtores. Depois de informar que mandará a Embrapa fazer levantamento da presença indígena na região e de constatar que eram recentes, poucas ou até inexistentes as supostas aldeias, anunciou a suspensão dos estudos da Funai. O agronegócio respirou agradecido.

Anteriormente, como principal articuladora pela aprovação da MP dos Portos, Gleisi Hoffmann pode ter desagradado a inúmeros grupos empresariais com fortes (e nem sempre publicáveis) interesses no setor portuário, mas também irritou poderosas forças sindicais que veem na MP uma ameaça à manutenção do sistema atual, que coloca os trabalhadores portuários, desprotegidos pela legislação trabalhista, como reféns políticos de suas lideranças.

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Ponto para Gleisi que, ao ser acusada de privatista em razão desta exposição em defesa da MP dos Portos, acaba por desanuviar resistências de meios empresariais e da opinião pública contra o fato de ser petista. Ou, em outras palavras, anula o discurso dos opositores tucanos, precursores na privatização de bons nacos da economia brasileira.

No fundo, por atuações como as citadas, Gleisi vai reforçando a imagem 1) de que é, sim, candidata ao governo mesmo que não fale disto; e 2) de que não será, em grande medida, alvo da rejeição ao PT. Sua confiança, neste sentido, aumentou principalmente a partir da conquista por Gustavo Fruet do conservador eleitorado curitibano, embora ele tenha penado durante quase toda a campanha justamente em razão da aliança com o PT.

2014 está logo ali para o teste final.