Voltaire, o grande pensador francês do século 18, dizia: “é muito difícil fazer previsões, ainda mais sobre o futuro”. O prefeito Rafael Greca fez muitas previsões enquanto estava em campanha. Repetia: “se não sabem fazer, deixa que eu faço”. Nasceram de suas previsões façanhas que agora sente serem impossíveis ou mais difíceis do que imaginava.
Repetia com frequência, por exemplo, que devolveria a perdida excelência ao transporte coletivo curitibano. Com o apoio do governador, iria promover a reintegração metropolitana; em pouco tempo, iria também renovar a frota sucateada dos ônibus vencidos.
O que fez: aumentou a passagem de R$ 3,70 para R$ 4,25; “reintegrou” duas linhas metropolitanas, mas com tarifas desiguais na ida-e-volta. Por oito dias, o curitibano sofreu com a paralisação provocada pela greve de motoristas e cobradores. Por fim, cedeu a duas reivindicações dos trabalhadores que custarão R$ 500 mil por mês aos usuários – quantia que equivale a “meio” ônibus biarticulado novo para substituir um velho.
Este custo adicional entrará no cálculo da tarifa técnica – aquela que a Urbs paga às concessionárias por passageiro. O valor da nova tarifa técnica ainda não foi fixado – depende de negociações da prefeitura com os empresários do setor que devem se iniciar na semana entrante.
Também não constava de suas previsões “sobre o futuro” ter de desmentir as afirmações que fazia na campanha de que cumpriria o plano de cargos e salários dos professores municipais. “Recebi um cheque sem fundos”, proclamou, ao negar ao magistério a implantação do avanço. E, por isso, também errou na previsão de que não haveria greve do professorado que deixou milhares de alunos sem aulas na semana passada.
Previu ser possível recuperar a previdência dos servidores municipais. Tenta acertar ao propor aumento das alíquotas de contribuição, criar um fundo de pensão paralelo e, ainda, tirar dos cofres do IPMC algo como R$ 500 milhões que teriam sido pagos indevidamente ao instituto.
Como diria Voltaire: é muito difícil fazer previsões. Melhor profetizar o passado, no que ainda se sustenta o prefeito para pôr o futuro em dúvida.
A carne é fraca 1
Com uma contribuição de R$ 2,4 milhões, o grupo JBS – que detém a marca Friboi – foi o maior doador da campanha do senador Roberto Requião (PMDB) nas eleições de 2014, quando tentou seu quarto mandato de governador. Envolvido agora na Operação Carne Fraca, que flagrou relações promíscuas entre frigoríficos e agentes da fiscalização sanitária do ministério da Agricultura, o JBS é pródigo em contribuições: não escolhe cargos ou partidos.
A carne é fraca 2
Na mesma eleição, a senadora Gleisi Hoffmann (PT), que também disputou o governo na mesma eleição, recebeu R$ 8,6 milhões da Friboi. Beto Richa, reeleito, foi o menos beneficiado, tendo registrado doação de R$ 1 milhão feita pelo grupo, conforme consta na lista pública do TSE. No seu caso, a generosidade maior foi do banco BTG/Pactual, que lhe deu R$ 2 milhões.
A carne é fraca 3
Requião prega cadeia para todos os envolvidos – sejam fiscais ou empresários – metidos na maracutaia. Usa a Operação Carne Fraca como exemplo de abuso de autoridade – objeto da proposta em tramitação no Senado, da qual é relator, e que prevê punição para membros do Ministério Público, das polícias e até mesmo para juízes.
A carne é fraca 4
Richa teve outra postura: manteve-se silente diante do caos que atingiu a pecuária e a agroindústria paranaenses, fontes de grande fatia da receita estadual. Nem sequer acompanhou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, na inspeção a um frigorífico da JBS na Lapa, na terça-feira (21).
A carne é fraca 5
Todas as doações do JBS a Requião chegaram a ele via diretório nacional do PMDB – mesma situação de que penam os deputados Dilceu Sperafico (PP, R$ 930 mil), Sérgio Souza e Hermes Parcianello, ambos do PMDB e que receberam R$ 200 mil e R$ 150 mil.
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