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“Bandidos” 1

Seria “bandida” a adolescente Bárbara Silveira Alves, 16 anos, vítima de um confronto que policiais militares travaram com alguns suspeitos no momento em que a menina saía do colégio no bairro Santa Cândida? Seria também “bandido” o garoto de dez anos que estava sentadinho na porta de casa quando foi atingido na cabeça pela bala de um policial num morro carioca? São apenas dois pequenos exemplos, recentes, fartamente divulgados, ocorridos em Curitiba e no Rio.

“Bandidos” 2

Ao que tudo indica também não eram “bandidos” os quatro jovens enfiados num camburão na rua Comendador Araújo, na frente de várias testemunhas, no carnaval de 1997, quando o soldado Francischini comandava uma ronda no centro. Os jovens, detidos sob suspeita (não confirmada) de furto de um veículo, foram depois encontrados mortos num arrabalde de Curitiba com evidentes sinais de execução, conforme atestam laudos do IML. Abriu-se inquérito policial-militar, mas, dada a demora na elucidação do caso, o processo caiu na prescrição. Nesse meio tempo também o comandante da operação já havia dado baixa da PM.

“Bandidos” 3

Exemplos como estes põem por terra o absurdo argumento do ex-secretário de Segurança Fernando Francischini, que se autoelogia por, nos cinco meses em que esteve à frente da pasta, ter contabilizado 54 mortos civis em conflitos com a PM, todos, segundo ele, “bandidos”. Não se sabe quem lhe deu o poder – seria Deus? – de julgá-los e condená-los à morte, já que, mortos, não tiveram a chance de um julgamento civilizado.

“Bandidos” 4

Nem a lei – a não ser a lei da selva – protegeria o ex-secretário nas suas jactâncias de valentia. Pelo seu raciocínio, a morte de 54 “bandidos” teria diminuído o índice de “homens de bem” e “pais de família” que, no seu precário entendimento, seriam fatalmente vítimas dos prejulgados bandidos. “Bandido bom é bandido morto”, costuma repetir com um primarismo que não encontra base em quaisquer políticas sérias de segurança pública, de combate ao crime e de proteção social.

“Bandidos” 5

Foi por admirar este tipo de comportamento que Beto Richa nomeou-o secretário em dezembro de 2014 – embora tivesse sido alertado, por escrito e com antecedência, por coroneis da PM, sobre os riscos que correria. Os experientes oficiais já prenunciavam os males que, aboletado no posto, Francischini poderia causar à corporação e ao governo. O ápice do mal ocorreu em 29 de abril quando o então secretário comandou a operação-massacre de professores no Centro Cívico.

Em menos de 24 horas, o deputado Luiz Claudio Romanelli, líder do governo na Assembleia, mudou de opinião: na terça-feira ele se declarou “decepcionado” com a intransigência do governador Beto Richa de não acatar nenhuma mudança na proposta tipo “casas Bahia” de reajuste parcelado do salário do funcionalismo. Ontem, Romanelli se dizia “alegre”.

A razão para a súbita mudança de humor do deputado foi a de ter ajudado a costurar um acordo que – embora não elimine completamente o teor “casas Bahia” – permitiria às partes hastear a bandeira da paz e, sobretudo, possibilitar o reinício das aulas – na visão otimista de Romanelli – já a partir de segunda-feira. Da parte do governo, da oposição e de representantes dos servidores os sinais captados foram positivos. Mas como nada se resolve sem que as assembleias dos trabalhadores aprovem, é possível que a decisão final e definitiva só ocorra neste fim de semana.

Do otimismo de Romanelli compartilha parcialmente o líder da oposição, deputado Tadeu Veneri (PT), que também participou das tratativas no âmbito da Assembleia Legislativa. Segundo ele, o acordo proposto e subscrito apenas pelo líder situacionista e pelo presidente do Legislativo não chega a causar prejuízos financeiros aos professores e demais servidores, nem causa dificuldades intransponíveis ao caixa do governo.

“Todos estão conscientes – diz Veneri – de que não é possível continuar esticando a corda, pois ela fatalmente irá arrebentar na parte mais fraca. Por isso, o consenso é o melhor caminho para todos, o que nos faz ver com otimismo as linhas gerais da nova proposta”.

Pela proposta, o funcionalismo receberá até dezembro 3,45% de aumento, mas terá assegurado de janeiro a dezembro de 2016 a reposição mensal e integral das perdas inflacionárias de 2015 e o “zeramento” da conta até maio de 2017, acrescido de 1% de ganho real.

1 milhão de estudantes da rede pública, sem aulas por 70 dias, transmitem seus mais sinceros agradecimentos a todos.

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