Nem bem termina uma eleição, vencedores e derrotados já começam a pensar na próxima. Por exemplo: alguém aí duvida que Beto Richa já não está planejando renunciar ao mandato em abril de 2018 para se candidatar ao Senado? E, posto isto, a vice-governadora Cida Borgheti, que estará no cargo nos últimos meses, já não estaria plantando as primeiras sementes para disputar a própria sucessão?
Homem de sorte como ele próprio se define , Richa contará em 2018 com a vantagem de estarem em jogo duas cadeiras de senador, tornando-lhe confortável conquistar uma delas. A oposição, desde já conformada com a suposta inevitabilidade da eleição de Richa, disputará a segunda.
Mantido o instituto da reeleição, prenuncia-se desde já que Cida Borgheti reunirá inúmeras outras condições para sair em vantagem, sejam quais forem os oposicionistas ou situacionistas que pretendam enfrentá-la em 2018.
Se os eleitores paranaenses quiserem votar nela apenas pela sua beleza, simpatia e carisma, já a estarão escolhendo por critérios em si mesmo bastante interessantes porém nem de longe os mais importantes. É que, desde já, conta com o apoio de um verdadeiro "grupo" político representado por uma só pessoa o marido deputado federal Ricardo Barros.
Graças à sua capacidade de enxergar múltiplos lados, Barros opera bem nos bastidores. Maringaense de cuja genética se compõe o sangue político que lhe corre nas veias, anteviu todos os caminhos que ele e sua família poderiam trilhar nas eleições de 2014. E foi pavimentando cada um deles para ter certeza de qual, na hora H, o levaria ao melhor destino.
Funcionou assim: escolheu Cida para ocupar a cadeira que deixara vaga na Câmara Federal. Eleita pelo PP, não demorou muito para que ela aderisse ao nascente Pros e assumisse a presidência estadual da legenda. Ao mesmo tempo, o irmão Silvio Barros II, ex-prefeito de Maringá, do PHS, se preparava para lançar-se candidato ao governo apresentando-se como uma terceira via contra os até então únicos candidatos, Richa e Gleisi.
Nessa altura do campeonato, uma ala do PMDB se esforçava para deixar o partido ser cooptado por Richa e impedir a candidatura de Requião. A convenção peemedebista, porém, decidiu o contrário. O PMDB ficou fora da aliança e aclamou Requião.
Não poderia haver melhor cenário para a atuação pragmática de Ricardo Barros. Imediatamente, escolheu a estrada mais curta para o poder: pôs três partidos (PP, Pros e PHS) na aliança, tirou o irmão Silvio da competição, pôs a mulher na vice e, de quebra, acabou elegendo a filha Maria Victoria deputada estadual.
O xadrez manejado por Barros tem consequências internas. Não é só Cida Borgheti que reúne condições para, desde já, ir costurando sua própria candidatura ao Iguaçu. Outras forças nada desprezíveis vão se apresentar.
A primeira delas é Alvaro Dias, que garantiu sua permanência no Senado com uma votação histórica: 77% dos votos. Com 4,1 milhões de votos, suplantou até mesmo o reeleito governador Beto Richa, que fez 3,3 milhões. Impôs sobre ele nada menos de 800 mil votos de diferença quase uma "Gleisi" de vantagem.
Natural, portanto, que Alvaro se ache em plenas condições para pleitear sua candidatura ao governo em 2018 a menos que deseje alçar voos mais altos no plano nacional, cenário que já lhe garante grande notoriedade em razão de sua atuação crítica aos governos do PT.
Outro situacionista que também não descarta a chance de vir a ser candidato é Ratinho Jr., do PSC. Os 301 mil votos que o levaram à Assembleia Legislativa quase o triplo do que fez o 2.º lugar, Alexandre Curi permitiram-lhe formar uma bancada de 12 parlamentares, o último dos quais, o missionário Ricardo Arruda, com míseros 22 mil votos.
A bancada de Ratinho, embora a maior da Casa, não lhe assegura se eleger presidente da Assembleia, mas lhe dá estrutura política e capilaridade territorial para construir nos próximos quatro anos o sonho de chegar ao Iguaçu antes dos 40 anos de idade.
A oposição ainda lambe as feridas da derrota traumática no Paraná, mas nem tudo está perdido, principalmente se Dilma Rousseff for reeleita neste segundo turno. Com Requião tendo encarnado pela última vez (espera-se) o personagem do cavaleiro da triste figura imortalizado por Cervantes, a petista Gleisi Hoffmann, apesar da má performance nesta eleição, assegura o status de maior expoente da oposição no estado. Condição que terá de confirmar e ganhar mais substância nos próximos quatro anos de mandato que ainda tem a cumprir no Senado.
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