Em meio à discussão que se travou ontem na Assembleia sobre a espantosa emenda ao projeto de orçamento para 2015, pela qual o governador Beto Richa pretende usar como "cheque em branco" 15% da receita estadual boa parte dos deputados pensava mais "naquilo": quem vai presidir a próxima legislatura, a quem se aliar e que cargos pedir em troca de apoio? Os jogos eram vorazes tanto em relação à liberdade requerida pelo governador para usar livremente recursos que correspondem ao orçamento do município de Curitiba, quanto em relação à eleição da futura mesa, que só se dará no início de fevereiro.
Dois candidatos a presidente estão no páreo: o atual líder do governo, Ademar Traiano (PSDB), e o deputado eleito Ratinho Jr. (PSC). O primeiro até já distribuiu cargos virtuais e coleta assinaturas de adesão. A ansiedade fê-lo prometer posição importante até para o neodeputado Requião Filho (PMDB), rebento do principal crítico do governo Richa, senador Roberto Requião. Sem contar que entre seus aliados está também o deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), ex-líder de Requião convertido ao richismo. A ele Traiano prometeu dar a liderança do governo, muito embora esta seja uma prerrogativa exclusiva do governador.
As contas da vitória de Traiano, que já teria garantidos pelo menos 33 dos 28 votos necessários, são feitas pelos mesmos deputados que garantiam a Beto Richa que a convenção do PMDB, de junho passado, levaria o partido a ser um dos aliados na campanha de reeleição. Coisa que, todo mundo sabe, não deu certo.
Ratinho Jr., por sua vez, anda empolgado com algumas surpreendentes adesões mas se recusa a citar nomes para que pretensos eleitores não sofram represálias. Aos votos que considera "naturais" (12 do PSC e mais 14 de outros partidos), somar-se-iam os de alguns parlamentares da base governista, insatisfeitos com a condução do processo sucessório situacionista. Isto é, teria mais votos que Traiano.
Os dois são importantes aliados de Beto Richa que, diante disso, se declara neutro.
Olho vivo
Detran 1
Prestimoso colaborador e por algumas vezes personagem desta coluna, anota erro cometido na edição de terça-feira: ao contrário do que foi escrito, o Paraná não é o único estado em que o Detran não é órgão vinculado à Secretaria de Segurança Pública. O colaborador tem razão, o ato não é inédito: em 14 estados, os respectivos Detrans reportam-se a outros órgãos; mas em 13, às Secretarias de Segurança. Como se sabe, por decreto de outubro passado, o governador Beto Richa tirou o Detran da alçada da Sesp e o transferiu para a Casa Civil.
Detran 2
No texto objeto de correção, o colaborador viu a árvore e esqueceu a floresta: o teor principal do comentário referia-se ao fortalecimento da Casa Civil a partir da próxima gestão de Richa, já que, embora os milionários recursos do Detran destinem-se ao caixa único do Tesouro Estadual, o futuro titular da pasta ganha poder político que vai além de manejar maçanetas e despachar a papelada. Daí a disputa acirrada de pretendentes a ocupar o cargo.
Caros carros
A Sanepar abriu licitação para contratar a locação de carros leves para integrar a frota a serviço da empresa. A Sanepar se dispõe a pagar nada menos de R$ 25.193.355,84 pelo aluguel dos veículos o que seria equivalente à compra à vista pelo preço de loja de mil carros populares.
A quem culpar?
Tudo indica que o Paraná que já contou simultanemanete com três ministros não estará representado no gabinete da próxima gestão da presidente Dilma Rousseff. O único paranaense citado com possibilidade de vir a ocupar um ministério no caso, o da Agricultura era Osmar Dias, atual vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil. Para o lugar a presidente já teria batido o martelo no nome da senadora Kátia Abreu, presidente da poderosa Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e figura proeminente da bancada ruralista no Congresso. O fato de o Paraná ficar sem nenhum ministro trará dificuldades para o governador Beto Richa: não terá em quem jogar a culpa.
Capelania
O Hospital Evangélico deixou de atender novos pacientes desde terça-feira em razão de problemas financeiros "pontuais e internos". Desta vez não coloca a culpa na falta de repasses de recursos públicos. Mas entre servidores do hospital, incluindo alguns de seus médicos, corre a informação de gastos excessivos em prejuízo do atendimento ao público. Entre tais gastos, citam um inacreditável: o hospital teria nada menos de 31 capelães representando várias denominações religiosas, remunerados com altos salários.
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