“Político é tudo igual”, dizem os descrentes eleitores, principalmente nestes conturbados dias. A sabedoria popular vem encontrando cada vez com maior frequência semelhanças entre políticos que se dizem adversários e vivem a disparar críticas mútuas.
A “lista da Odebrecht” coloca 316 políticos e nada menos de 24 partidos no mesmo balaio. Embora ainda haja dúvida se (todos) os repasses de dinheiro registrados nas planilhas da empreiteira foram ou não legais, as aparências conduzem a uma forte sensação da natureza espúria das doações. Uma coisa é certa: nela estão escritos com todas as letras nomes de políticos e de legendas que se autodefinem como pró e contra o impeachment. A Odebrecht trata de igualá-los.
Mas não é só o fato de boa parte de nossos “representantes” beberem da mesma fonte que os faz semelhantes. São semelhantes também em outros atos questionáveis. Nos últimos dias, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff buscou repetir no plano federal a mesma artimanha que o governador Beto Richa conseguiu emplacar no Paraná. Ela tentou nomear Lula ministro Casa Civil para livrar o amigo dos constrangimentos da “República de Curitiba”. Não conseguiu; o STF barrou a intenção entendendo-a como uma velada obstrução à Justiça.
A Justiça e a polícia nunca perdem de vista os condenados a usar tornozeleiras, certo? Errado! Uma tornozeleira bem envolvida com papel-alumínio não transmite nem recebe os sinais eletrônicos que permitem o rastreamento de todos os passos, em tempo real, dos réus que respondem em prisão domiciliar. Feito isto, eles podem ir e vir à vontade e até cometer novos crimes.
Mas nem sempre dá certo. Prova-o o azar do ex-secretário de Saúde de Corbélia (Oeste do estado), envolvido em fraudes na compra de remédios. Dia desses ele foi flagrado e recolhido às grades por ter feito uso de um truque à moda do agente McGyver – personagem de uma série de televisão da década de 1980 que transformava inofensivos apetrechos em poderosas armas de defesa e destruição. A série será relançada, provavelmente enriquecida dos efeitos que o papel-alumínio exerce sobre tornozeleiras.
Do mesmo insucesso não penaram o governador e seu amigo Ezequias Moreira. Quando se aproximava a fase de ser condenado criminalmente por se apossar dos salários que a Assembleia pagava à sogra fantasma, Ezequias foi catapultado de uma diretoria da Sanepar para a posição de secretário com prerrogativa de foro.
A ação penal que corria contra ele no primeiro grau desde 2007 foi transferida para instância superior, isto é, para o Tribunal de Justiça, em junho de 2013. Como já estamos em 2016, não é improvável que Ezequias já esteja bem perto de ser beneficiado pela prescrição. Quando chegar este momento, restará ao TJ bater o carimbo de “arquive-se” bem ao estilo Red Bull – isto é, dando-lhe asas para vooaaar.
Outra semelhança entre os governos de Dilma e Richa diz respeito a delações. A presidente já disse uma vez que “não respeita delatores” e incomoda-a ver o crescimento explosivo das denúncias premiadas que alimentam a Operação Lava Jato, ameaçam seu mandato, atingem o coração de Lula e unem, como irmãos siameses, amigos e inimigos, situação e oposição – sejam eles petistas ou tucanos, democratas, comunistas, pepistas ou socialistas.
No Paraná tenta-se agora algo parecido. Na véspera do feriadão, conforme noticiou esta Gazeta, soube-se que o Estado entrou na Justiça para anular a delação firmada pelo auditor fiscal Luiz Antonio de Souza – o servidor que acendeu o rastilho para que o Gaeco, na Operação Publicano, enxergasse o tamanho do propinoduto que jorrava na Receita Estadual de Londrina. Segundo o delator, parte dos desvios milionários financiou a reeleição de Richa em 2014.
Enquanto isso, numa lista elaborada pela revista americana revista Fortune, o juiz Sergio Moro aparece em 13.º lugar entre as 50 pessoas mais influentes do mundo. Diante dela, impossível não lembrar Bertolt Brecht: “Triste é a nação que precisa de heróis”.