Nove anos após a denúncia pelo Ministério Público Federal, a Justiça Federal condenou esta semana o ex-superintendente do Porto de Paranaguá Eduardo Requião por crime de improbidade administrativa. Quando exercia o cargo durante o governo do seu irmão, o hoje senador Roberto Requião, Eduardo impediu, entre 2003 e 2007, o armazenamento e embarque de soja transgênica pelo terminal paranaense mesmo após decisões do Supremo que consideraram a medida ilegal.
Foram quatro anos de grande progresso para os portos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Santos, que passaram a receber cargas transgênicas produzidas principalmente no Paraná, Mato Grosso do Sul e Paraguai. O desvio de milhões de toneladas de soja de Paranaguá representou prejuízos de bilhões de dólares aos produtores rurais.
Os nacionais arcaram com fretes mais caros para vencer distâncias muito maiores, com graves perdas de competitividade no mercado mundial. O Paraguai, no entanto, até hoje agradece pela proibição dos transgênicos pelos irmãos Requião: os produtores de lá passaram a se utilizar de rotas fluviais – muito mais baratas que as rodoviárias – para exportar soja pelos portos do estuário do Prata. Adeus Paranaguá!
Tudo começou em 2003, quando o então governador baixou lei proibindo o plantio, a comercialização, a movimentação e o embarque de produtos transgênicos em todo o território paranaense. Barreiras foram erguidas nas divisas com outros estados. O então governador de Mato Grosso do Sul, o hoje ministro da Agricultura Blairo Maggi, apelou para o Supremo, que concedeu liminar. Mesmo assim, a ordem judicial não foi cumprida.
Apesar do tempo passado e da regularização do problema a partir de 2009, setores do agronegócio manifestam alguma constrangida satisfação pela condenação de Eduardo Requião. “Prova que tínhamos razão”, diz um de seus principais líderes, que, no entanto, ainda reclama com uma pergunta: “E quem vai devolver os bilhões de dólares que o Paraná, o porto de Paranaguá e a agropecuária perderam durante tantos anos?”.
A saúde e o fim da Oficina
“Enquanto a saúde correr riscos, não haverá música.” A frase é do prefeito eleito Rafael Greca ao anunciar sua decisão de não realizar a tradicional Oficina de Música de Curitiba que, como ocorre há 22 anos, se repetiria em janeiro próximo.
A declaração soa curiosa quando vinda de alguém que, em 1993, em meio à hiperinflação e à séria crise política e econômica que antecedeu o Plano Real, promoveu festas tão caras quanto as que levaram à iluminada Pedreira Paulo Leminski o tenor José Carrera, o roqueiro Paul MacCartney e o romântico Roberto Carlos.
Problemas com a saúde pública eram tão (ou mais) graves do que hoje quando, no ano 2000, o então ministro do Turismo gastou dinheiro grosso para construir a nau que ficou à deriva nas comemorações dos 500 anos do Descobrimento. Agora, 16 anos depois e prestes a assumir a prefeitura de Curitiba pela segunda vez, Greca já não pensa da mesma forma: deixou no passado a fama de festeiro, música virou sinônimo de desperdício e saúde, prioridade absoluta.
De fato, qualquer centavo economizado em outros setores e investido em saúde é sempre uma boa medida. Mas chama atenção a desproporção entre os recursos alocados para uma coisa e outra – entre uma atividade cultural da importância da Oficina de Música e serviços de saúde.
O orçamento para saúde em Curitiba chega a R$ 1,6 bilhão por ano. Divida este valor por 365 dias e se verá que o custo do sistema é de R$ 4,5 milhões por dia. Ou R$ 187 mil por hora. Greca nega R$ 900 mil à Oficina de Música– ou seja, menos de 5 horas do que custa a saúde pública municipal. Diante destes números, pergunta-se: o fim da Oficina é solução?
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