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Macondo é aqui? Gabriel García Márquez, o genial escritor colombiano Nobel de Literatura de 1982, criou Macondo, uma cidadezinha de ficção do interior da Colômbia. E sobre ela escreveu sua obra-prima Cem anos de solidão, o maior clássico do realismo fantástico da literatura latino-americana.

Davam-se ali, naquele lugarzinho perdido na selva e dominado pela família de Aureliano Buendía, vítima do atraso e de seus fantasmas interiores, fatos espantosos, patéticos, absurdos, surreais, inacreditáveis... Nada do que ocorria em Macondo poderia acontecer em qualquer outro lugar do mundo.

Mas...

Mas, nos últimos tempos, num outro lugar do planeta, vimos coisas de aparência real que nos levam a acreditar que García Márquez, o Gabo, encontraria nele inspiração para escrever a parte 2 de sua obra.

Nesse lugar, como no livro, tudo também gira em torno de uma família e de seus multifacetados agregados. Todos – família e agregados – mostram-se capazes de fazer da terrinha o palco iluminado de uma peça que, para mentes normais, seria de ficção: uma comédia, não fosse a tragédia que retrata a realidade infeliz desse pequeno mundo cada vez mais afastado da civilização.

Ou seria civilizado e feliz ver o chefe da família atropelar leis e súmulas para garantir o emprego dos seus? Ver instituições, que deveriam contê-lo, ser tão subservientes a ponto de integrarem-se ao processo de desmoralização coletiva?

Seria usual, fora de Macondo, criar e descriar secretarias e cargos bem pagos para não deixar parentes ao relento?

Não seria preferível creditar à ficção a notícia de que um juiz arranjou emprego para a mulher numa instituição interessada em seus julgamentos?

Seria normal em locais distantes da selva que um deputado seja recompensado com emprego para gente de sua família no mesmo dia da aprovação de um projeto que dele recebera parecer favorável?

É crível ver a multiplicação da parentalha, por vias diretas, cruzadas ou triangulares, aparelhando o Estado?

Em outros lugares, fora de Macondo, se vê um Buendía acossado por multas por falar o que não deve? Ter contas bancárias bloqueadas para quitá-las? Dar sumiço no saldo para não pagá-las?

E o pior: apesar de tudo o que se assiste, a maioria ainda tem medo do Buendía local, pois está convicta de que ele fez Macondo ressurgir por aqui.

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Roque, outro surreal

Entra também na categoria do realismo-fantástico o episódio protagonizado pelo candidato à prefeitura de Paranaguá, o ex-prefeito da cidade Mário das Dores Roque, que, num vídeo bombástico, derrubou do pedestal o santo de sua antiga devoção: o governador Roberto Requião.

Em 26 minutos de uma gravação postada no Youtube, o iconoclasta Mário Roque desfia sua oportuna raiva contra o padrinho e protetor e coloca na mesma roda o irmão Eduardo Requião, superintendente do porto.

Por quê? Porque se ele já contava como perdida a eleição pelo simples fato de ser apoiado pelo governador, percebeu que sua vaca tinha acabado de se atolar no lodo que assoreia o canal da Galheta quando o governador decretou intervenção estadual no município. Então, o melhor é agora parecer inimigo dele.

A intervenção tinha o nítido propósito de desmoralizar o atual prefeito e candidato à reeleição, José Baka Filho, e, deste modo, derrubá-lo do favoritismo. O feitiço virou contra o feiticeiro, pois o ato foi compreendido pela população como uma tentativa de golpe.

Desesperado e naufragando na baía, Roque deu em Requião o abraço do afogado: levou para o fundo quem, desastradamente, pretendia salvá-lo. Não só usou de adjetivos impublicáveis contra o governador como também denunciou Dudu Requião como autor de grossas maracutaias na administração portuária, com suposto conhecimento e proteção do irmão.

Nesse sentido, pode ter prestado um bom serviço: Assembléia afundará junto o conceito que lhe resta se se recusar a aprovar a convocação de Mário Roque, proposta pelo deputado Valdir Rossoni, para esclarecer as denúncias que fez.

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Olho Vivo

Que Chico? (1)

No vídeo em que desanca o governador e o irmão Eduardo Requião, Mário Roque cita um certo Chico como sócio obscuro na área portuária. Como há dois ‘Chicos’ com ligações ditas perigosas serra abaixo, é preciso saber a qual deles se referia. Um é um ex-garçom de Curitiba que, acusado de concorrência desleal, foi ameaçado de perder o emprego. Como, em troca, mandou avisar que contaria tudo, teria sido recontratado às pressas. O outro, com sobrenome de marca de uísque, veio do Rio de Janeiro.

Que Chico? (2)

Espera-se para hoje, na "escolinha", que Requião responda a Roque. Ontem, o que se viu foram tímidas notas oficiais assinadas por Rafael Iatauro e Eduardo Requião.

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