Tempos atrás, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, disse que o Paraná tinha “ilhas de prosperidade”. Referia-se à abundância de recursos orçamentários com que contam o Legislativo e o Judiciário, inversamente proporcionais às próprias necessidades, e em detrimento do Executivo, vítima de escassez crônica.
Mais comedido nas palavras, mas mais assertivo nos propósitos, o secretário disse em tom de lamento, na quarta-feira (24), na Assembleia – durante a prestação de contas do último quadrimestre de 2015 – que, com o que sobra nos outros poderes, seria possível fazer muito mais para a população.
E conclamou os próprios deputados a, nas próximas leis orçamentárias, reduzirem os porcentuais destinados ao demais poderes. Ou mesmo, como acontece em outros estados, nem fixar porcentuais, mas aprovarem orçamentos realistas para as instituições.
Nos últimos quatro anos, por exemplo, a Assembleia “devolveu” ao Executivo
R$ 850 milhões que não precisou para custear as próprias atividades. Numa situação de emergência, o Tribunal de Contas e o Ministério Público também fizeram devoluções voluntárias para o governo estadual pagar o 13.º salário do funcionalismo.
Então, faltaria o Tribunal de Justiça fazer, voluntariamente, o mesmo gesto. Mas depois da refrega pública que Mauro Ricardo teve com o presidente do TJ, desembargador Paulo Vasconcelos, o secretário da Fazenda não parece mais muito disposto a encarar a briga com a mesma animosidade. Jogou-a à responsabilidade da Assembleia para quando os deputados forem votar a próxima LDO.
É esperar para ver até onde vai a coragem das bancadas majoritárias que, normalmente, seguem a orientação emanada do Palácio Iguaçu. Terão eles “vontade política” para enfrentar o TJ? Uma regressão histórica das relações entre o parlamento e o judiciário paranaenses aponta para um fato: o secretário da Fazenda jogou palavras ao vento.
No mais, para espanto dele, Mauro Ricardo chegou até a receber elogios de alguns deputados da oposição pela aparente recuperação das finanças estaduais – fruto do ajuste fiscal que exigiu camburões para condução coercitiva de parlamentares ao recinto da Assembleia para votá-lo e que redundou, ao final, na sangrenta batalha do Centro Cívico em 29 de abril do ano passado.
Os episódios renderam ao secretário o apelido de “Maurinho Malvadeza” e ao governador Beto Richa, os mais baixos índices de aprovação dentre seus homólogos no país e nunca antes experimentados pelos seus antecessores.
Uma coisa, porém, é certa: apesar de o secretário da Fazenda ter aparentemente convencido os deputados de que as finanças do estado estão muito melhores em relação à desastrosa situação que ele encontrou quando assumiu, no início do ano passado, ele próprio não está convencido. Insaciável, disse que precisa de mais dinheiro em caixa, agora não só elevando impostos, mas, sobretudo, arrochando a fiscalização e combatendo a sonegação. Cuidem-se todos.
O ex-prefeito Rafael Greca já não consegue esconder sua alegria por, subitamente, ter se transformado na cereja do bolo. Tem sido cortejado por muita gente que acha que só ele pode definir a eleição em Curitiba. Ou seja, seria atualmente o único dos seis (sete, oito...) candidatos capaz de fazer frente ao favoritismo que costuma bafejar os candidatos à reeleição – no caso, Gustavo Fruet.
Greca nega a existência de “acordo, acordinho ou acordão” com qualquer outro grupo político e diz que as notícias que têm sido veiculadas não têm “fulcro em velcro; não colam”. E continua: “Não tenho paciência nem tempo para minuetos palacianos, conchavos políticos, conversinhas de pé de ouvido”. Em suma, ele está montando o bloco do “eu sozinho” – o que não deixa de ser uma manifestação de coragem a ser conferida em futuro breve.
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