Tem gente que anda desconfiada da genialidade de Requião e começa a achar que ela pertence à categoria das lendas urbanas. Vejam só: graças a uma decisão do governador, a Sanepar acaba de ser rebaixada na classificação da Moodys a agência internacional que mede o risco das empresas com ações negociadas em bolsa. O que a Moodys quis dizer com isso é que os papéis da estatal paranaense não são exatamente um bom negócio para os investidores.
Dada à ojeriza que devota ao mundo capitalista, compreende-se a dificuldade de Requião entender (e conviver) com as peculiaridades do mercado financeiro mas o espanto foi geral quando, na semana passada, exigiu que a Sanepar devolvesse aos cofres públicos R$ 760 milhões que o governo investiu na companhia ao longo dos últimos anos.
Em princípio, esse valor seria convertido em participação acionária do estado no capital da Sanepar e seria usado para reduzir a quase nada a participação relativa do sócio privado, o grupo Dominó, detentor hoje de 39% do capital. O Dominó entrou na Justiça e barrou a realização da assembléia convocada pela Sanepar para mudar a composição acionária.
Revoltado com a decisão judicial, Requião "vingou-se" e exigiu o dinheiro de volta, com o argumento de que, com ele, constituiria uma nova empresa de saneamento, puramente pública e livre do indesejado sócio Dominó. Como, claro, a Sanepar não tinha esse dinheiro guardado debaixo do colchão, contabilizou os R$ 760 milhões como empréstimo na prática, assumiu uma dívida de curto prazo junto ao Tesouro estadual, conforme decisão também considerada espantosa que o Conselho de Administração da companhia tomou na semana passada.
Resultado: a Moodys, ao saber da situação, entendeu que, dadas as atuais restrições mundiais de crédito e devido ao já alto índice de endividamento que a companhia apresentava, tornou-se arriscado investir em papéis da Sanepar, por falta de garantias. Ou, em outra interpretação, diminuiu o valor da empresa.
Mas a coisa é ainda mais grave: além de não conseguir o objetivo de receber imediatamente o dinheiro de volta, a cobrança de Requião provocou outro indesejável efeito reduziu drasticamente a capacidade da Sanepar de tomar novos financiamentos para custear futuros projetos no estado.
Capitalismo e mercado financeiro não são para amadores.
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Olho vivo
Quebra-cabeça 1
O Tribunal de Justiça já quebra a cabeça em busca de uma solução para o problema que surgiu com a eleição de anteontem: a criação de um inusitado mandato de um ano e meio, quando o regulamentar é de dois anos. O novo presidente (Carlos Hoffmann) e os dois vices (Ruy Fernando de Oliveira e Manassés de Albuquerque) deixarão os cargos sete meses antes do fim do mandato, alcançados pela aposentadoria compulsória dos 70 anos.
Quebra-cabeça 2
A nova gestão começa em 1º de fevereiro próximo e termina na mesma data de 2011. Como não há lei ou regulamento prevendo um tampão para cobrir as vacâncias criadas antes dos seis meses finais da gestão, já se pensa na necessidade de antecipar o próximo pleito.
PT apóia 1
A direção estadual do PT já emitiu vários sinais de insatisfação em relação ao governo estadual. A bancada estadual do partido, no entanto, parece que não comunga do mesmo sentimento. E, por isso, vai votar em peso a favor da minirreforma tributária de Requião, hoje, na Assembléia. Foi o que assegurou ontem o líder da bancada, deputado Péricles de Mello, ao afirmar que as políticas públicas colocadas em prática no estado condizem com o pensamento petista.
PT apóia 2
Sendo assim, embora tenham sido liberados pela direção partidária para votar como quiserem, Péricles anunciou que a tendência dos deputados é pela aprovação do aumento dos impostos, com certas ressalvas presentes nas emendas que apresentaram. Ele não fez menção ao exemplo dado por Lula, que até agora como, aliás, fez o resto do mundo não pensou em aumentar a carga tributária de ninguém.
Tratoraço
O projeto de reforma tributária recebeu 48 emendas de plenário e por isso não foi votado ontem. Teve de retornar à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para que seu relator, o deputado Reni Pereira, incorpore as emendas que considerar aceitáveis. A CCJ se reúne extraordinariamente hoje no começo da tarde e, já em seguida, o substitutivo-geral será encaminhado à votação final no plenário. Se ficar a contento do governo, o tratoraço vai aprová-lo sem problemas.