Ao tomar posse em seu segundo mandato como presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), na última sexta-feira, o empresário Edson Campagnolo encerrou seu discurso com um bombástico apelo – “vá para casa, Dilma!” Era um protesto contra a enxurrada de impostos e a desestruturação da economia nacional promovidas pelo governo, que ameaçam a sobrevivência do setor produtivo e atingem pesadamente a plebe trabalhadora.
Urgência 1
Apesar da complexidade da versão 3.0 do pacote tributário enviado à Assembleia, os deputados não terão tempo para examiná-lo nem debatê-lo. Até mesmo se quisessem aperfeiçoá-lo sem desgastar o governo. É que foi recusado o requerimento do deputado Nereu Moura (PMDB) que pedia a retirada do regime de urgência para a votação do projeto. O parlamentar prometeu entrar com recurso, mas a chance de reverter a decisão é diminuta frente à obediente maioria das bancadas governistas.
Urgência 2
Simples advertências ouvidas nos corredores e manifestações de alguns setores já fizeram o governo admitir mudanças e supressões na versão original. Por exemplo: já não serão discutidas nesta etapa as alterações de alíquotas do imposto sobre doações e heranças. Permanecem, no entanto, pontos polêmicos que mereceriam reflexão por tempo mais alongado do que o previsto no regime de urgência.
Urgência 3
É o caso da criação do fundo de combate à pobreza, que será abastecido com parte do ICMS incidente sobre produtos supérfluos, como cigarros e bebidas. O governo estima que o fundo arrecadará R$ 400 milhões por ano. Este montante não entrará no cálculo das cotas-partes que legalmente deveriam ser destinadas aos municípios e aos demais poderes. Os prefeitos gritam, o Judiciário reclama.
Urgência 4
E também está no projeto a possibilidade de o governo estadual privatizar parcelas do capital acionário de estatais, como a Copel e a Sanepar. Tudo faz parte da mesma estratégia: abastecer o caixa único do governo com tudo o que for possível. O caixa único permite dessas coisas: se, por exemplo, “sobrar” dinheiro do fundo de combate à pobreza, o Executivo pode gastar o saldo como quiser. E é tudo muito urgente.
Talvez Campagnolo tenha se inspirado nas marchas dos ditos “coxinhas” que têm tomado as ruas do país nos últimos meses. Ou, quem sabe, a frase se transforme num daqueles cartazes empunhados pelas mesmas madames que costumam bater panelas.
Seja como for, Campagnolo certamente vocalizou em poucas palavras o desejo de muita gente. Segundo as pesquisas já envelhecidas de um mês, 85% dos brasileiros repudiam o governo Dilma; apenas 7% o aprovam – índices que podem até ter piorado nos últimos dias dado o esforço hercúleo da equipe econômica em distribuir suas maldades indiscriminadamente entre gregos e troianos.
Espantoso não foi apenas o tom do discurso, mas também a ocasião e para a plateia para quem foi proferido – especialmente porque, não faz muito tempo, Campagnolo se derramava em elogios ao governo federal e ensaiava uma aproximação política com o PT. Desta vez, virou o disco.
E não poupou, para manter a lógica, também o governo estadual que, com a mesma fúria arrecadatória, se esforça para reequilibrar as contas públicas depauperadas durante os quatro anos do primeiro mandato. Ouviram o discurso políticos de todos os lados. Lá estavam o secretário chefe da Casa Civil de Beto Richa, Eduardo Sciarra (a quem se deu voz para explicar os pacotes tributários do seu governo), a senadora petista Gleisi Hoffmann e o senador tucano Alvaro Dias.
Ofendidos ficaram os deputados estaduais. Também presente ao evento, o líder do governo Luiz Claudio Romanelli usou da tribuna ontem para condenar a postura crítica de Campagnolo em relação à Assembleia Legislativa, dócil em aprovar os pacotaços de Richa e de seu secretário da Fazenda, Mauro Ricardo da Costa.
Romanelli deu a deixa para que o presidente da Assembleia, Ademar Traiano, cometesse também um discurso patético em defesa dos deputados. Não faltaram bravatas do tipo “não é um dirigente de federação que vem nos dizer o que fazer”. E estendeu suas condenações à OAB/PR por não tê-la visto defendendo a Assembleia quando esta, “obedecendo a uma ordem judicial”, desconheceu o clamor popular e aprovou o confisco da Previdência no fatídico 29 de abril.
Enfim, todos apareceram mais do que se tivessem melancias penduradas ao pescoço. De útil mesmo para resolver o sufoco generalizado pelo qual passam o estado e o país, nada. Apenas palavras, muitas palavras.
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