É uma pena que os governos que se sucedem se achem sempre muito melhores que os anteriores. Isso faz parte da lógica política tupiniquim, encalacrada no hábito de enaltecer seus próprios feitos, sejam eles reais ou irreais. Acreditam que a propaganda, mesmo enganosa, é insumo indispensável para fabricar sua própria glória. Por isso, lançam mão desse recurso com a maior sem-cerimônia.

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Vivemos os longos tempos do governo Roberto Requião, useiro contumaz da técnica da exaltação de seus atos. Apregoava coragem, seriedade, austeridade, competência, eficiência, operosidade – atributos facilmente desmontáveis à vista dos discutíveis resultados que obteve. A coragem se pareceu mais como pura bravata, como ficou claro no "abaixa ou acaba" do pedágio; a seriedade e a austeridade se esvaíram, por exemplo, ao simples exame do que aconteceu no Porto de Paranaguá; as decantadas competência e operosidade tiveram como resultado um estado que cresceu muito menos que a média brasileira durante o período.

Salvo por algumas obras importantes, porém incompletas (como a dos hospitais regionais), não se sabe tenha o governo Requião realizado investimentos que possam receber o adjetivo de estratégicos em termos de infraestrutura de que o Paraná continua ainda tão carente.

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Passado esse período histórico, sob Beto Richa iniciou-se outro que se esperava fosse nada parecido com o do antecessor. Seria, pelos estratos político-ideológicos que os diferenciam, algo muito distinto. Entretanto, transcorridos pouco mais de três meses do novo governo, já se notam semelhanças com o velho, que bem poderiam ser evitadas.

A semelhança começa pela insistente rememoração do passado triste para justificar o que ainda não se fez no presente. Assim como Requião insistiu em culpar Lerner pelo lastimável estado das finanças públicas para explicar a própria fraqueza, Beto o sucede acusando-o do mesmo mal. Não se tirem de um ou de outro razões mais que verdadeiras ou plausíveis para a análise de seus antecessores – mas o mal se situa no fato de que não produziram fatos novos. Um e outro, independentemente do tempo de exercício no cargo, não mostraram ao distinto público o rumo que o Paraná deve tomar. A sensação é de que o estado ainda navega sob as (mesmas) forças da inércia, sem bússola, astrolábio ou estrela para orientá-lo.

Artifícios não escondem a falta de mudanças

Enquanto nada de importante ou de definidor do perfil da nova administração acontece, recorre-se a artifícios que, supostamente, poderiam levar à noção de que há governo – como sempre, um governo austero, sério, realizador... Recorre-se, na verdade, a factoides – palavra que a Wikipedia define como "um fato divulgado com sensacionalismo pela imprensa, verdadeiro ou não. Trata-se também de propaganda política mal intencionada."

O mais lustroso exemplo surgiu em março, quando Beto Richa, num aparente ato de coragem, declarou extintas as aposentadorias dos ex-governadores. Justo no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) se encontra prestes a tomar decisão sobre o caso – provavelmente, como tem ocorrido em causas julgadas relativas a outros estados, de forma muito mais ampla do que previu a medida tomada por Beto. Beto Richa preservou as aposentadorias dos governadores anteriores a 1988 – e, consequentemente as pensões de suas viúvas –, ao passo que decisões judiciais já não fazem distinção entre benefícios concedidos antes ou depois da nova Constituição. São, num caso ou outro, tão ilegais quanto, sobretudo, imorais.

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Outro fato que se inscreve no rol da tentativa de fazer propaganda enganosa data da semana que passou, quando a Secretaria da Segurança divulgou o relatório trimestral da criminalidade no estado. Não se fez a afirmação taxativa de que a queda dos índices (21% em relação ao primeiro trimestre do ano passado) se devia à nova política implantada no setor, mas o festivo noticiário do governo atribuía o sucesso ao novo ânimo dos policiais – um fenômeno de geração espontânea verificado justamente de janeiro para cá.

Espertamente, se escondeu o fato de que os números da violência no primeiro trimestre de 2011 são até um pouco maiores do que os do último trimestre de 2010. E que os trimestres anteriores do ano passado já apontavam a tendência de declínio dos índices. Logo, na verdade, nada mudou ainda na segurança pública, mesmo porque o Paraná continua ostentando taxas descomunais, maiores até do que as de metrópoles tradicionalmente tidas como as mais violentas do país.

Como diria Cícero na Catilina: "Oh! tempora, oh mores." Ó tempos, ó costumes... Mudam os tempos, mas os costumes continuam os mesmos...