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O vice-presidente da República e cacique nacional do PMDB, Michel Temer, cumpre hoje em Curitiba uma jornada que colocará à prova a sua reconhecida capacidade de surfar sobre as mais tormentosas ondas. É num almoço para 500 pessoas em Santa Felicidade que o aflito grupo que apoia o lançamento do senador Roberto Requião como candidato do partido ao governo estadual espera a bênção de Temer.

No lado oposto, os deputados estaduais que brigam para que o PMDB entre na coligação de apoio à reeleição do tucano Beto Richa acreditam ter aplicado uma vacina em Temer. Acompanhados pelo ex-governador Orlando Pessuti, dois deles (Luiz Cláudio Romanelli e Caíto Quintana) estiveram na terça-feira em Brasília para pedir-lhe que se mantenha neutro e que deixe a convenção estadual livre para se decidir até mesmo pela aliança com o PSDB.

Se a vacina produziu o efeito desejado pelo trio talvez não se saiba nem mesmo após o desbaste das últimas asinhas de frango que o Restaurante Madalosso servirá aos convivas. O mais provável é que Temer procure uma boa tangente para sair da enrascada de ter de tomar uma decisão salomônica ou de fazer uma "escolha de Sofia". Do fundo do coração, o que ele mais quer é que o PMDB estadual não titubeie em apoiar a chapa Dilma-Temer – o que, aliás, já lhe foi prometido pelos dois lados.

O problema dele é não causar indigestão entre os requianistas, pois foi deles a iniciativa de promover o almoço com a esperança de ouvir a voz do Olimpo proclamando uma posição favorável à candidatura do ex-governador e atual senador. Temer sabe que se o fizer ampliará a fissura interna do partido no plano estadual.

Para não desagradar a uma facção, terá de agradar a todas. Para isso, basta-lhe deixar que o partido se decida por conta própria e pelo voto na convenção do dia 20 de junho. E todos poderão se dar por satisfeitos ou, no mínimo, não terão o direito de reclamar.

Numa convenção livre, sem intervenção do diretório nacional, poderá ser acatada qualquer das quatro opções possíveis defendidas por igual número de correntes do PMDB paranaense.

Duas parecem ser as mais fortes – a dos deputados que querem a aliança com Richa e a dos que preferem o lançamento de candidatura própria. Dentro dessa última, há os que querem Requião como candidato e os que acreditam que Pessuti seria uma solução mais palatável. Uma quarta ala, menos numerosa e influente, é formada pelos que querem reproduzir no Paraná a coligação PT-PMDB, isto é, gostariam que a legenda embarcasse na chapa da petista Gleisi Hoffmann.

Mas por que gastar tanta tinta com esse assunto? Por uma razão que os leitores certamente considerarão plausível: a convenção do PMDB pode representar uma prévia do resultado que se colherá nas urnas de outubro. Ou seja, o pleito começará a ser decidido a partir da opção que o partido adotar.

Ainda que se considere a participação das "terceiras vias" que se apresentam para a disputa (Joel Malucelli pelo PSD e Rubens Bueno pelo PPS), a coligação do PMDB com o PSDB colocará Richa em confronto direto com a senadora Gleisi Hoffmann – o que significa que a eleição tende a se definir já no primeiro turno.

Já a opção pela candidatura própria, seja com Pessuti ou com Requião, pode dar contornos emocionantes à disputa, que se ferirá entre as três mais fortes lideranças políticas em atuação no estado atualmente, tornando-se inevitável a necessidade de um segundo turno. E, neste caso, o resultado que se pode prever, à distância temporal dos quatro meses que nos separa do 5 de outubro, é um grande ponto de interrogação.

É esta incômoda interrogação que explica o mal disfarçado interesse de Beto Richa em ajudar os peemedebistas que o apoiam a ganhar a convenção. Sem Requião ou Pessuti no páreo, suas chances aumentam.

Junta-se à sua vontade a vontade também da grande maioria dos 13 deputados que compõem a bancada do PMDB na Assembleia. Eles fazem cálculos: uma coligação com o PSDB garantiria a reeleição de boa parte deles, mas uma campanha com candidato próprio a governador levaria a bancada a se reduzir à metade.

Moral da história: salvo surpresas de última hora, quase ninguém tem nada a temer com a visita de Temer hoje, pois a tendência é a manutenção do mesmo cenário por pelo menos mais alguns dias.

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