Fim de ano e começo de outro é tempo de fazer profecias. Os videntes se esbaldam, erram quase tudo, mas, ainda assim, retornam no ano seguinte para nos revelar o que dizem os astros. Erram de novo. A única profecia que sempre dá certo é aquela que se faz depois da obra pronta.
Duro mesmo é prever o futuro. Nem mesmo Nostramus deu conta de predizer com certeza o que viria séculos depois. Inteligentemente, o alquimista e vidente que viveu no século 16 usou o truque de escrever suas Centúrias de modo a permitir que cada um pudesse adequá-las ao que melhor lhe aprouvesse. Daí a fama que conquistou de “acertar tudo”.
Tome, por exemplo, a 12.ª quadra da Centúria I transcrita em seguida. Dê nomes ao sujeito da quadra, preste atenção nos adjetivos, modifique o topônimo nela referido e verá que Nostradamus estava predizendo situações que viveríamos muito perto de nós 500 anos depois, em 2015. Assim escreveu Nostradamus:
“Logo ele será chamado mentiroso,
selvagem, facilmente tentou
depressa elevado de baixa para alta condição.
Ele virará desleal e volátil de repente.
Este homem governará Verona.”
Não cai bem? Após rapidamente progredir na carreira – em poucos anos saiu de suplente de vereador para alçar cargos mais altos –, ele maravilhava os eleitores em 2014 contando potocas sobre a solidez financeira e o progresso estrondoso da terra que governava. E ainda prometia que o melhor estava por vir. “Desleal e volátil”, logo no começo de 2015 viu-se que não dizia a verdade, pois de repente se obrigou a elevar impostos, a negar aumentos justos e a impor confiscos imprevidentes goela abaixo. Causou tanta celeuma que precisou reagir à revoltada turba valendo-se de secretários dançantes, camburão de deputados, militares obedientes, cães ferozes, bombas de gás, balas de borracha... A selvageria fez 213 feridos.
Nada, porém, aconteceria aos responsáveis. Salvo pelo pedido espontâneo de exoneração do bailarino e de alguns fardados, Nostradamus talvez estivesse pensando no IPM da Polícia Militar quando tomou da pena para escrever esta quadra:
Prescrição 1
Arrasta-se no Tribunal de Justiça o processo em que é réu por peculato o secretário especial do Cerimonial do governo, Ezequias Moreira. Em junho de 2013, a ação criminal a que respondia na primeira instância estava pronta para ser julgada, mas, para sorte sua, na véspera foi nomeado secretário. Por ter ganhado foro privilegiado, o processo subiu para o TJ. Desde então a ação não anda.
Prescrição 2
A seguir esta marcha, chegará logo o dia em que o crime estará prescrito. A pena máxima é de 11 anos, mas a mínima é de dois anos de cadeia. Caso ele venha a ser julgado e condenado, digamos, à pena “média” de cinco anos, a prescrição retroativa se dará em janeiro próximo. Ezequias responde a uma ação do Ministério Público por ter se apropriado de mais de R$ 500 mil em salários que a Assembleia pagava à sua sogra, que nunca deu expediente.
Batalha será forte e severa:
Três se renderão, e para eles perdão:
Para o resto fogo e sangue, fatiados e cortados.
Já a profecia de que “o melhor está por vir” (não se disse para quando) não foi feita por Nostradamus e ainda precisa ser comprovada pelos fatos. Se o “melhor” a que ele se referia dizia respeito apenas a botar as contas em dia, o êxito parece ter sido apenas parcial em 2015, já que são grandes as carências em todas as áreas e ainda se corta recursos de outros poderes porque fazem falta até para pagar a folha de pessoal.
Outra profecia só poderá ser confirmada ou desmentida neste próximo ano: ela fala em quase R$ 7 bilhões em investimentos que farão chover obras por todo canto. O povo reza para que ela se realize. Nostradamus não escreveu nada sobre este magnífico evento.
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