Olho vivo
Herança 1
Quando o presidente Lula assumiu em 2003, reclamou da "herança maldita" que lhe fora deixada pelo antecessor Fernando Henrique. Se dissesse que encontrara tudo em ordem, teria de mostrar serviço desde o primeiro dia, em regime de continuidade o que implicaria em ab-rogar da condição de líder da oposição que representara ao ao longo das décadas anteriores. Da mesma forma, Requião, que sentou na cadeira que Lerner ocupava antes, fez campanha ainda mais forte sobre a "herança maldita" que recebera. O Paraná estava falido, dizia Requião.
Herança 2
Beto Richa não inovou nessa técnica: também informou que encontrara o Paraná em situação pré-apocalíptica, tantas eram as dívidas, os restos a pagar, o sucateamento das estruturas, a administração desleixada e os gastos irresponsáveis. Relatórios apontavam um rombo de R$ 4,5 bilhões nas contas. Tratava-se de um modo de informar o distinto público que aquelas promessas que havia feito na campanha não seriam realizáveis a curto prazo culpa não dele, mas de Requião e Pessuti, os dois últimos governantes.
Herança 3
Veio agora, esta semana, o relatório do Tribunal de Contas, que desmente a visão catástrofica de Richa: as contas estão em ordem; ao invés de rombo, há até saldo em caixa. Em quem acreditar? O governo está na obrigação de provar que o TC errou caso contrário, será justo que o povo passe a exigir mais rapidez no cumprimento das promessas de campanha.
Humildemente, esta coluna reconhece que deve uma bala de hortelã aos leitores que já imaginavam que o relatório da Comissão de Ética da Câmara Municipal proporia punição ao presidente da Casa, vereador João Cláudio Derosso. Na edição de quinta-feira, mesmo dia em que a Comissão divulgaria seu veredito, a coluna, equivocadamente, dizia que o enrolado Derosso sairia de lá prestes a galgar o altar da canonização.
Ledo engano da coluna: o relatório do vereador Jorge Yamawaki (suplente, PSDB) reconheceu que o presidente cometeu irregularidade ao assinar contrato com agência de propriedade de funcionária da Casa. E que, depois de casado com ela, firmou também aditivos que transferiram à agência R$ 5 milhões. Por causa disso, o relatório sugeriu punir Derosso com o afastamento do cargo por 90 dias.
A primeira votação do relatório ainda será no âmbito da Comissão de Ética, na manhã desta segunda-feira, já que dois dos seus cinco membros se insubordinaram contra o teor do documento. Um deles é a vereadora Noêmia Rocha (PMDB), que, ao apresentar seu voto em separado, proporá a cassação de Derosso. O outro voto em separado será de Valdemir Soares (PRB), que provavelmente pedirá punição mais suave, só uma advertência.
O voto de Noêmia Rocha está, de antemão, derrotado. Os demais membros da comissão não a acompanharão. Sobrarão para a decisão final, portanto, o "rigoroso" voto do relator Yamawaki e o que conterá a amena advertência do pastor Valdemir. Ou seja: ou a Comissão referendará a recomendação de suspender Derosso ou reduzirá a pena para uma simples advertência.
Dificilmente a decisão final acontecerá antes do feriadão dessa semana. Nenhum leitor se inscreveu para disputar a bala de hortelã, mas a guloseima continua guardada para a próxima etapa do processo de julgamento: o relatório final da Comissão ainda precisará ser votado pelo plenário da Câmara consistório de 38 vereadores que, nunca antes nesses 15 anos em que Derosso ocupa a presidência, ousou causar-lhe a mínima contrariedade, o que faz supor, outra vez, que os vereadores não se negarão a impedir que Derosso suba ao altar da santidade. A bala de hortelã, portanto, continua em jogo.
Enquanto isso, aguarda-se o início dos trabalhos da CPI já instituída e composta por nove vereadores sete deles da situação. Ainda falta eleger presidente e relator, cargos aos quais a oposição não galgará. Só depois disso é que começarão as investigações, voltando-se ao lenga-lenga já quase esgotado do ponto de vista de sua evidente ilegalidade, para não falar da imoralidade da contratação da Oficina da Notícia, a agência da mulher de Derosso.
É quase certo que faltará empenho da CPI para investigar o papel que representava a outra agência contratada, a Visão Publicidade, que administrou R$ 25 milhões da Câmara verba cinco vezes maior do que aquela destinada à Oficina da Notícia. Tanto num quanto no outro caso, o importante será acompanhar o dinheiro gasto até o seu destino final, não só por meio do exame de notas fiscais mas, sobretudo, pela quebra de sigilos bancários. Aliviada, a CPI alegará que não dispõe (felizmente!) de prerrogativas legais para chegar a esse ponto.
Ah! aquela bala de hortelã...
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