Toda vez que se acha em dificuldades, o governo apressa-se em sair à caça de culpados ou para desviar a atenção do distinto público para outro assunto ou para eximir-se das próprias responsabilidades.
A bola da vez é o ex-procurador-geral do Estado Sérgio Botto de Lacerda, atingido por petardos de origem obscura dando-o como responsável pela sucessão de causas mal-resolvidas que degradam a imagem do governo, de que são exemplos a promessa do "baixa ou acaba" do pedágio, a fracassada proibição de transgênicos e, ultimamente, a questão pendente da multa que o Paraná paga à União por não honrar títulos envolvidos na privatização do Banestado.
Informações supostamente vazadas da última reunião semanal do projeto "Mãos Limpas", na segunda-feira, davam conta de que a atual procuradora-geral do Estado, Jozélia Broliani, sob aplausos de Requião, teria feito críticas a Botto, seu antecessor no cargo. As ações movidas contra atos do governo Lerner não tiveram sucesso porque foram tecnicamente mal fundamentadas e mal elaboradas, teria dito.
Jozélia, que trabalhara com Botto como assessora direta durante todo o mandato anterior de Requião, participando da elaboração de todos os pareceres, desmente ter feito qualquer crítica ao antecessor de quem se diz também amiga e admiradora e insinua que teriam partido de um funcionário público as "mentiras que não contribuem em nada para o interesse público e do povo paranaense".
Jozélia e Botto conversaram ontem. Superaram o mal-estar dos primeiros dias e fizeram juras de amizade e respeito recíprocos.
Entretanto, a paz entre os dois não faz sucumbir o principal: a quem interessava semear a discórdia? A quem interessava eleger Sérgio Botto como o culpado da vez?
Botto acredita saber muito bem a quem interessa e dá o nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva.
O culpado da vez 2
O primeiro sinal que leva o ex-procurador-geral a identificar na pessoa de Requião a autoria das maledicências circulantes está no fato de o governador não ter tomado nenhuma iniciativa para desmentir que o assunto tenha sido tratado na reunião do Mãos Limpas da forma como a supostamente descrita por Jozélia Broliani.
"Faz parte do método de ação de Requião manipular pessoas para atingir outras", diz Sérgio Botto. No caso, serviu-se da credibilidade da procuradora para arrumar um culpado.
Depois de afirmar que está com a consciência tranqüila em relação à qualidade técnica e jurídica do trabalho que desenvolveu, Botto diz lamentar que Requião tenha colocado a respeitabilidade da Procuradoria-Geral do Estado no "meio desse fogo cruzado", com requintes de sordidez. "Isso é banditismo, contra o qual vou lutar; vou à Justiça processar essa gente se houver qualquer nova tentativa de denegrir minha honra", finaliza.
O culpado da vez 3
A Associação dos Procuradores do Paraná também tenta apagar o incêndio. Em nota distribuída ontem, a presidente Vera Grace Cunha atribui a "interesses ocultos" a tentativa de desestabilizar a Procuradoria-Geral e sua titular, Jozélia Broliani. A nota prossegue com uma pergunta: "Se a PGE sustentou o governo Requião de 2003 a 2006 (bingos, Itaú, transgênicos, pedágio, sem contar inúmeros procuradores de carreira dando sustentação ao governo em diversos segmentos administrativos), não seria um paradoxo para o próprio governador pensar que foi tudo uma seqüência de erros ou de má atuação?"
Olho vivo
Ausência 1 O secretário da Saúde, Cláudio Xavier, é daqueles que defendem que os gastos com saneamento básico sejam incluídos no cálculo para perfazer o índice de 12% da receita determinado pela Constituição para investimento em saúde. Por isso prevê-se que faltará ao encontro "Cenários e desafios da saúde", organizado pelo Conselho Estadual de Saúde, hoje, em Curitiba.
Ausência 2 É que o principal palestrante é o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), presidente da Frente Parlamentar da Saúde, que defende no Congresso tese oposta à do secretário. O deputado trabalha na regulamentação da Emenda Constitucional 29, que define o índice de 12%. O Paraná, se tirar os investimentos da Sanepar, deixou de investir em saúde mais de R$ 200 milhões nos últimos quatro anos.
Retórica Ninguém duvida da competência técnica do secretário da Fazenda, Heron Arzua. Mais do que isso, contudo, ele terá de exercitar seus dotes de convencimento para dissipar a desconfiança de que o governo manipula cifras para fugir das penas da Lei de Responsabilidade Fiscal. Será segunda-feira o dia em que será posto à prova, na Assembléia. Deputados da oposição prometem não sair sem respostas.
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