O escândalo dos altos salários pagos pelo Tribunal de Justiça a alguns de seus funcionários poderia ter sido evitado. O problema foi constatado em 2007 por meio de inspeções regulares do Tri­bunal de Contas. Os presidentes das duas instituições, à época o desembargador Vidal Coelho (TJ) e o conselheiro Nestor Baptista (TC), vizinhos da Praça Nossa Senhora da Salete e próximos o suficiente para percorrer a pé a distância entre os respectivos gabinetes, preferiram sentar sobre o problema e empurrar para o fundo de uma gaveta o minucioso relatório técnico que apontava as grossas ilegalidades.

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Esta coluna teve acesso ao inteiro teor do relatório elaborado pela inspetoria do Tribunal de Contas responsável pelo controle do TJ. Para quem quiser saber, está protocolado sob o n.º 115.192/09-TC.

O processo começou a tomar forma há mais de dois anos, quando funcionários do quadro técnico do Tribunal de Contas escreveram: "Durante os trabalhos de fiscalização junto ao E. Tribunal de Justiça do Paraná, foram constatadas diversas irregularidades relacionadas a desvios funcionais, funções gratificadas, gratificações (encargos especiais e tempo integral e dedicação exclusiva – Tide) e verba de representação de Asses­sores Jurídicos". Estas primeiras linhas já se­­riam suficientes para dar a dimensão do problema – mas, nas páginas seguintes do longo documento que assinaram, os inspetores do TC desceram a detalhes para demonstrar a gravidade do que encontraram. Citaram os exemplos mais gritantes, dando nomes aos funcionários com salários exagerados ou não condizentes com o cargo para o qual foram nomeados. Ascensorista, por exemplo, lotado no Centro de Protocolo, recebem altas somas em gratificações. Uma copeira foi parar no Departamento Ju­­di­ciário no qual exerce a chefia da Seção de Pautas de Julgamento – claro que com salário e gratificações de fazer inveja a qualquer tra­balhador comum. Centenas de casos assemelhavam-se a esses.

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Os inspetores determinaram as causas do descalabro que encontraram no TJ em quatro itens:

• Inadequado quadro de pessoal;

• Política de pessoal inadequada;

• Falta de controle na concessão de benefícios;

• Ausência de atuação do controle interno.

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O presidente do Tribunal de Justiça – tanto Vidal Coelho, que exercia o cargo à época do relatório, quanto seu sucessor, Carlos Hoffmann – foram instruídos sobre os procedimentos que deveriam seguir para sanear as irregularidades, como consta do capítulo "Recomendações" do relatório.

Entre outras coisas – não tives­se sido convenientemente "esquecido" –, o relatório mandava a cúpula do TJ de abster-se de "atribuir aos seus servidores atividades não inerentes aos cargos para os quais foram nomeados"; que também apurasse "a responsabilidade das chefias imediatas por desvios de função". Nem essas nem as demais 13 recomendações foram obedecidas. Nem o Tribunal de Justiça quis segui-las nem o Tribunal de Contas exigiu ou cobrou providências.

Interessante: justamente os dois órgãos encarregados de zelar e cobrar pela legalidade dos atos – dos outros!

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Olho vivo

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Mais uma 1

A "escolinha" do professor Requião custou-lhe mais uma condenação judicial: na última sexta-feira ele depositou, em dinheiro vivo (o que impede descobrir a origem da grana), R$ 62 mil em favor do ex-ministro Euclides Scalco a título de indenização por danos morais. Tudo começou em 13 de fevereiro de 2007 quando, numa transmissão ao vivo pela Educativa, Requião desferiu ofensas a Scalco, acusando-o de estar envolvido em supostas manobras financeiras no DER.

Mais uma 2

Em suas declarações, o governador também envolveu a família Richa – o prefeito Beto Richa, seu irmão José Richa Filho e o pai já falecido, além do empresário Darci Fantin. Scalco reagiu fazendo publicar uma carta sob o título "Um governador no lugar errado", lembrando que o cargo exige equilíbrio de quem o exerce. E anunciou que ajuizaria a ação.

Mais uma 3

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A ação promovida pelo ex-ministro foi até o fim: ganhou no Tribunal de Justiça e, em seguida, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A família do prefeito também anunciou a mesma intenção e também publicou carta aberta. "Deixe de ser covarde, Requião", era o título dessa carta, logo acompanhada também por uma ação na Justiça. Com uma diferença: eis que não mais do que de repente, Richa desistiu do processo contra Requião e o processo foi arquivado.

Em tempo

Euclides Scalco vai à Santa Casa amanhã doar o dinheiro da indenização.