Pela enésima vez, o candidato do PSC a prefeito de Curitiba, Ratinho Jr., afirma que não desistirá da disputa – ao contrário da boataria que insiste em colocar seu nome em leilão. Ontem, no dia em que o Partido da República (PR) realizou convenção municipal e sacramentou a coligação com o seu PSC, Ratinho voltou à carga agregando argumentos que até então não tinha utilizado: o de que é o único dos quatro principais candidatos colocados até agora que representa o novo, que não tem padrinhos e que é independente.

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Segundo ele, os demais vinculam-se às máquinas dos governos federal (no caso, Gustavo Fruet com o PT), estadual e municipal (Luciano Ducci, que além de prefeito é apoiado por Beto Richa) e Rafael Greca (apadrinhado do senador Roberto Requião).

É inegável que o jovem Ratinho Jr. vem se mostrando como um fator de desequilíbrio nas eleições. Se, não faz muito tempo, considerava-se que a campanha correria polarizada entre os representantes das duas principais forças políticas do estado – isto é, entre Ducci e Fruet –, as pesquisas têm se encarregado de desmentir a primeira impressão. Amparado pela popularidade que herdou do pai, o apresentador Ratinho, e pelas extraordinárias votações que obteve nas eleições para vereador (2002) e deputado federal (2006 e 2010), Júnior de fato se firma como candidato viável.

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Por partes

Mas, como diria Elize Matsunaga, vamos por partes para analisar as supostas virtudes elencadas por Ratinho Jr. para demonstrar que sua candidatura é não só irreversível como capaz de enfrentar a concorrência em condições mínimas de igualdade.

Primeiro, ao se classificar como novo, ele é verdadeiro em dois aspectos: tem apenas 31 anos e não tem como ancestrais em sua carreira antigos políticos ou as velhas oligarquias que há décadas dividem o poder no Paraná. Entretanto, ser novo não significa necessariamente ser o melhor. Ao contrário, a suposta virtude pode lembrar inexperiência.

Segundo, diz não ter padrinhos notáveis a sustentar sua candidatura – mas isto, ao que parece, se dá contra a sua vontade. Basta lembrar que há apenas 15 dias esforçava-se para mostrar que contava com a simpatia de Lula e assegurava que este se manteria neutro no primeiro turno apesar de o PT apoiar Gustavo Fruet. Ratinho deixou de se referir a essa simpatia a partir do momento em que o ex-presidente se embaralhou na polêmica para constranger o STF a adiar o julgamento dos réus do mensalão.

Terceiro, ao se aliar ao PR junta-se a um partido cuja história não acrescenta qualidade moral à sua candidatura e coloca em dúvida a real possibilidade de manter independência em relação aos interesses (nem sempre confessáveis) de terceiros.

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Para quem tem dificuldades para identificar o perfil do primeiro partido aliado oficial de Ratinho Jr., eis umas poucas lembranças a respeito do PR: a sigla é presidida pelo senador e ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, defenestrado já na primeira fase da faxina empreendida pela presidente Dilma Rousseff em razão da voracidade demonstrada em tirar proveito de obras rodoviárias que o Dnit tocava, muitas delas em parceria com a construtora Delta. É também do PR o deputado Waldemar da Costa Neto (SP), um dos mais notórios réus do mensalão por motivos semelhantes.

Em resumo, os pretensos diferenciais alegados por Ratinho Jr. não são assim tão claros ou suficientes para colocá-lo acima dos adversários – cada qual com problemas a administrar. Gustavo Fruet, por exemplo, ainda precisa explicar melhor para seu eleitorado a ligação que fez com o PT, partido que combateu com veemência quando deputado federal. Ao prefeito Luciano Ducci falta um carisma ainda nem de longe compensado pelo regaço confortável que lhe oferece o governador Beto Richa. E contra Rafael Greca pesa a mágoa antiga de se ter desligado do berço lernista para se aconchegar no PMDB de Requião.

O grande trunfo

Independentemente dos defeitos e virtudes de cada um, o fator Ratinho vai mesmo se tornar mais evidente num eventual segundo turno – chegue ele até lá ou não. Será o seu grande trunfo. Mesmo que não chegue, pode ser decisivo para levar à vitória o candidato que apoiar, seja Ducci, Fruet ou o improvável Rafael.

Na hipótese de se confirmarem nas urnas as pesquisas atuais, que o colocam em segundo lugar pouco atrás de Gustavo Fruet, diante de um eventual confronto direto entre os dois, as máquinas do estado e da prefeitura estarão azeitadas para favorecê-lo – pois é evidente que tão importante para Beto Richa quanto reeleger Luciano Ducci é derrotar Gustavo Fruet. E daí se desmoronará de vez o discurso do novo e do independente.

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