"Qual a primeira medida que o sr. tomará caso seja reeleito? Nenhuma mudança de rumo mais drástica?

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Não, não. Acho que as coisas estão de certa forma indo bem. Eu volto a insistir: o melhor está por vir. Agora com a casa em ordem e a máquina azeitada, vamos avançar mais."

A pergunta e a resposta fazem agora parte do álbum de recordações. Elas constam da sabatina que repórteres da Gazeta do Povo, no dia 9 de setembro do ano passado, fizeram com o governador Beto Richa, então candidato à reeleição. Passados seis meses e à vista do quadro caótico atual – isto é, que não está em ordem muito menos azeitado – pode-se inferir que:

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- O governador/candidato se encontrava, naquele momento, totalmente desinformado sobre a real situação do estado.

- Sabia de tudo, mas quis pintar um quadro róseo para não perder eleitores.

Qualquer das hipóteses é plausível: ou não sabia ou quis esconder. O fato é que a realidade arreganhou a cara já pouco tempo depois da eleição – conquistada em primeiro turno – ao chamar da Bahia para administrar as finanças do estado o economista Mauro Ricardo Costa. Antes mesmo de tomar posse no cargo de secretário da Fazenda, Costa diagnosticou os males que encontrou no Paraná e a origem da síndrome. Em entrevista a esta mesma Gazeta, disse que a situação de calamidade se devia a uma sucessão de erros do governo. Textualmente, acusou:

"Errou no momento em que gastou mais do que devia. Se você faz um orçamento acima das possibilidades de receita, você quebra o estado. E, se faz isso com frequência, agrava-se mais ainda a situação, o estado vai acumulando dívidas ano a ano."

É certo que, no dia seguinte, foi instado pelo Palácio Iguaçu a "suavizar" as palavras e a jogar a culpa também sobre governos anteriores. Mas os fatos que vieram a seguir, já sob sua inspiração, confirmam o diagnóstico de que, nos últimos quatro anos, não foram aplicados os remédios adequados. Isto é, o "governo gastou mais do que devia", embora tenha arrecadado proporcionalmente muito mais do que qualquer outro estado.

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E antes mesmo de tomar posse, o ainda virtual secretário agiu como autor do "tarifaço" aprovado a toque de caixa no fim do ano pela Assembleia. Com isso, garantiu mais receita à custa do contribuinte, e agora chegou a hora de cortar despesas – aí incluídos até mesmo direitos básicos de qualquer trabalhador. Eis uma pequena lista:

- Policiais militares e bombeiros que prestam serviços no Litoral do estado, queixam-se de humilhação, fome e da ameaça de despejo dos locais onde se hospedam, porque não recebem as diárias que lhes são devidas desde o dia 15 de janeiro. Têm de sobra apenas promessas.

- Professores, pedagogos e até merendeiras são demitidos às vésperas do início do ano letivo; escolas anunciam que não terão condições de receber seus alunos enquanto o pessoal não for reposto.

- Gratificações e promoções salariais por tempo de serviço estão suspensas para os servidores públicos; não se tem certeza quando receberão (em parcelas) o direito ao terço de férias;

- Saqueia R$ 8 bilhões da Paranaprevidência e muda o regime de aposentadoria dos servidores; quem quiser ganhar, como aposentado, mais do que o teto do INSS (R$ 4,6 mil) terá de pagar por fora um plano de previdência.

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Tudo isso sem falar que, além do R$ 1,2 bilhão de dívidas que acumulou com fornecedores (incluindo oficinas mecânicas que deixaram de consertar viaturas militares), também reluta em arcar com a parte que lhe cabe para subsidiar o transporte metropolitano. Tudo isso sem falar dos quase R$ 200 milhões que deixou de destinar ao pagamento de precatórios vencidos.

Enquanto isso...

Enquanto isso, os deputados estaduais trataram de aumentar seus subsídios em 25% e pensam em constituir um fundo que lhes garanta aposentadoria vitalícia...

Enquanto isso, também, os conselheiros do Tribunal de Contas trabalham para também ganharem auxílio-moradia, seguindo o exemplo da "conquista" já consagrada pelo Judiciário e pelo Ministério Público.

Enquanto isso, a Assembleia Legislativa se prepara para, nesta segunda-feira, se submeter docilmente ao novo "tratoraço" que a fará aprovar, em dois dias, o pacote de cortes drásticos e mudanças legislativas graves que não atingirá o Tribunal de Contas, o Judiciário e o próprio Legislativo.

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"O melhor está por vir".

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