Muito se fala da timidez política do Paraná. Pouquíssimos são os momentos da história nacional em que o estado aparece com algum grau de proeminência. Não se chega a esta conclusão comparando-o a São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul – estados que desde a proclamação da República revezam-se frequentemente no poder. Mas não podemos nos comparar nem ao menos com Alagoas... É triste.
É certo que já tivemos momentos em que paranaenses ilustres brilharam positivamente na cena política brasileira. Podem ser citados, entre os poucos exemplos positivos, os ex-governadores Bento Munhoz da Rocha Neto, Ney Braga, José Richa – os três participantes ativos de vários importantes episódios da história nacional.
Lamentavelmente, nos últimos anos o Paraná tem sido mais lembrado por fatos constrangedores. Não nos esqueçamos, por exemplo, que a Operação Lava Jato se concentra no Paraná pelo simples fato de eram daqui os políticos e operadores que deram origem à descoberta do maior escândalo de corrupção a que o Brasil já assistiu – casos do falecido deputado do PP José Janene e do doleiro Alberto Youssef.
Agora, quando mal se abrem as cortinas do apocalíptico escândalo das delações do grupo JBS, com megatons suficientes até para forçar o afastamento de um Presidente da República, eis que, de novo, o Paraná aparece na linha de frente.
Personagem central da trama corrupta agora revelada está o paranaense Rodrigo Rocha Loures, deputado federal do Paraná, que disputa com figuras carimbadas como Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima e Moreira Franco, um lugar privilegiado (embora mais discreto) entre os homens de maior confiança do presidente Michel Temer. Tanta confiança que foi ele o indicado para o dono da JBS, Joesley Batista, para saber “de tudo” e de se encarregar pessoalmente do transporte de malas.
Filho de família ilustre, tradicional e respeitada da terra das Araucárias, Rodrigo viu-se repentinamente enleado na trama da Operação Patmos conduzida de forma controlada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Foi filmado, fotografado e gravado em constrangedores flagrantes que os investigadores classificaram de criminosos.
PSDB é quem explica
Nomes de outros paranaenses começam a emergir nas delações já homologadas e retiradas de sigilo pelo ministro do STF Edson Fachin. Dois deles são o governador Beto Richa e o seu irmão, José Richa Filho, o Pepe, secretário estadual de Infraestrutura e Logística, conforme já publicado no portal desta Gazeta do Povo na tarde de sexta-feira (19).
Segundo um dos anexos das delações de executivos da JBS, consta uma referência embaraçosa sobre transferências “em espécie” [...] de “1 milhão entregues para Pepe Richa, emissário de Beto Richa”.
O PSDB se encarregou de emitir nota oficial, nos seguintes termos: “O Comitê Financeiro da Campanha Eleitoral de 2014 do PSDB esclarece que recebeu duas doações do grupo JBS S/A, nos valores de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e R$ 1.000,00 (um mil reais), respectivamente. As referidas doações estão declaradas na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral e em conformidade com a legislação vigente à época das eleições de 2014. Curitiba, 19 de maio de 2017”.
A citação a Beto Richa e ao irmão Pepe consta da delação do executivo Ricardo Saud, homem de confiança do presidente da JBS, Joesley Batista. Saud foi por inúmeras vezes também filmado agindo como intermediário dos repasses indevidos, incluídos aqueles endereçados a Aécio Neves e a Rodrigo Rocha Loures.
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