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Olho vivo

Começou! 1

De uma coisa não se pode ter dúvidas: os programas de Osmar Dias e Beto Richa que inauguraram, ontem, o horário eleitoral gratuito na televisão, primaram pela qualidade técnica. Ponto para seus produtores, que demonstraram competência quanto à forma. E quanto ao conteúdo? Também neste primeiro programa, viu-se claramente a mão e o talento dos mesmos produtores – os tais marqueteiros. Palavras e ideias bem estudadas, bem na medida para sensibilizar o eleitorado.

Começou! 2

Os programas teriam, então, "falsificado" os candidatos? Não necessariamente, mas que melhoraram bem suas imagens, melhoraram! Aliás, é para isto mesmo que servem os programas televisivos – para levar ao distinto público o que eles têm de melhor, isto é, apenas as qualidades pelas quais querem se tornar conhecidos pela população e torná-los preferidos da maioria dos eleitores. Os defeitos de cada um só vão aparecer no programa do adversário. É o que talvez aconteça logo.

Começou! 3

De qualquer forma, foi ontem, definitiva e claramente, que começou a campanha. Carreatas, presenças em festas no interior, visitas a fábricas e santinhos e bandeiras espalhadas nas cidades vão continuar fazendo parte da paisagem – mas é a tevê que dará a cara de uma disputa e que induzirá o povo a fazer sua escolha. E é a partir de agora que será preciso prestar mais atenção nas pesquisas. Elas também vão retratar o sucesso ou insucesso dos programas.

É bonito de ver o acendrado amor que o ex-governador e agora candidato ao Senado Roberto Requião devota à família. Quando no governo, preencheu inúmeros cargos com gente sua – irmãos, mulher, primos, sobrinhos... E agora, ao dar início à campanha no horário gratuito da televisão, com quem aparece? Com a mulher e os dois filhos, aos quais atribui qualidades que os elevam à condição de marqueteiros e assessores políticos, com a vantagem de que custam mais barato.

No governo, já eram melhores os parentes. Os dois irmãos, por exemplo: Eduardo, o "melhor administrador portuário do mundo"; Maurício, o "melhor secretário de Educação do país". Chega agora a vez da nova geração: o filho, nomeado coordenador de sua campanha ao Senado, já se candidatou ao título dinástico de "melhor coordenador de campanha ao Senado". E a filha a melhor criadora de slogans de campanha.

Há quem, entretanto, continue discordando das preferências do ex-governador em empregar a própria família e agregados. Um dos que discordam é seu sucessor, o governador Orlando Pessuti, que se mostra muito diligente em cumprir a tarefa de ir afastando um por um os herdeiros deixados pelo antecessor. Começou pelos agregados e acredita que, com as recentes demissões do secretário especial Benedito Pires e do presidente do BRDE, Airton Pisseti, tenha dado por concluída uma etapa do trabalho.

Restam, ainda, no entanto, dois nomes da família Requião. Prefere não exonerá-los ou pedir-lhes os cargos. Um deles é Maristela, mulher de Requião, que continua ocupando cargo de confiança na estrutura de gabinete do governador. Ela é secretária-especial, com salário de R$ 15 mil por mês, mas faz expediente como presidente da Associação Amigos do Museu Oscar Niemeyer, uma Oscip (organização social de interesse público). Uma Oscip elege a própria diretoria sem – formalmente – depender da vontade do governador.

Outro nome é o da irmã Lúcia Requião, que preside outra Oscip – o Programa do Voluntariado do Paraná (Provopar). Continua no cargo e diz que de lá não sai.

Nesses dois casos, Pessuti utiliza outras armas para constranger o antecessor e família. Para Maristela, um simples decreto de exoneração seria suficiente – mas prefere não fazê-lo para não dar a Requião o gosto de reclamar de perseguição tão ostensiva e tão direta. A mesma estratégia (e motivo) vale para Lúcia.

De Maristela, Pessuti mandou cortar os repasses de verbas que Sanepar e Copel faziam para o museu, assim como determinou que voltem aos seus cargos de origem os funcionários públicos que estavam à disposição da instituição. Sem eles não há como manter a normalidade do funcionamento do museu.

De Lúcia, cortou as doações feitas pelo Detran – R$ 50 por placa especial requerida por proprietários de veículos que caíam no caixa do Provopar. Um decreto assinado terça-feira não aboliu a sistemática, mas estendeu o direito a esta arrecadação para outras 5 mil entidades assistenciais existentes no estado.

Pessuti apenas segue o velho lema: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. A lei diz que o governo não pode sustentar organizações privadas. Logo, as oscips Museu Oscar Niemeyer e Pro­­vovar não devem receber privilégios. Ou ainda um outro lema: a vingança é um prato que se come pelas bordas.

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