"Eu e o Pessuti sabemos o que é ter um inimigo no Ministério da Agricultura."
Do governador Roberto Requião, ontem, dando alvíssaras à nomeação do paranaense Odílio Balbinotti e acusando o ex-ministro Roberto Rodrigues de ter difundido a falsa informação de existência de febre aftosa no rebanho do estado.
Foi uma semana movimentada na Assembléia Legislativa. Embora minoritária, a bancada oposicionista fez o barulho que pôde, mas não conseguiu vencer salvo alguns poucos episódios a barreira construída pela base governista, que conta com a folgada maioria de 36 parlamentares num universo de 54.
Singelos requerimentos de informação dirigidos a instâncias do Executivo foram sumariamente derrubados, sob os mais toscos, às vezes cínicos, argumentos, pela ampla base de apoio do governo. Pode parecer algo próprio da democracia representativa afinal, como (para usar um chavão horrível) caixa de ressonância da vontade popular, a Assembléia, por meio da maioria dos seus deputados, não estaria fazendo outra coisa senão cumprindo o desejo dos representados.
A idéia é absurda. É evidente que não é da vontade popular manter a sociedade na ignorância do que se passa nas entranhas do poder. É da vontade dos eleitores e dos contribuintes saber com exatidão e com clareza o que fazem os mandatários; se honram o seu voto e se aplicam com correção o dinheiro dos impostos; se cumprem a missão de governar em estrita obediência à lei, à ética e à moral. Isto é absolutamente elementar dentro do estado democrático de direito.
Ao barrar sistematicamente as proposições da oposição, com o claro propósito de manter a opinião pública na obscuridade, a bancada situacionista presta num péssimo serviço à democracia, desrespeita a sociedade, desfigura o papel fiscalizador do Legislativo e aprofunda a descrença da população na política e nos políticos.
Não é este o nível de atuação parlamentar que a sociedade paranaense quer ver praticado na Assembléia.
Olho vivo
Mordomo 1 Como nos filmes e nas histórias de Agatha Christie, o mordomo é sempre o culpado. É nesta linha que está sendo montada a defesa da diretoria da Sanepar para se eximir de culpa no caso das obras de saneamento no litoral, pelas quais já pagou à empreiteira Pavibrás R$ 130 milhões o dobro do preço contratado. O prejuízo é bem maior, se calculadas as perdas financeiras e a receita que deixou de ser auferida em razão do atraso de três anos das obras aliás, ainda não concluídas.
Mordomo 2 O "mordomo" seria a empresa privada contratada pela Sanepar para supervisionar o andamento das obras e a correspondente aplicação dos recursos. Trata-se do Consórcio Paraná 2000, liderado pela Earth Tech Brasil Ltda. As informações geradas por esse consórcio é que teriam embasado as liberações extras de dinheiro. Logo, o culpado seria o consórcio. Já os diretores e gerentes da Sanepar seriam totalmente inocentes.
Mordomo 3 Essa estratégia de defesa estaria sendo urdida pelo novo diretor jurídico (interino) da Sanepar, Odilon Reinhardt advogado que tem em seu currículo um parecer favorável à formalização de um acordo extrajudicial com a Pavibrás que "sangrou" a Sanepar em R$ 25 milhões, na véspera do Natal de 2004, conforme denunciou meses depois o conselheiro Pedro Henrique Xavier.
Mordomo 4 Culpada também seria a Fundação Getúlio Vargas, que deu um parecer dando por corretos os aditivos contratuais celebrados pela Sanepar em favor da Pavibrás. Na reunião com os deputados da base governista anteontem, o presidente da Sanepar, Stêno Jacob, brandiu esse documento como sua melhor peça de defesa. Esqueceu de dizer que o parecer da FGV foi encomendado pela própria Pavibrás para fundamentar seus pedidos de reajuste e reequilíbrio econômico-financeiro.
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