Tem gente que duvida de pesquisa eleitoral. Há razões para isso, pois não é raro que mesmo a "boca de urna", aquela que tenta adivinhar a votação dos candidatos quando os votos já foram dados, apresente erros clamorosos. Foi emblemático o caso daquela que, em 2006, previu uma distância de 10 pontos em favor de Requião sobre Osmar Dias pouco antes de a contagem final consignar quase um empate em 50% para cada um.
Lembrando-se disso, Osmar prefere nem comentar as pesquisas que o estão colocando tão atrás do adversário Beto Richa na presente campanha. O Datafolha* e o Ibope** lhe dão 34%, mas, para Beto, dão 47% e 50%, respectivamente. Diferenças, portanto, que variam entre 13 e 16 pontos porcentuais entre um instituto e outro. Os comitês de Osmar não acreditam nessas pesquisas e dizem ter outras, internas, que pintam um quadro mais luminoso.
Que vá. Mas lembrando-nos de que também não raramente as pesquisas acertam "na mosca" e não havendo outros instrumentos mais confiáveis para aferir as tendências do eleitorado, consideremos que as últimas pesquisas do Ibope e Datafolha retratam a realidade. Guardadas, naturalmente, as margens de erro admitidas por ambos, os dois institutos apresentam resultados praticamente idênticos.
Pois bem: segundo Ibope e Datafolha, se a eleição fosse hoje, Beto Richa ganharia de Osmar por uma diferença da ordem de 15 pontos porcentuais coisa de 1 milhão de votos num universo de 7 milhões. É verdade que o contingente de indecisos é do mesmo tamanho e seria preciso, portanto, que todos eles acabassem por se decidir em Osmar para que se estabelecesse um virtual e inseguro empate.
Logo, não basta a Osmar realizar o sonho impossível de conquistar todos os indecisos para poder dormir tranquilo. É preciso fazer com que pelo menos metade do milhão de votos que Beto tem de vantagem migre para ele. Em números absolutos: é necessário abocanhar mais de 500 mil eleitores que atualmente declaram sua preferência pelo adversário.
Considerando que faltam pouco mais de 30 dias para o 3 de outubro, a tarefa que cabe à campanha de Osmar é mudar a cabeça de uns 20 mil eleitores por dia, daqui até o dia da eleição. Impossível? Não porque foi isto que Beto Richa conseguiu fazer nos 30 dias passados, quando saiu de uma situação de empate para cravar diferença tão grande sobre Osmar. Avançou sobre os indecisos e tirou um bom pedaço da turma que se dizia osmarista.
Osmar pode virar o jogo?
O problema de Osmar é descobrir a fórmula certa para inverter o jogo. Já se viu que amarrar sua candidatura aos "êxitos" do governo Requião, prometendo continuá-los, não dá certo. Também não está sendo tão eficaz quanto se pensava o apoio de Lula e de Dilma. O apoio da estrutura do PMDB, de seus inúmeros prefeitos e da sua majoritária bancada de deputados também está sendo insuficiente. Os tempos iguais da propaganda em rádio e televisão, idem.
Apesar de tal aparato, nesse momento Osmar está menor do que aquele que emergiu das urnas de 2006. Em 2006, ele representava 50% dos paranaenses; agora, representa um terço. Diminuiu por quê? Diminuiu porque não é em 2010 o mesmo Osmar de 2006. Há quatro anos, era, por exemplo, a antítese de Requião. Hoje, se apresenta como sua interface, ora como continuador de programas assistencialistas do ex-governador, ora como silente e acrítico espectador de todos os erros e vergonhas que marcaram o governo passado. Em suma, o candidato perdeu sua identidade.
Deixou de ser identificado também entre os que o viram crescer entre campos de soja içando as bandeiras do agronegócio com tudo o que isto possa significar, incluindo a defesa da propriedade rural contra invasões. Grande parte dessa gente isto é, os que votaram em Osmar em 2006 porque não queriam mais Requião e os que viam nele um anteparo contra o assanhamento da militância sem-terra ficou órfã do seu defensor.
Beto Richa navega sobre este mar, sorridente como sempre, desfiando projetos fantasiosos, prometendo o irrealizável e transpirando oceanos de otimismo. Um super-homem sem capa voadora mas com poderes que o assemelham àquele herói da ficção que caiu de Krypton. Nada entende de agricultura, a ponto de protagonizar vexames em reuniões com produtores mas ainda assim, para estes, "se não tem tu, vai com tu mesmo".
Osmar pode ainda voltar a ser Osmar? Tem 30 dias para isso. Trinta dias em que terá de deixar de carregar a mala de Requião em todos os sentidos por onde for e de tornar-se outra vez parecido com ele mesmo. Caso contrário, continuará padecendo de outro mal inspirado pela literatura de ficção que, além do Superhomem, criou também O Homem Invisível, de H.G. Wells.
* Datafolha: ouviu 1.211 eleitores nos dias 23 e 24 e está registrada no TRE sob n.º 19.550/2010. Admite margem de erro de 3 pontos.
** Ibope: ouviu 1.008 eleitores entre 23 e 25 e está registrada no TRE sob n.º 25.671/2010. Margem de erro de 3 pontos.
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