O mistério do Rolex de ouro, que brilha em pulso ilustre, já estaria supostamente desvendado. O intrigante caso foi antecipado por esta coluna na edição do fim de semana e está sendo investigado pelo Gaeco a partir do depoimento de uma funcionária “laranja” da Valor, construtora que recebeu R$ 18 milhões adiantados pela construção de escolas, embora não tenha entregado nenhuma. Dependendo do modelo, um reloginho desses chega a custar mais de US$ 400 mil.
“Sigam o dinheiro”, diria ao Gaeco o Garganta Profunda, o homem que, clandestinamente, pelos idos dos anos 1970, ajudou os jornalistas do Washington Post a desvendarem o caso Watergate e a levarem o presidente Nixon a renunciar.
Segundo o Gaeco já apurou, o Rolex teria sido entregue ao governador pelo então diretor de Engenharia da Sude Maurício Fanini, mas o real doador teria sido o dono da empreiteira Valor, Eduardo Lopes de Souza.
O Gaeco está seguindo o conselho do velho Garganta. Considere-se, por exemplo, trecho da gravação do depoimento de Vanessa Oliveira – “laranja” que recebia salário para atuar como proprietária da Valor. Interrogada por uma promotora – que considerou importante saber mais sobre a amizade do governador Beto Richa com Maurício Fanini –, Vanessa foi instada a responder à seguinte pergunta:
– Em relação a Beto Richa, a relação [com Fanini] era só no [jogo de] tênis mesmo?
A resposta:
– Olhe, existe essa história do Rolex. Quem deu o Rolex ao Beto Richa? Existe uma foto do Eduardo com um Rolex deste tamanho assim [mostra com as mãos] no Porsche. Agora, quem deu o Rolex pro governador? [e faz um enigmático, porém compreensível, gesto facial].
A promotora pede mais detalhes:
– O Eduardo tinha coleção de
relógios?
– Vários, doutora – responde
Vanessa.
A pergunta que não quer calar é: por que o dono de uma construtora com negócios escusos no governo presentearia o governador com um Rolex? Suponha-se (registre-se que se trata apenas de um mero exercício de suposições) que a depoente esteja dizendo a verdade, mas, em sendo verdade, o que o presenteado com a joia deveria fazer? Como bom santo, desconfiar que a esmola era muita? Aceitá-la com angelical ingenuidade? Ou sabendo de quem viera o presente e imaginado os motivos, consentir em silêncio?
Baixem-se as cortinas e lembremos: em 1.º de janeiro de 2015, dia de posse no segundo mandato, Richa assinou o decreto número 38 instituindo o Código de Ética da Alta Administração Estadual. O artigo 6.º veda às autoridades públicas receberem presentes que ultrapassem R$ 100,00; o 7.º diz que as penas para os transgressores vão da advertência à demissão.
É a hora certa para o decreto valer? Ou o Rolex é paraguaio e não tem a mesma precisão dos legítimos suíços?
Chocante
Correm em duas Varas da Fazenda Pública de Curitiba três surpreendentes ações de cobrança movidas pela prefeitura de Curitiba contra a Copel por falta de pagamento de R$ 42,4 milhões de IPTU. O valor recai sobre 384 imóveis, dentre eles o edifício-sede da companhia no Batel. A Copel se diz desobrigada de pagar e ingressou com recurso que suspendeu a execução. Chocante.
* Em nota enviada em 21 de janeiro, a Copel esclarece, em nota, que “de fato, há três ações declaratórias de inexistência de relação jurídica propostas pela Copel contra o Município de Curitiba, e não o contrário. As três ações propostas pela Copel contra o Município de Curitiba têm como fundamento jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que os imóveis referidos nas ações são imunes à incidência de IPTU. A Copel não se diz desobrigada, mas sim efetivamente está desobrigada do pagamento do IPTU ao Município de Curitiba sobre os imóveis referidos nas ações, por força de liminar concedida pelo Judiciário, e não por ter ingressado com recurso. Ou seja, as ações são da Copel contra o Município de Curitiba. Tanto é assim que a Copel possui certidão de regularidade fiscal para com o Município de Curitiba”.
Lágrimas
Até quando a cidade vai conviver com greves de ônibus? Se motoristas e cobradores não receberem o “vale” (40% do salário) até amanhã, param na quinta – pela segunda vez em uma semana. Nunca ninguém pensou num modo definitivo de evitar o problema sem sacrificar o bolso do trabalhador? Para que serve a imaginação criativa dos empresários do comércio e indústria que derramam lágrimas a cada greve que esvazia suas lojas e paralisa fábricas?
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