Vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, o ex-senador Osmar Dias guarda na memória a imagem de uma lata da tradicional manteiga Aviação com aquela característica cor laranja. Certo dia, em 2010, ele temeu ter sua cabeça atingida por uma. Foi quando, preparando-se para disputar a eleição de governador, insistia para que a vice de sua chapa fosse Gleisi Hoffmann. Com isso, pretendia dar clareza à aliança do seu partido, o PDT, com o PT. Como a estratégia não prosperou (ah!... aquela lata de Aviação!!!), acabou por incorporar o PMDB à chapa, com o deputado Rodrigo Rocha Loures como vice.
Selou-se, ali, por causa da ameaçadora lata de manteiga, a aliança mais esdrúxula que Osmar Dias esperava fazer: teve de se render ao adversário Roberto Requião, candidato a senador, e sair abraçado com ele Paraná afora com dificuldades para explicar a parceria que até então parecia impossível. Gleisi disputou a outra vaga para o Senado e foi eleita em primeiro lugar, com belíssima votação.
A estratégia petista de levá-la ao Senado não poderia ter sido melhor sucedida. Nem bem assumira a cadeira senatorial, logo foi chamada a ocupar a Casa Civil da também recém-eleita presidente Dilma Rousseff. Osmar perdeu a eleição para Beto Richa, mas se considerou compensado com o alto cargo no Banco do Brasil por ter contribuído para a votação que Dilma e outros aliados do PT conseguiram no estado.
Passados quatro anos, em 2014 o cenário deveria ser invertido. A senadora Gleisi, candidata ao governo, queria Osmar como seu vice ou, melhor ainda, como candidato a senador em sua chapa. Seria uma boa maneira de a candidata do PT vencer resistências no interior, predominantemente ligado ao agronegócio e simpático a Osmar.
Foi a vez de Osmar se fingir de morto. Não aceitou nenhuma das posições e nem sequer participou da campanha de Gleisi e Dilma. Alegava que os estatutos do Banco do Brasil impediam-no de subir em palanques. A candidata sentiu o golpe e, em entrevista à Gazeta após a derrota, não escondeu sua "decepção" com o aliado. Teria sido um "troco" de Osmar Dias o seu alheamento? Ele prefere não responder à declaração da senadora Gleisi Hoffmann pelo menos por enquanto. Mas, na última sexta-feira, licenciado do BB, ele estava montado no "dilmamóvel" que percorreu algumas quadras entre as praças Santos Andrade e Generoso Marques, em Curitiba.
Osmar subiu também ao palanque do comício comandado por Requião. Requião anunciou que Osmar iria discursar. E até insistiu. Mas, para espanto geral, com gestos e palavras, Osmar se recusou a pegar o microfone. Gleisi, com outro compromisso, não estava lá.
Figurativamente, a lata de manteiga pode estar na origem de todo o mal-estar. No que vai resultar no futuro, impossível prever enquanto não se abrirem as urnas do próximo domingo.
Dê sua opiniãoO que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.