“Absoluta mentira” disse o governador Beto Richa, semana passada, quando confrontado pela imprensa sobre a delação do executivo da JBS Ricardo Saud, que disse ter entregue ao primeiro-irmão Pepe Richa R$ 1 milhão em espécie num supermercado em Curitiba, a título de ‘caixa 2’, mas sem esperar nada em troca. A doação faria parte de um esquema de conquista da boa-vontade futura de políticos promissores em relação aos interesses da empresa.
Pepe também se mostrou indignado: “Repudio as falsas afirmações a mim dirigidas pela pessoa do delator da JBS Ricardo Saud, de quem não recebi dinheiro algum”.
Em apoio a Pepe, o governador completa: “É mentira, até porque meu irmão nem fazia parte do comitê financeiro. Eu, pessoalmente, pedi que ele não fizesse, que ele cuidasse de outros setores da campanha, porque já tínhamos pessoas designadas que há muito tempo já me acompanhavam. Então, não faz o menor sentido”.
Já o delator Ricardo Saud, perante procuradores do Ministério Público Federal, gravou o relato da entrega do dinheiro e informou que uma planilha entregue aos investigadores comprovaria sua informação. No fim de semana que passou, o jornal O Estado de S. Paulo reproduziu parte dessa planilha, escrita de próprio punho pelo delator, e na qual ele se refere a duas doações da JBS a Beto Richa. Cada uma de R$ 1 milhão. A primeira delas traz a data: 24 de outubro de 2014, isto é, cerca de três semanas após a vitória em 1.º turno na reeleição de Richa. Com relação à segunda, está anotado à margem: “Angeloni (Pepe)”.
Quem consultar a lista de doadores da campanha, disponível no site do TSE, constatará o registro de duas doações oficiais da JBS – uma de R$ 1 milhão e outra de R$ 1 mil, totalizando, portanto, R$ 1.001.000,00. Seria engano? Por algum erro de digitação, alguém teria suprimido três zeros da segunda doação? Se foi esse o caso, por que não houve retificação? Ou, num caso mais extremo, há quem possa explicar o “desaparecimento” de R$ 999.000,00?
Por mais que a legislação afirme que é o candidato o responsável final pelas prestações de contas de suas campanhas, reconheça-se a impossibilidade de Beto ter fiscalizado tudo, tim-tim por tim-tim, e por isso não tenha condições para explicar. Mas nesse caso seria importante que a pessoa indicada por ele, o tesoureiro da campanha de 2014, o faça com a devida urgência e de forma convincente. Afinal, é contra Beto Richa (e não contra o tesoureiro) que o STF determinou à Procuradoria-Geral da União (PGR) a investigação.
Reforma?
Em meio à crise política nacional e dada a proximidade das eleições gerais de 2018, o clima de “salve-se quem puder” toma conta dos deputados e senadores que têm poder de reformar o sistema político-eleitoral. Já existem várias propostas em tramitação, mas a cada dia surgem novas ideias para garantir a sobrevivência dos congressistas. O deputado federal paranaense Sergio Souza (PMDB) alinha algumas das ideias que, no presente momento, ganham força no Congresso:
• eleições de deputados serão realizadas sob a forma de “distritão”. Elimina-se o voto proporcional e elegem-se os que obtiverem as maiores votações;
• reeleições serão proibidas, mas em compensação os mandatos eletivos serão ampliados para cinco anos;
• fundos partidários, abastecidos exclusivamente com dinheiro público, financiarão as próximas campanhas eleitorais.
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