Como é de seu estilo, o prefeito Rafael Greca (PMN) quer começar a gestão com as pompas e circunstâncias adequadas à ocasião. A assinatura do livro de transmissão do cargo será numa cerimônia festiva às seis da tarde no Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem – berço que projetou o novo alcaide na vida política, lá pelos fins dos anos 1970, quando promovia quermesses em honra de São Francisco de Assis. Contrariando a tradição, a transmissão não se dará no Palácio 29 de Março, no Centro Cívico.
Greca encarregou um grupo de amigos e especialistas para organizar o cerimonial. Alguns deles foram emprestados pelo Palácio Iguaçu. Não foram esquecidos detalhes importantes para dar o brilho devido à solenidade, dentre os quais a requisição de um piano de cauda e a substituição das cadeiras de plástico comumente usadas por outras com estrutura metálica, mais resistentes e estáveis.
Literalmente, a turma do cerimonial puxou o tapete de Gustavo Fruet: os que adornam o gabinete prefeitural no Palácio 29 de Março foram levados para o Memorial. Sobre eles estará montada uma digna mesa de honra reservada às autoridades, com lugar de destaque (e de simbólico agradecimento) reservado para o governador Beto Richa.
Entre vinhos e canapés, dúzias da gasosa gengibirra serão servidas aos convivas, dando à festa o tom “curitiboca” que o prefeito gosta de enaltecer.
Nem mesmo um detalhe importante foi esquecido: a secretaria municipal de Trânsito recebeu de assessores do cerimonial rafaelino a sugestão para que os carros de convidados que estacionarem sobre o calçadão da Ordem – proibido para o trânsito – não sejam multados. Isto é, pede que no primeiro dia de gestão já se cometa uma ilegalidade, uma burla às normas do Código Brasileiro de Trânsito.
A posse e o juramento de Greca acontecem antes, às 16 horas, na Câmara Municipal. Neste mesmo instante, no gabinete da prefeitura, Fruet cumpre o protocolo assinando o livro de transmissão. Enquanto estafetas levam o livro para Rafael no Memorial, Fruet tira o pó das gavetas e vai para casa. Não haverá encontro entre eles.
Pelo menos durante os próximos seis meses, Rafael Greca dará prioridade aos ataques a seu antecessor. Não se trata de nenhuma inovação: é desta maneira que se comporta a maioria dos políticos que assumem mandatos sob o signo da oposição. A “batida”, iniciada na campanha, prosseguiu após a eleição e segue o mesmo tom nestas vésperas da posse. Greca tem usado sua página no Facebook para disparar os petardos.
O último apareceu nesta quarta-feira (28). Diz o trecho inicial de um longo post de Greca: “Tive conhecimento que o Ministério da Saúde depositou R$ 60.515.589,99 para serem repassados aos hospitais de Curitiba e a gestão Gustavo Fruet não transferiu os créditos devidos. Informo a comunidade curitibana que são os últimos dias dessa prática odiosa”. Diz mais: “Os créditos devidos aos hospitais [...] não podem ser usurpados pela perversidade burocrática nem que seja por um minuto”.
Em fim de gestão, a secretaria municipal de Saúde registrou o que Greca escreveu e concluiu que o prefeito eleito “não sabe o que está dizendo”. O valor a que ele se refere representa o total de repasses que o ministério da Saúde faz em parcelas durante dezembro – muitas das quais atrasadas há semanas. Diz a secretaria que não se trata de verba destinada apenas para hospitais, mas também para pagamentos de quase todos os demais serviços da área de saúde prestados por terceiros (laboratórios de análises, por exemplo), além de fornecedores de remédios e de materiais médico-hospitalares. À medida que os valores são depositados, são transferidos aos credores após as necessárias conferências.
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