O tiroteio disparado pelo governador Roberto Requião contra o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, dominou a cena política na semana passada. Teve seus momento hilários, mas o mais interessante é que a polêmica se deu em torno de coisa alguma nem a obra acusada de superfaturamento (o desvio ferroviário Guarapuava-Ipiranga) existe, nem foi contratada, e nem há projetos de engenharia e preços finais determinados.
Logo, a discussão se deu unicamente em cima de palavras, ditas ou não ditas, isto é, coisa nenhuma, nunca se saberá a menos que, como costuma fazer em sua sala de visitas no Canguiri, Requião tenha de fato gravações que possam comprometer o ministro. Se tivesse, certamente, já as teria utilizado para, talvez pela primeira vez, dar tons definitivos de credibilidade àquilo que diz. Portanto, o que tivemos até agora é a palavra do ministro contra a palavra do governador e vice-versa.
Requião acusa Bernardo de lhe ter visitado no Canguiri, em 2007, para, em nome do presidente Lula, apresentar a disposição do governo federal de constituir uma PPP (Parceria Pública Privada) para tocar o trecho de 120 quilômetros e eliminar um gargalo que prejudica o tráfego ferroviário na área de concessão da ALL.
O ministro apresentou o preço estimado cerca de R$ 550 milhões. O governador revidou, com o argumento de que preferia obra diferente (Guarapuava-Lapa, para beneficiar a estatal Ferroeste). Mais: acusou superfaturamento, pois, segundo ele, o orçamento para a obra seria de pouco de R$ 200 milhões.
Fosse mesmo verdade, Requião estaria vendo desenrolar-se diante de si um crime de lesa-pátria um ministro falando às claras sobre superfaturamento e benefícios a uma empresa particular. Num caso como esses, qual seria seu papel: chamar os PMs que cuidam dos cavalos da granja e mandar enfiar o ministro no primeiro camburão.
Se não o fez, na condição de autoridade pública, o governador cometeu o crime de prevaricação aquele que, por falta de interesse ou por má-fé, foge dos deveres do cargo. Guardar a denúncia para só apresentá-la três anos depois cheira muito mais a oportunismo do que ao cumprimento do dever funcional que jurou sobre a Constituição.
Logo, se não há provas e se falta credibilidade ao acusador, o caso se inscreve em mais um daqueles muitos em que Requião acaba tendo de responder na Justiça onde, aliás, a regra é ser condenado a pagar indenizações em dinheiro aos ofendidos.
Então, por que esse assunto velho de três anos só apareceu agora, com tanto atraso e tanto estardalhaço? O pretexto foi uma manchete da Gazeta do Povo que mostrou que o Paraná, sob o governo Requião, é um estado que menos repasses de verbas federais recebe.
Até o Proletário, o equino que se deixa montar pelo governador em seus passeios pela granja, sabe que faltou ao cavaleiro, nesse tempo todo, vontade ou capacidade de atuar politicamente para que o estado fosse, para dizer o mínimo, menos esquecido. Mas é preciso colocar a culpa em alguém e esse alguém foi Paulo Bernardo, o paranaense que, ministro do Planejamento, é um dos responsáveis pela divisão do bolo federal entre os estados.
Poderia ser outro ministro ou outro funcionário, não fosse o fato de que Paulo Bernardo vem fazendo uma política no estado que, certamente, não convém ao governador. Foi o autor da aproximação preferencial ainda não concluída do senador Osmar Dias (PDT) com o PT de Dilma Rousseff, uma chapa que se completa com a candidatura de Gleisi Hoffmann mulher do ministro ao Senado.
Este trabalho, além de colocar o governador em segundo plano na condução do processo político-eleitoral no estado, guarda ainda um condimento principal que desagrada Requião: Gleisi, concorrendo diretamente contra ele e com a força e os meios que lhe serão dados pela campanha presidencial de La Rousseff, pode ter o potencial de levar Requião ao risco (improvável, é verdade) de não se eleger, dada à fragmentação do eleitorado entre ele e outros candidatos (Gustavo Fruet, Ricardo Barros, Abelardo Lupion...) na disputa da segunda vaga.
A briga serve-lhe de pretexto também para se aproximar ainda mais de uma composição branca com o prefeito Beto Richa. Se para apoiar Dilma e, indiretamente, Osmar Dias, quer a cabeça Gleisi Hoffmann, para apoiar Richa quer, no mínimo, a cabeça de Gustavo Fruet o candidato capaz de receber a enxurrada de votos dos que rejeitam o PT e o PMDB. Em troca, abandona às moscas o candidato a governador de seu partido, Orlando Pessuti.
Brigar com o PT agora passou a ser, portanto, uma questão estratégica para Requião. Conseguiu. Em poucos dias fez com que todo o partido se levantasse contra ele em defesa do ministro. Até mesmo o ex-secretário do Planejamento, deputado e atual presidente estadual do PT, voltou-se contra o ex-chefe, condenando-lhe os métodos que, não faz muito tempo, aplaudia na "escolinha". Cest la vie! Só não se sabe o que ainda fazem no governo os demais petistas.
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