Quando se pensa na sucessão ao governo estadual, vê-se que chegamos ao fim de 2017 exatamente com o mesmo cenário que havia no início do ano. E que, tudo indica, continuará sem mudanças no mínimo durante os primeiros três meses de 2018, isto é, sem perspectivas de alteração substancial no quadro em curto prazo.
Doze meses atrás, eram três os já há tempos previamente conhecidos candidatos do distinto público: Osmar Dias (PDT), Ratinho Jr. (PSD) e Cida Borghetti (PP). A única novidade com nome e endereço só apareceu em meados do ano quando o prefeito de Guarapuava, o ex-deputado Cesar Silvestri Filho, foi incluído pelo PPS entre os pretendentes ao Palácio Iguaçu.
O fato mais evidente que este cenário evoca é a paralisia política de que foi tomado o Paraná, não só circunscrita aos 365 dias de 2017, mas já há décadas. Basicamente, os nomes colocados são os mesmos que, direta ou indiretamente, ora como aliados ora como adversários, apresentam-se já há muito no mesmo palco e para a mesma plateia.
Não que devamos nos surpreender, suspeitando que o fenômeno da não renovação seria exclusividade do Paraná. Dá-se o mesmo em relação ao Brasil e em praticamente todos os estados. Vez ou outra vê-se um “João Dória”, mas logo se descobre que ele é apenas mais um que veste o mesmo figurino. As modernas técnicas de marketing e o uso intensivo das redes sociais apenas trataram de dar colorido recente ao antigo “modelito”.
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Nem mesmo o esforço que alguns candidatos fazem ao empunhar a certidão de nascimento é suficiente para lhes tirar a craca da antiguidade. A certidão, de fato, os apresenta como biologicamente jovens, abaixo dos 40 anos – mas não necessariamente o documento fornecido pelo cartório representa um atestado que são dotados de qualidades do politicamente “novo”.
Mas é o que temos.
Por isso, o desenrolar dos próximos passos, ao longo dos seis meses que antecedem as convenções partidárias nas quais são definitivamente consagrados os candidatos, o que mais se verá é a movimentação de arranjos entre os partidos e grupos políticos, todos atrás do maior tempo de propaganda eleitoral, dos melhores nacos dos fundos de financiamento de campanhas e das mais amplas possibilidades de conquistar cabos eleitorais no maior número possível de municípios.
Apesar dos discursos em sentido contrário, nos quais todos tentam dar sentido programático e doutrinário às alianças que arquitetam, de modo geral elas não conseguem se desvincular do caráter fisiológico e oportunista dos envolvidos nos estratagemas.
Exemplo disso foi o “namoro” que por 11 meses tentou aproximar o candidato do PDT, Osmar Dias, do grupo adversário liderado pelo governador Beto Richa, do PSDB. A “isca” lançada era filiar Osmar ao PSB para colocá-lo como membro do mesmo grupo político do governador. Ele passaria a contar com mais tempo de propaganda na TV, além de se beneficiar do poder da máquina e de estrutura de campanha – coisas que o minúsculo PDT paranaense não oferece. As vantagens seriam concedidas visando a evitar uma eventual oposição que pudesse pôr em xeque o projeto de Richa de conquistar uma cadeira no Senado. Isto é, todos os candidatos a governador – Osmar, Ratinho Jr. e Cida Borghetti – seriam situacionistas.
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Assim, porém, que murchou esta tentativa de trazer Osmar Dias para a situação, apresentou-se para cobrir o vácuo o senador Roberto Requião, do PMDB, que chegou a anunciar uma aliança, bem depressa abortada em razão da má repercussão que causou entre os antigos aliados de Osmar – que logo sacou a máxima de que é melhor ficar só do que mal acompanhado. Nos dois casos.
Sabe-se lá como Osmar Dias vai se virar, já que anunciou sua decisão de permanecer no PDT e de nem mesmo se filiar ao Podemos, partido pelo qual seu irmão, o senador Alvaro Dias, faz campanha para a presidência da República.
O que se sabe é que são hoje cada vez mais visíveis os sinais de que para Beto Richa e seu grupo a melhor alternativa é abraçar a candidatura de Cida Borghetti, sem desprezar, porém, a popularidade de Ratinho Jr.
É impossível, todavia, desconhecer que, com Cida Borghetti no governo durante os seis meses que antecedem a eleição, com a caneta na mão direita e o marido Ricardo Barros na esquerda, é melhor não contrariar. Ou, mais prudente ainda, o melhor é fazer uma aliança por mais branca que possa parecer.
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Ratinho Jr. continuará na sua, percorrendo célere os municípios, de preferência os menores que mais agrados receberam quando de sua gestão à frente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Vai continuar pregando que ele é o “novo”, o homem certo para colocar o Paraná no rumo da inovação – embora, até agora, não tenha dado pistas sobre como fazer isso.
Aos 36 anos de idade, Cesar Silvestri Filho, desde sua Guarapuava e dentro de um partido, o PPS, que tem até agora se colocado à margem dos arranjos, busca se apresentar como a grande e até agora única novidade da campanha que se avizinha. Mostra projetos diferentes que tem implantado no município e defende ideias mais definidas e não encontradas com a mesma intensidade e clareza no discurso de outros candidatos, como, por exemplo, a necessidade de o estado passar por uma profunda reforma administrativa, que proporcione enxugamento drástico da máquina e dos gastos. Se este programa será convincente para a massa de eleitores, nem ele sabe.
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